Varíola dos macacos: “Quem tem lesões na pele deve evitar ter contactos físicos e relações sexuais”. O alerta do serviço que detetou muitos dos casos

18 mai 2022, 22:10
Varíola (Getty Images)

Luis Mendão, responsável dos centros que identificaram vários dos infetados com este vírus, lembra que é a primeira vez que há um surto com foco na comunidade gay. Mas diz que ainda não é certo que a transmissão seja por via sexual

"Acredito que nos próximos dias serão detetados novos casos da varíola dos macacos em Portugal e noutros países da Europa" diz Luis Mendão, responsável nos serviços da IPSS, o Grupo de Ativista em Tratamento (GAT), que dá apoio na saúde sexual aos grupo mais vulneráveis, como os doentes com Sida, e onde foram detetados muitos dos casos já confirmados em Portugal.

Ao todo, há neste momento já 14 confirmados pelo  Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e outros ainda em averiguação.  

As autoridades de saúde ainda estão a tentar perceber o que se está a passar, uma vez que os doentes são todos do sexo masculino e, pelo menos a maioria, homossexuais, confirma Luís Mendão. "Está a investigar-se este cenário pois é a primeira vez que há um surto reportado em que o grupo principal atingido são gays”, diz, notando ser importante descobrir a forma como foi transmitida.“Tem de se perceber se foi só contacto físico ou através de relações sexuais”, acrescenta. 

Enquanto isso, o responsável do GAT avisa ser importante que aqueles que se movimentam nos circuitos de maior risco tenham nos próximos tempos mais atenção. “Quem tem lesões na pele deve evitar ter contactos físicos e relações sexuais”, aconselha, sublinhando que até os abraços e beijinhos podem ser perigosos. "E se tiveram lesões devem ir ao médico", avisa Luís Mendão  - que foi um dos elementos presentes esta quarta-feira na reunião da Direção-geral da Saúde sobre o assunto .

Todos os casos suspeitos e confirmados são da região de Lisboa e Vale do Tejo e o doente mais velho tem 44 anos.

Até agora, na descrição da doença, não era comum a transmissão ser por via sexual. ”Nos países, em especial África, em que havia casos reportados, os dados relatavam  uma transmissão por via oral pelas gotículas, por via de contacto de pele ou por contactos com animais”, diz Luis Mendão, explicando que por isso “a doença ainda não é assumida como infeção de transmissão sexual”.

Segundo o responsável do GAT, tudo indica que este surto do vírus que provoca a varíola dos macacos tenha “entrado no país e começado a transmitir-se mais rapidamente no circuito da comunidade gay”. No entanto, avisa, a doença “não é exclusiva dos homossexuais”, tendo havido surtos noutros países africanos que atingiram todas as pessoas, desde crianças a mulheres. “E nestes casos nunca foi de transmissão sexual”, acrescenta.

“Agora pode, por exemplo, ter sido um homossexual que foi infetado e que depois transmitiu no circuito nas suas relações sociais”, nota, explicando que até podem existir casos fora desta comunidade, mas não se saber, pois muitas pessoas desvalorizam os sinais e não procuram apoio. “Já os homossexuais vão regularmente fazer check up aos nossos serviços e daí termos encontrados os casos”. "Mas é preciso perceber tudo isto, conclui".

Novos casos detetados 

Segundo a Direção-Geral da Saúde, em Portugal há  20 casos identificados e destes 14 já confirmados. No entanto, durante a tarde desta quarta-feira foram detetados pelos serviços do GAT, pelo menos, mais dois casos suspeitos de varíola dos macacos  que se juntam, assim, aqueles 20.

“Chegaram-nos mais dois casos, um no centro de Intendente e outro no centro do bairro Alto “, adiantou à CNN Portugal Luís Mendão, diretor para as políticas de saúde daquela IPSS.

Aliás, foi através desta associação que se detetaram muitos dos 20 casos, incluindo os três dos cinco inicialmente confirmados. Neste momento, está a investigar-se se algum destes 20 foi o primeiro caso em Portugal, havendo indícios de que um deles terá começado com sintomas ainda em abril. No entanto, as autoridades de saúde estão a tentar perceber se existem casos não conhecidos.

Apesar de tudo, Luís Mendão garante que não “há razão para alarme”: “Esta doença, pelo menos até agora, é descrita como pouco transmissível e é autolimitada, ou seja, cura-se sem tratamento”.

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