Saiba porque vai odiar viajar este verão

CNN , Chris Isidore
5 jun 2022, 19:00
Avião

Voos cancelados, preços dos bilhetes em alta, falta de carros para alugar, preços recorde dos combustíveis e um aumento das tarifas hoteleiras. Bem-vindo ao verão do inferno das viagens.

As companhias aéreas afirmam estar preparadas para evitar os problemas nos serviços que afetaram grande parte do setor no ano passado. Mas, entre sexta e segunda-feira, as companhias aéreas dos EUA cancelaram 2653 voos, quase 3% dos seus horários coletivos, segundo o serviço de rastreamento FlightAware. É um número superior ao total dos cancelamentos dos três anos anteriores, no mesmo fim de semana de feriado.

Em 2019, no ano anterior à pandemia, as companhias aéreas americanas cancelaram apenas 1,2% dos voos programados, apesar de terem mais 6600 voos agendados.

Os especialistas dizem que os passageiros têm razão em estar nervosos quando pensam que vão ver mais do mesmo durante o resto do verão.

“Não é um bom presságio para a época das viagens de verão, pois esperamos uma repetição disto nos meses de verão, à medida que mais pessoas vão viajar de avião”, disse Helane Becker, analista de companhias aéreas da Cowen, numa nota aos clientes na terça-feira. “Esta foi uma oportunidade para as companhias aéreas mostrarem que os atrasos do verão passado não se repetiriam neste verão e, no entanto, isso não aconteceu.”

As companhias aéreas têm significativamente menos funcionários, especialmente pilotos, do que antes da pandemia. Receberam 54 mil milhões de dólares de ajudas dos contribuintes, durante o pico da crise sanitária, para evitar os despedimentos involuntários, mas a maioria das companhias ofereceu planos de saída e de reforma antecipada para cortar nos funcionários e poupar dinheiro, quando o tráfego aéreo estava quase parado. No entanto, as certificações demoram anos para os pilotos e outro pessoal do setor.

Assim, as companhias aéreas operam com pouca margem para erros quando são afetadas pelo mau tempo, por problemas de controlo de tráfego aéreo ou por funcionários que metem baixa, que foi o que, dizem, aconteceu no fim de semana passado.

“Mais do que em qualquer outro momento da nossa história, os vários fatores que atualmente afetam as nossas operações – o clima e o controlo de tráfego aéreo, os recursos humanos, o aumento de casos de covid que contribui para ausências inesperadas acima do planeado em alguns grupos de trabalho - estão a resultar numa operação que não vai ao encontro dos padrões que a Delta estabeleceu para o setor nos últimos anos”, disse a diretora de serviço ao cliente da Delta, Allison Ausband, numa publicação online.

Mas os críticos dizem que os administradores das companhias não deviam ter sido apanhados de surpresa: eles sabiam que não tinham margem de erro. Após problemas nos serviços ao longo de 2021, mesmo durante a época festiva do final do ano, as companhias aéreas deviam ter antecipado estes problemas, disse o capitão Dennis Tajer, porta-voz da Allied Pilots Association, o sindicato de pilotos da American Airlines.

“Quando testamos sob pressão o modelo operativo da companhia aérea, vemos os mesmos resultados”, disse Tajer. Com os voos já cheios, “um voo que é cancelado não causa apenas um efeito de cascata, mas também uma onda de problemas". "É mais um déjà vu”, acrescentou Tajer.

Com os aviões mais cheios do que nunca, as companhias aéreas podem demorar mais para encontrar outros lugares para os passageiros de voos cancelados, disse Tajer. Os centros de atendimento também têm poucos funcionários e estão sobrecarregados pela procura, especialmente quando as coisas correm mal, como aconteceu naquele fim de semana.

“Podemos esperar mais horas ao telefone para remarcar um voo do que o tempo do voo em si”, disse ele.

A falta de pessoal também significa bilhetes mais caros

A escassez de pessoal significa que as companhias aéreas dos EUA ainda não podem oferecer todos os voos necessários para atender à procura. A capacidade de voos domésticos nos EUA em junho, julho e agosto deste ano, está 5% abaixo do que nos mesmos meses de 2019, segundo a Cirium, uma empresa de análise de aviação.

Mas os passageiros, especialmente os turistas, estão ansiosos por voltar a viajar neste verão. Várias companhias aéreas relataram números recordes de clientes que, antecipadamente, reservaram voos para o verão.

“Há um desequilíbrio entre a oferta e a procura”, disse Scott Keyes, fundador do Scott's Cheap Flight, um site de reservas de viagens. “As esperanças de conseguir um voo barato este verão são quase nulas.”

Essa conjugação de uma procura recorde e de uma oferta limitada de lugares significa bilhetes muito mais caros. O Índice de Preços ao Consumidor, a leitura da inflação do governo, mostra que os bilhetes de avião, em abril, subiram 33% em relação ao ano anterior e 10,6% em relação a abril de 2019.

A situação é pior para quem viaja por lazer do que os números sugerem, pois as viagens de negócios e as viagens internacionais ainda não voltaram aos níveis pré-pandemia. Como esses passageiros pagam bilhetes mais caros do que quem viaja dentro do país e está mais atento aos preços, ir de férias é agora muito mais caro do que costumava ser.

E não são apenas os bilhetes de avião que estão mais caros.

A escassez de veículos disponíveis fez disparar em 70% os preços do aluguer de carros, em relação a abril de 2019. Hotéis e outros alojamentos aumentaram 20% em abril, em relação ao ano anterior, e 10,6% em relação a abril de 2019. É provável que estes aumentos acelerem ainda mais durante os movimentados meses do verão.

E, é claro, os preços da gasolina estão num máximo recorde, o que pode levar mais viajantes a andar de avião do que de carro, em algumas viagens.

Os especialistas acreditam que os preços começarão a cair no outono - mas não antes disso.

"Julgo que o enorme aumento na procura deve estagnar depois do verão”, disse Hayley Berg, economista-chefe da Hopper, outro site de reservas de viagens. “Isso e a normal queda na procura que vemos em setembro e outubro deverão dar origens a bilhetes mais baratos.”

Mas ela diz que é boa ideia reservar as viagens para as festas do final do ano, se já tem planos. A mesma dinâmica de muita procura e pouca oferta deve repetir-se nessa altura.

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