As velas perfumadas fazem-nos mal? Isto é o que a ciência diz

CNN , Kristen Rogers
28 dez 2024, 16:00
Velas

As revelas representam uma ameaça à nossa saúde? Isso depende de vários fatores, dizem os especialistas.

Se adora velas, provavelmente já viu algumas marcas oferecerem versões de cera de soja ou de cera de abelha como alternativas naturais à cera tradicional. Contudo, as velas ditas convencionais são mesmo más para a nossa saúde? E se forem, quão melhores podem ser as opções vendidas como “mais saudáveis” ou “não tóxicas”?

As preocupações com a segurança da razão assentam nas reações químicas que acontecem enquanto são queimadas, bem como nas fragâncias e corantes artificiais que contribuem para os diferentes aromas que podem levar-nos a adorar uma vela.

As velas que mais dão origem a preocupações são as feitas de parafina, um subproduto barato obtido sobretudo a partir da refinação do petróleo. A parafina é a cera de vela mais usada em todo o mundo, segundo a National Candle Association, a principal associação empresarial que representa os fabricantes de velas dos Estados Unidos da América e os seus fornecedores.

Contudo, existem poucos estudos sobre as emissões das velas e os seus potenciais efeitos na saúde humana. Nos estudos existentes, as conclusões surgem em sentidos opostos.

Não há uma conclusão clara sobre se as velas de parafina prejudicam ou não a saúde, diz a pneumologista Sobia Farooq, professora assistente no Lerner College of Medicine da Cleveland Clinic.

Ainda assim, os ricos podem depender de vários fatores, incluindo o tipo e a qualidade da vela, com que frequência e por quanto tempo ela é queimada, a ventilação no local onde está a ser queimada, o nosso estado de saúde, entre outros.

Neste artigo, os especialistas explicam a ciência por detrás das emissões potencialmente prejudiciais das velas, as suas preocupações sobre a falta de regulamentação, bem como dicas para tomar a melhor decisão na hora de escolher uma vela.

O que a ciência revela sobre as velas

Quando queima uma vela de parafina, ela libera compostos orgânicos voláteis [COV] – gases que, facilmente, se vaporizam no ar a uma temperatura ambiente, diz Ariful Haque, médico e investigador do Yan’an Hospital, afiliado da Kunming Medical University, na China, por email.

Estes compostos são, geralmente, emitidos por tintas, produtos de limpeza, cosméticos, purificadores de ar, escapes de carros, aparelhos de queima de combustível, como fogões a gás, entre outros, segundo a American Lung Association, dedicada ao estudo do pulmão e das doenças respiratórias a ele associadas. Alguns COV são, por si só, prejudiciais. Outros podem fazer reação com outros gases, para formar emissões poluentes.

Um dos COV que é frequentemente emitido pelas velas é o tolueno, um líquido vaporizado claro e incolor, que tem um cheiro característico e que acontece naturalmente no petróleo bruto.

O tolueno está registado como sendo uma toxina com limites de exposição, estabelecidos por algumas agências reguladoras, como a US Environmental Protection Agency [agência de proteção ambiental], os US Centers for Disease Control and Prevention [centros de controlo e prevenção de doenças] ou a Occupational Safety and Health Administration [administração de segurança e saúde ocupacional]. Isto porque é uma neurotoxina associada a tonturas, dores de cabeça ou efeitos mais graves perante exposições prolongadas, refere Haque.

O benzeno, um conhecido cancerígeno, é outro COV libertado pelas velas de parafina, junta Haque. A exposição prolongada a este químico tem sido associada a perturbações no sangue, como a leucemia. Quando inalado, o benzeno também pode irritar o sistema respiratório.

As velas de parafina também emitem hidrocarbonetos aromáticos policlínicos, que contêm benzeno e formaldeído, outro cancerígeno conhecido para os humanos.

“Um grande número de estudos avaliou as emissões de velas em ambientes controlados, bem como em casas, e mostrou que queimar velas contribui para a má qualidade do ar e aumenta o risco de exposição, por inalação, a produtos químicos preocupantes”, refere Sarah Evans, professora assistente de medicina ambiental e ciência climática na Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova Iorque, por email.

Algumas evidências sugerem também que as velas podem emitir toxinas mesmo quando estão apagadas, segundo um estudo de abril de 2015, que simulou o seu uso em ambientes fechados.

As concentrações de COV no ar encontradas em alguns estudos sobre velas foram insignificantes quando comparadas com níveis que no passado eram considerados inseguros. No entanto, outras investigações sugerem o contrário. Num estudo de abril de 2015, a concentração de formaldeído emitida por uma vela acesa com aroma de moranga foi de 2.098 partes por mil milhões, o que excede em muito o intervalo de 0 a 400 partes por mil milhões que várias fontes consideram aceitáveis. Uma vela acesa com aroma a kiwi e melão teve uma concentração total de emissões de 12.742 partes por mil milhões.

Atualmente, as velas feitas com cera de soja, cera de abelha ou estearina [óleo de coco ou gorduras animais] são muitas vezes consideradas mais saudáveis. Ainda assim, qualquer coisa que seja queima acaba por emitir partículas ou produtos químicos nocivos, avisa Evans. Por isso, essas velas também libertam COV no ar. Esta é a ressalva: a cera de parafina é, geralmente, mais poluente, segundo vários estudos.

O risco de emissões tóxicas é maior quando as velas são perfumadas ou tingidas, o que representa outro motivo pelo qual as velas sem parafina não estão automaticamente isentas de efeitos negativos. Tal acontece porque as fragâncias artificiais também possuem COV, incluindo ftalatos, que têm sido associados a problemas de comportamento e aprendizagem, a obesidade, a um desenvolvimento prejudicial do sistema reprodutivo, entre outros, aponta Evans. A vela sem perfume no estudo de 2015 também causou concentrações preocupantes de toxinas, mas numa quantidade menor quando comparado com as opções perfumadas.

