196 câmaras e uma pessoa durante uma hora: guardas de Vale de Judeus "negam qualquer responsabilidade ou negligência"

10 set, 13:24
Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus (Lusa)

 

 

Guardas prisionais foram ouvidos numa auditoria interna

Pedro Proença, advogado do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Pedro Proença, revelou aos jornalistas que os dois guardas prisionais de Vale de Judeus ouvidos pelos inspectores dos Serviços de Auditoria Interna da Direção-Geral, esta terça-feira, "negam qualquer responsabilidade, negam qualquer negligência". Na altura da fuga estavam "196 câmaras em funcionamento e um guarda no CCTV durante um turno de uma hora".

Segundo o advogado, a investigação ainda está a decorrer e "não há trabalhadores dos serviços prisionais constituídos arguidos", sendo esta "uma fase de sindicância, de identificação de falhas".

"Os inspectores dos Serviços de Auditoria Interna da Direção-Geral, o que me informaram é que esta fase é uma fase de sindicância, é uma fase de identificação de falhas. Estamos numa fase muito preliminar do inquérito que está agora a iniciar-se. Não há trabalhadores dos Serviços Prisionais constituídos arguidos nem no plano disciplinar nem no plano criminal. Aliás, a Polícia Judiciária vai começar agora esta semana a ouvir algumas testemunhas no âmbito deste caso, e é muito prematuro para estarmos aqui a imputar responsabilidades. Aquilo que eu lhe posso dizer, basicamente, e da parte daquilo que são os elementos do corpo da Guarda Prisional, é que obviamente negam qualquer responsabilidade, negam qualquer negligência e mantêm o cumprimento estrito das suas obrigações profissionais".

Pedro Proença explicou ainda que, no momento da fuga, "na unidade de segurança só estava um guarda e só está escalado um de cada vez". 

"Para a sala de segurança, que é assim que se chama, a sala de CCTV, está escalada apenas um guarda. Portanto, o que houve foi uma rendição. Houve um guarda que saiu de serviço e, portanto, foi para as visitas, foi fazer a vigilância nas visitas e foi rendido por um colega, que era o colega que estava escalado à hora em que se deu a fuga. Portanto, a informação correta é que na unidade de segurança, a CCTV, só está escalado um guarda de cada vez".

Segundo o advogado, no momento da fuga, decorria a visita, onde "estavam quatro guardas permanentes, mais a equipa da Polícia Judiciária. Os outros guardas estão divididos pelos pavilhões e áreas de vigilância, menos na área de recreio, que é tida como uma área segura, é uma área interior, onde não há capacidade para fazer deslocar guardas prisionais".

Da parte da tarde serão ouvidos reclusos da mesma ala de onde fugiram os cinco criminosos, sendo que a PJ está a "tentar perceber se houve falhas humanas ou falhas físicas".

Para além destes dois guardas que foram "ouvidos como visados", outros guardas foram também ouvidos como testemunhas pela Polícia Judiciária. Os interrogatórios vão começar na quinta-feira.

Fuga planeada e sem lençóis

"Estaremos perante mercenários que terão sido contratados especificamente para esse efeito", adiantou ainda Pedro Proença, referindo que os cúmplices da fuga que estavam no exterior terão pernoitado junto à prisão, numa "abrigo de perfil militar" onde foram encontradas latas de refrigerante. 

Esse abrigo - que ficava fora da área da videovigilância e "só foi localizado depois no batimento que foi feito aos arredores do estamento prisional" - tinha dimensão para "abrigar os três homens e a escada".

"A abordagem que esses indivíduos fazem ao muro do EP é uma abordagem tática. É uma abordagem em marcha tática, típica das Operações Especiais, o que significa que estes indivíduos têm preparação militar especial e que, provavelmente, ou integram unidades especiais de forças militares ou integraram", adianta o advogado.

No entanto, Pedro Proença garante que, ao contrário do que "tem sido especulado", "não houve lençol nenhum que tivesse sido colocado dos pavilhões para pátios interiores".

"O que aconteceu foi claramente uma fuga desde o pátio de recreio onde estes reclusos se encontravam quando saíram daquele local, não se encontravam no pavilhão como eu já ouvi dizer. E uma fuga que foi potencializada pelo facto de a essa hora, e como é costume infelizmente em todos os estabelecimentos prisionais, em função da escassez de recursos humanos em serviço nos estabelecimentos prisionais, à hora do recreio não há vigilância presencial nos pátios exteriores. E, como não há vigilância nos pátios exteriores, porque os guardas estão todos a ter funções de vigilância noutra área do estabelecimento prisional, nomeadamente na área das visitas, que é uma área muito sensível até porque nós sabemos que muitas das tentativas que há de introdução de objetos ilícitos dentro dos estabelecimentos prisionais é a partir das visitas, não há vigilância nos pátios exteriores. E foi a partir daí que estes indivíduos começaram a fuga", explicou o advogado.

Pedro Proença esclareceu ainda que "o primeiro inspetor da Polícia Judiciária chegou ao estabelecimento prisional de Vale dos Judeus vinte minutos depois da escada ter sido encontrada".

"O que vem, no fundo, retirar alguma verdade a quem está a dizer que os meios policiais só foram acionados cerca de duas horas depois de ter este ocorrido. Não. O primeiro inspector da Polícia Judiciária chegou ao local quinze, vinte minutos depois da escada ter sido encontrada. E a GNR chegou no imediato. E houve um alerta atempado e célere aos operacionais, aos órgãos de polícia criminal, que se deslocaram muito rapidamente para o local", garantiu.

Cinco reclusos fugiram no sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa.

A fuga foi registada pelos sistemas de videovigilância pelas 09:56, mas só foi detetada 40 minutos depois, quando os reclusos regressavam às suas celas.

Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.

Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.

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