O seu filho está com varicela? Podemos ter varicela duas vezes? Estas e outras respostas para acabar com as dúvidas

4 mar 2023, 18:00
Criança com varicela (BSIP/Universal Images Group via Getty Images)

É dos vírus mais contagiosos na infância, mas ninguém está livre de ser alvo. Os adultos devem evitar o contágio e as grávidas, sempre que possível, devem isolar-se. Tudo o que precisa de saber sobre a varicela

1. O que é a varicela?

A varicela é uma doença infecciosa, altamente contagiosa, mas limitada, causada pelo vírus da varicela-zóster, que pertence à família Herpesviridae. Trata-se de um vírus de DNA de cadeia dupla. Apesar de não haver dados oficiais, estima-se que a varicela “atinja 415 casos por 100.000 pessoas/ano, sobretudo nas crianças, com 5.194 casos por 100.000 até aos quatro anos de idade e 2.132 por 100.000 em crianças entre os cinco e os nove anos”, de acordo com o site Metis, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

2. Como se manifesta?

A varicela “é caracterizada por bolhas ou borbulhas que provocam comichão intensa, podendo afetar toda a pele”, lê-se no site do SNS 24. Mas antes das bolhas, que contêm o agente contagioso, surgem no corpo “pequenas manchas vermelhas (máculas) que evoluem para lesões sólidas da pele, em horas, seguindo-se, durante três a quatro dias, a formação de vesículas (pequenas bolhas) que progridem para a formação de crostas”, continua o site. 

3. Que outros sintomas podem ocorrer?

Para além da erupção cutânea, que começa no tronco e se espalha para as extremidades e que acaba por ser o sinal mais visível da doença, esta causa também febre ligeira, dor de cabeça, mal-estar e falta de apetite. Nos adultos, os sintomas podem ser mais intensos.

4. Como se transmite?

A transmissão dá-se por “gotículas respiratórias e através do contato direto com as bolhas”, diz Hugo Rodrigues, médico pediatra no hospital de Viana do Castelo e docente na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto e na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho. 

5. Qual o período de incubação?

Pode ir até 21 dias, sendo a média 14 dias.

6. E durante quanto tempo é contagiosa?

Este é um dos “grandes problemas” da varicela, porque “o risco de contágio começa dois dias antes das borbulhas, quando as borbulhas aparecem a pessoa já está a contagiar”. O vírus continua transmissível até que se formem as crostas na pele, fase em que o líquido das borbulhas (e que é contagioso) desapareceu.

7. Em que época do ano é mais comum?

“A varicela surge por surtos”, indica Mariana Capela, pediatra no Hospital Lusíadas. Mas, apesar de poder ocorrer em qualquer altura do ano, é “no inverno e na primavera” que se diagnosticam mais casos. O pediatra Hugo Rodrigues, autor da página Pediatra Para Todos, diz que “todos os anos temos vários picos de varicela”, sobretudo nesta altura, mas nota que “está a aparecer mais prolongada no tempo”, mas nada de “anormal”.

8. Juntar as crianças para “apanharem” varicela é uma boa ideia?

Nem por isso. Mariana Capela diz que “não se deve juntar as crianças” na esperança que o ‘assunto fique arrumado’. “É melhor apanhar [a doença] em pequenino do que em adulto, é aquela doença que não nos importamos que os miúdos apanhem na infância, mas, por poder haver complicações, não é suposto juntar todas as crianças. Aliás, é uma doença de evicção escolar obrigatória. E nos casos de contágios os segundos casos podem ter mais gravidade”, adianta a médica.

9. É possível ter varicela mais do que uma vez?

É uma questão controversa. A pediatra Mariana Capela defende que “não, em princípio não” e também o pediatra Hugo Rodrigues considera que apenas se tem varicela uma vez e que se há dois diagnósticos é provável que um esteja “errado”. “É muito frequente fazer um diagnóstico de varicela errado, pode ser um exantema vírico, como a doença de mãos, pés e boca”, aponta, por exemplo, explicando que há outras infeções que podem “imitar” a aparência da varicela. 

Da mesma opinião é o virologista Pedro Simas, que diz que o “herpes vírus [que está na origem da varicela], quando infeta as pessoas, não é eliminado, a infeção fica para o resto da vida”. Para o especialista, a existência de diagnósticos repetidos deve-se ao facto de haver “cinco infeções virais com um quadro clínico idêntico à varicela”.