A National Candle Association afirma que as velas são “seguras para uso doméstico”, segundo a posição assumida em comunicado por um porta-voz.

A posição da associação assenta num estudo de outubro de 2021, que consistiu na queima de 24 velas de parafina e de cera de soja, perfumadas ou não. No entanto, essa investigação resultou de um estudo conjunto entre a National Candle Association e as suas congéneres na Europa e na América Latina. Nos associados da National Candle Association encontram-se algumas das marcas de velas convencionais mais populares, bem como uma das maiores empresas petrolíferas do mundo. A associação também é liderada por pessoas empregadas em marcas de velas convencionais com grande relevância.

Além disso, há pouca regulamentação sobre velas, refere Evans. Na sua página oficial, a National Candle Association afirma que os seus membros aderem aos padrões de ASTM International, antiga American Society for Testing and Materials, responsável pelo teste de produtos. Contudo, “os padrões de ASTM dizem respeito à segurança contra incêndios e às próprias embalagens, não à composição das velas”, contrapõe Evans. “Os padrões de ASTM são voluntários e não são fiscalizados, os produtos não são verificados quanto à sua conformidade”.

Nos Estados Unidos da América não existem regulamentações que exijam a rotulagem completa do conteúdo das velas, nem testes por terceiros para verificar as alegações feitas pelos fabricantes, acrescenta a especialista.

Essa ausência de supervisão é o motivo pelo qual as empresas podem rotular velas como “à base de soja”, mesmo que uma pequena percentagem da cera utilizada seja de seja, dependendo da região e dos padrões de rotulagem, aponta Haque.

Formas de perfumar a sua casa com mais segurança

Alguns dos produtos químicos potencialmente emitidos pelas velas deixam o nosso corpo rapidamente, enquanto outros podem acumular-se ao longo do tempo, refere Evans. Poucos estudos examinaram os efeitos diretos da queima de velas na saúde humana. No entanto, segundo Evans, “podemos extrapolar com base naquilo que sabemos sobre os efeitos adversos na nossa saúde, noutros contextos, desses produtos da combustão”.

Tomando em consideração as evidências, há indícios suficientes para sugerir que a queima de velas em casa pode ser prejudicial à nossa saúde e que pode valer a pena eliminá-las da longa lista de poluentes aos quais estamos expostos diariamente, refere Evans.

As pessoas mais vulneráveis, sobretudo, devem considerar esta orientação. Nesse grupo incluem-se pessoas com problemas respiratórios, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crónica, aponta Farooq.

Tendo todos estes elementos em consideração, Evans não queima velas e desencoraja toda a gente a fazê-lo. Farooq, a pneumologista, por sua vez, usa velas. Tem é cuidado com as velas que compra e onde as queima, justifica.

O conselho de Evans aplica-se inclusive a velas perfumadas com óleos essenciais: há quem considere que estes produtos são inofensivos, mas isso nem sempre é verdade, já que queimá-los pode alterar a sua composição química, indica Haque.

“Alguns estudos descobriram que a difusão de óleos essenciais causa problemas respiratórios e interfere na memória e na tomada de decisões”, insiste Evans. “Há óleos que são tóxicos para crianças e animais de estimação. Também pode ser difícil verificar a pureza dos produtos de óleo essencial, que podem assentar numa mistura de produtos químicos nocivos. Assim como as velas, os óleos essenciais não são regulamentados ou testados para garantir que estão livres de contaminantes”.

Se quiser continuar a usar velas, os especialistas têm algumas dicas para minimizar os potenciais riscos para a nossa saúde:

  • Escolha velas rotuladas como sendo feitas com 100% de cera de soja, cera de abelha ou cera de estearina.
  • Certifique-se de que o pavio seja de algodão, madeira ou sintético e que não tenha núcleos feitos de metais, como chumbo ou zinco. Os pavios de chumbo foram banidos em alguns países, incluindo os Estados Unidos da América, a Austrália e a Dinamarca.
  • Se não consegue resistir a velas perfumadas, procure as que têm com óleos essenciais ou rotuladas como livres de ftalatos.
  • Evite velas tingidas.
  • Mantenha as tampas nas velas quando não estiver a usá-las.
  • Visite as páginas dos fabricantes ou entre em contato com as empresas para saber mais sobre a respetiva composição das velas. Alguns componentes, como fragrâncias, são considerados segredos comerciais, por isso os fabricantes podem não divulgar os produtos químicos de forma individual, diz Evans.
  • Queime as velas numa área bem ventilada, para reduzir a poluição do ar interno por fuligem, COV ou fumo. Mantenha o local ventilado após apagar as velas. O ambiente também deve ser espaçoso — uma sala de estar é melhor do que uma casa de banho.
  • Evite velas de baixa qualidade — geralmente identificadas pelo preço baixo —, uma vez que podem usar ceras ou fragrâncias convencionais.
  • Apague velas que emitam fumo preto intenso. Pode também ajudar a prevenir esse tipo de fumo, recorrendo a um aparador de pavio ou a uma tesura, para manter os pavios aparados a 6 milímetros.
  • Ao queimar velas perfumadas, faça-o em pequenas doses, para evitar dores de cabeça, irritação do sistema respiratório ou dos olhos.
  • Não queime velas perto de crianças, pessoas grávidas ou com condições respiratórias.

 “É importante otimizar a qualidade do ar que respiramos dentro de casa, que é onde passamos a maior parte do nosso tempo”, conclui Evans.

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