Ninguém deve "adiar a 3.ª dose à espera da eventual vacina contra a Ómicron"

12 jan 2022, 18:00

A Pfizer anunciou que a vacina atualizada contra a Ómicron deve estar pronta em março. No entanto, os especialistas ouvidos pela CNN garantem que a melhor opção para combater a Ómicron é continuar a apostar na 3.ª dose e lembram que a nova versão pode demorar meses a chegar a Portugal

Apesar da farmacêutica norte-americana Pfizer ter anunciado, na segunda-feira, que a atualização da vacina contra a covid-19, para que seja ainda mais eficaz contra a variante Ómicron, estará disponível  em março, os especialistas garantem que não se deve perder tempo e garantem combater esta nova variante, responsável por 92,5% dos casos em Portugal, é continuar a apostar na 3.ª dose. A CNN Portugal, os peritos explicam o que se espera para os próximos tempos no que se refere à vacinação dos portugueses 

Devemos adiar a dose de reforço e esperar pela nova vacina atualizada contra a Ómicron ?

Segundo os especialistas, a resposta é não. Ninguém deve "adiar a dose de reforço em função da potencial vacina que possa vir a estar disponível especificamente dirigida à Ómicron", defende Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular.  Até porque, acrescenta, não se trata de uma espera de "semanas", mas sim de "meses" para ter acesso à nova vacina.

Além disso, nota ainda o investigador, tendo em conta que há a hipótese de uma proteção imediata com o reforço das vacinas atuais, esta não deve ser adiada para se "ficar à espera de uma vacina que pode demorar alguns meses e durante este período se ficar desprotegido".

O mesmo aviso chega de Luís Graça, imunologista e membro da comissão técnica de vacinação da direção-geral de Saúde (DGS). “Não se deve adiar de todo. Isso é uma mensagem que tem de ficar muito clara”.   

A dose de reforço das vacinas atuais protege contra a Ómicron?

"Aquilo que sabemos é que as doses de reforço com as vacinas existentes conferem uma proteção muito significativa, contra a doença grave e contra a infeção e que, por isso, o esforço deve ser o de alargar a proteção com as vacinas existentes", diz o imunologista Luís Graça. Segundo o especialista, “a proteção que se consegue com a dose de reforço perante a variante Ómicron está ao nível da proteção que se conseguia com as duas doses do esquema primário para as variantes que estavam em circulação nessa altura”. 

Carmo Gomes, epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS , confirma que a dose de reforço permite repor “a proteção contra infeção semelhante à Delta, subindo dos 20-30% para os 50-60%.  

Aliás, esta quarta-feira, a própria Agência Europeia do Medicamento anunciou que as vacinas contra a covid-19  que estão aprovadas na União Europeia (UE) dão um “elevado nível de proteção contra a variante Ómicron. De acordo com este organismo, que citou estudos e evidências recentes, essa proteção, contra doença grave e hospitalização, chega aos 70% após duas doses e aos 90% após a dose de reforço.  

“As últimas evidências, que incluem dados de eficácia no mundo real, sugerem que as pessoas que tiveram uma dose de reforço estão mais bem protegidas do que aquelas que apenas receberam" as duas doses ou apenas a dose única da Janssen, diz ainda a EMA

Mais de 3,4 milhões de portugueses já têm a vacinação completa com a dose de reforço contra o novo coronavírus.

O que tem de diferente esta nova vacina anunciada pela Pfizer?

De acordo com Miguel Prudêncio, quando estiver disponível, a vacina atualizada da Pfizer pode vir a servir para trazer "uma proteção mais dirigida à variante Ómicron, nomeadamente, anticorpos que tenham maior capacidade de reconhecer e neutralizar a variante Ómicron do que esta atualmente existente".

"O que os dados mostram é que a capacidade de neutralização da variante Ómicron com a vacina atualmente existente aumente significativamente com a dose de reforço. O que essa vacina podia trazer é uma proteção mais dirigida, por ventura, uma eficácia vacinal superior contra a variante Ómicron", acrescenta. 