Também o virologista Paulo Paixão diz que “não se pode dizer que é impossível” ter varicela duas vezes, mas considera que "é muito raro”. “O que acontece algumas das vezes é que a varicela é um diagnóstico muito fácil de fazer, mas há outros vírus, como o enterovírus, que parecem-se muito com a varicela. Ou seja, alguns casos que se entendem como varicela não são varicela.”

Os casos raros em que uma pessoa pode ter duas vezes varicela também foram identificados pela Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e pelo Serviço Nacional de Saúde britânico. O pediatra Hugo Tavares, do Hospital Lusíadas Porto, garante que já teve “casos repetidos” de varicela, mas adianta que “não há uma explicação". "Sabemos que o grosso das pessoas tem uma vez na vida e ficam imunizadas.”

A sociedade de pediatria do Canadá também admite a existência de “casos raros”. “Na maioria dos casos, só se pode ter varicela uma vez. A isso chama-se imunidade vitalícia. Mas, em casos raros, uma pessoa pode ter novamente, especialmente se for muito jovem quando teve pela primeira vez”, argumenta a Canadian Pediatric Society. Embora a ciência não especifique quão nova pode ser a pessoa aquando da primeira infeção, alguns pediatras consideram que uma segunda infeção pode ocorrer se a primeira tiver sido registada até um ano de idade. 

10. A varicela está relacionada com a zona?

Sim. “O vírus da varicela fica latente no organismo e pode voltar a manifestar-se, mas não sob a forma de varicela, mas sim zona”, esclarece a médica. Até hoje, ainda não se sabe o que desencadeia esta reativação do vírus. Sabe-se, porém, que, a partir do momento em que temos varicela, o vírus varicela-zoster fica para sempre no nosso organismo, ainda que de forma latente, isto é, como se estivesse “adormecido” ao longo dos anos.

11. A varicela pode trazer complicações?

“A varicela é, geralmente, uma doença benigna e na grande maioria dos casos não há complicações graves”, diz Mariana Capela. As complicações “mais comuns” são as cutâneas, sendo que, em alguns casos, podem “levar à necessidade de antibiótico”. A médica explica ainda que “o próprio vírus pode criar complicações”, mas sobretudo em crianças com imunossupressão. E a gravidade, continua, “é proporcional à idade, quanto mais velha é a criança ou o adulto, maior é o risco”, embora o recém-nascido seja também “altamente suscetível”.

Entre as complicações, a Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins lista as “infeções bacterianas secundárias, a pneumonia (infeções pulmonares), a encefalite (inflamação do cérebro), a ataxia cerebelar (coordenação muscular defeituosa), a mielite transversa (inflamação ao longo da medula espinhal) e a síndrome de Reye”.

12. Como se trata?

O repouso e a ingestão de líquidos são as recomendações mais básicas. Em alguns casos, pode ser necessário recorrer a um antivírico - o aciclovir - e a analgésicos, para controlar a dor de cabeça e a febre, por exemplo. “O prurido pode ser diminuído mediante o recurso a banhos de água morna e/ou pela utilização de loções à base de calamina sobre as áreas afetadas. No rosto há que ter o máximo cuidado para não haver contacto com os olhos”, aconselha a CUF no seu site.

13. É adulto e não sabe se teve varicela?

Ora, se suspeita que teve varicela, “só se fizermos testes sorológicos é que sabemos se era varicela ou não”, diz a médica. Se continua sem saber se teve ou não a doença ou tem a certeza que não a teve, então deve proteger-se, sobretudo se tiver crianças pequenas em casa, trabalhar com elas (em escolas ou infantários, por exemplo) ou tiver outra profissão de risco, como acontece com os profissionais de saúde. Nestes casos, a vacina é a recomendação mais comum, assim como para as mulheres em idade fértil que tencionam engravidar e nunca tiveram varicela e para adultos ou crianças que contactam habitualmente com pessoas com imunossupressão.

14. As grávidas devem ter cuidados?

Sim. Uma vez que a vacina da varicela contém o vírus vivo, esta forma de prevenção está altamente desaconselhada em grávidas. Assim sendo, resta a proteção pelas vias ‘convencionais’, o que, em alguns casos, pode implicar o isolamento, como é aconselhado, por exemplo, quando uma grávida tem um filho com varicela. O pediatra Hugo Rodrigues diz ainda que o uso de máscara e a lavagem recorrente das mãos são também práticas a ter em conta, assim como evitar a partilha de objetos.

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