Hospital diz-se pronto para manter o total funcionamento mesmo que comecem a ser entregues recusas à realização de mais horas extraordinárias. Estão prontas 50 camas para expandir o internamento
Depois dos grandes constrangimentos nos serviços de urgência no inverno do ano passado, o Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) garante que já tem definidas as escalas de urgência para o inverno deste ano e que tem preparado um plano de contingência de três fases para a mesma altura do ano, salvaguardando que possa haver clínicos que recusem fazer mais horas extra. Todo este planeamento aconteceu ainda durante o verão.
Em entrevista à CNN Portugal, a diretora clínica dos cuidados hospitalares da ULS São João, Elisabete Barbosa, explica que face à “situação particular” que se viveu no final do ano passado, “que foi a escusa às 150 horas, que afetou vários hospitais”, incluindo o CHUSJ, foi feita uma aposta na “antecipação” e na definição das escalas de urgência. “Isso está perfeitamente assegurado até dezembro”, diz-nos, vincando que as escalas salvaguardam a entrega de escusas à realização de mais trabalho extraordinário, o que ainda não aconteceu neste hospital, à exceção do serviço de ginecologia e obstetrícia. “Tirando a obstetrícia em que já houve essa manifestação, nos restantes serviços, até à data não tivemos profissionais a manifestar essa escusa”, diz, assegurando ainda que este ano estarão preparados até porque já existe a experiência do ano passado “para ultrapassar essa dificuldade”.
Em declarações ao TOP Story da CNN Portugal, Cristina Marujo, diretora do serviço de urgência do Hospital de São João, também garante que a unidade está preparada para dar resposta ao aumento do número de doentes que é esperado no inverno. Ainda assim, deixa o alerta: “Era importante que os doentes que nos procuram fossem aqueles que mais necessitam dos nossos cuidados, que são os mais graves”.
As escalas dos serviços de urgência são mesmo uma das prioridades traçadas pelo plano de inverno do Ministério da Saúde que em agosto começou a enviar o documento às várias unidades locais de saúde. Mas Elisabete Barbosa apressa-se a dizer que o bom funcionamento de um hospital numa época crítica como o inverno não se faz apenas à conta das escalas preenchidas. “Muitas vezes há necessidade de expandir os serviços de urgência, as câmaras de internamento, as câmaras de cuidados intensivos e por outro lado também assegurar os recursos humanos que permitem fazer a ativação desses espaços”, diz-nos, explicando que, por isso, foi também já criado um plano de contingência de três fases para os meses frios, perspetivando-se uma maior afluência aos serviços de urgência devido aos vírus respiratórios, longe de um cenário pandémico, mas ainda assim considerável para os recursos de muitos hospitais.
“O nosso plano de inverno tem três níveis. [Primeiro] Temos as escalas todas asseguradas para aquilo que é o nosso histórico dos últimos cinco anos. Depois, temos o nível de ativação, que é quando a procura é maior e, portanto, temos de expandir os internamentos, expandir as unidades de cuidados intensivos, mas conseguimos assegurar a produção eletiva. E depois temos um terceiro nível, em que já esgotamos a nossa capacidade e temos de importar ou restringir a nossa atividade programada”, como é o caso de consultas e cirurgias, explica a médica.
O plano de contingência tem ainda previsto o recurso “a camas desativadas” para os cuidados intensivos, “de forma a dar uma resposta em rede à procura”. No que diz respeito ao internamento, Elisabete Barbosa revela que há “50 camas se for preciso expandir” este serviço e que o hospital também tem “planeado, se for necessário, recorrer ao setor social, quer ao Hospital das Forças Armadas”, que sempre colaboram com o hospital e, portanto, “temos camas contratualizadas e que podemos aumentar caso seja necessário”.
A diretora clínica dos cuidados hospitalares da ULS São João vinca que planear o pleno funcionamento de um hospital numa época crítica como o inverno envolve todo um “trabalho de base”, e apressa-se nos exemplos: “assegurar os stocks de medicamentos, assegurar os EPIs [equipamentos de proteção individual], que, como sabemos, na pandemia foi um problema sério, assegurar a existência de testes antigénicos e moleculares que nos permitam dar o diagnóstico rápido para tirarmos os doentes do serviço de urgência e, portanto, definirmos para onde vão”.
“Também muito importante é ter sistemas de informação robustos que, no momento, nos deem informação sobre o contexto epidemiológico, quais são os vírus que andam em circulação, se há vigilância virológica, que sabemos que há estirpes mais violentas e que escapam à resposta epidemiológica, saber em tempo real quantas camas estão disponíveis. Sistemas informáticos robustos que nos permitem tomar as decisões mais acertadas. Isto não é só fazer escalas”, frisa a médica do São João.
Embora reconheça “dificuldades” com recursos humanos, que diz ser “transversal a todos os hospitais”, a diretora clínica acredita que “é pela antecipação e pelo planeamento atempado das situações que nós temos conseguido e dar resposta”.