Todos os portugueses vão ter de tomar mais tarde esta nova vacina atualizada contra a Ómicron?

Os especialistas são unânimes ao afirmar que não se sabe se será dada a todos os portugueses. "É muito cedo para poder prever se vai ser necessário utilizar essa vacina e em condições é que essa vacina vai ser utilizada", avisa Luís Graça, acrescentando: "Não se conhece a vacina neste momento, não se conhecem as condições em que a vacina vai ser útil e, sobretudo, não se conhecem as condições em que a vacina será útil para pessoas que já têm vacinação".

Por outro lado, e uma vez que a Ómicron é muito contagiosa, é natural que até que a vacina seja aprovada já grande parte da população tenha sido infetada. E esses recuperados da infeção pela nova variante provavelmente nem têm de ser imunizados com a nova vacina, nota Carmo Gomes, epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS, explicando que nada está decidido.

“No nosso país aquilo que vai ser muito importante é perceber qual é o benefício adicional, como deve ser adicionado essa vacina, numa situação de reforço que é a situação em que neste momento está a nossa vacinação”, refere Luís Graça, para quem a decisão sobre a vacinação tem sempre de ser baseada em dados. “Por essa razão não faz muito sentido estarmos a especular qual vai ser o cenário com o qual vamos ser confrontados daqui a vários meses - quando essas vacinas estarão disponíveis, se estiverem - porque isso é algo que tem de ser avaliado nessa altura. Os dados de farmacovigilância, os dados que permanentemente monitorizam a proteção que é conferida pelas vacinas nas diferentes franjas da população vão ser determinantes para o melhor uso das vacinas disponíveis e todos os reforços”, acrescenta.

Vai haver ou não uma quarta dose?

“Depois da população estar protegida com estas vacinas existentes, vai ser necessário verificar, através do processo de monitorização, de que forma é que esta proteção se vai manter ao longo do tempo”, frisa Luís Graça.

Aliás, segundo nota Carmo Gomes, neste momento “ainda não há em Portugal nenhuma quarta dose de vacina contra a covid-19 aprovada”, nem na União Europeia.

O importante, defendem os especialistas, é ir avaliando a situação.

A análise da imunidade da população portuguesa irá ser determinante para tomar decisões sobre se faz sentido a quarta dose. “Isso pode condicionar a necessidade de, no futuro, haver um novo reforço da vacina e desse reforço fazer mais sentido ser a determinados grupos populacionais ou não: pessoas com perturbações do sistema imunitário, pessoas mais idosas, pessoas com comorbilidades”, diz Luís Graça, acrescentando: “Não sabemos nada neste momento sobre essas vacinas adaptadas para a variante Ómicron, não sabemos se continuará a ser a variante Ómicron em circulação nessa altura ou não, e por essa razão é muito prematuro fazer previsões”.

“Se os dados o justificarem, se realmente a Ómicron continuar a ser a variante dominante e se realmente nós estivermos numa situação em que a Ómicron ainda constitui uma ameaça real, é de equacionar uma eventual - eu reforço o eventual - quarta dose com essa vacina adaptada”, conclui Miguel Prudêncio

Porque pode demorar meses a nova vacina?

A vacina está a ser desenvolvida pelos laboratórios Pfizer que anunciaram a sua conclusão em março, mas depois é preciso ser aprovada pela Agência Europeia do Medicamento. "Não foi autorizada nenhuma vacina desenvolvida para a Ómicron pela EMA", nota Carmo Gomes.

Por isso, sugere Luís Graça, "não é tempo para especulações, principalmente porque não se sabe quando é que esta vacina vai estar disponível".” A mensagem não diz que vão estar disponíveis em março. A linguagem é muito importante. O pedido entrará em março, de acordo com a Pfizer, a autorização não estará disponível em março seguramente. O processo de avaliação é um processo que vai demorar mais algum tempo”, diz Luis Graça. Miguel Prudêncio, por seu lado, recorda que até a própria “Pfizer falava em junho”.

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