Líderes da UE unidos nas palavras de apoio à Ucrânia, mas divididos nas sanções à Rússia

30 mai 2022, 04:17
Vladimir Putin e Viktor Orbán nos mundiais de judo de Budepeste, 28 de agosto de 2017 (fonte: AP Images)

A unidade que a UE mostrou após a invasão da Ucrânia está a "desmoronar-se novamente", lamenta o vice-chanceler alemão. A poucas horas de mais uma cimeira europeia, Viktor Orban, o melhor amigo de Putin nos 27, continua a bloquear um acordo sobre embargo ao petróleo russo

 

Os líderes dos 27 países da União Europeia reúnem-se hoje e amanhã, numa cimeira em que deveria ser apresentado o sexto pacote de sanções à Rússia, incluindo o muito discutido embargo progressivo às importações de petróleo daquele país. Mas tudo indica que não haverá acordo sobre essa medida, que continua a ser bloqueada pela Hungria, um dos países mais dependentes da energia russa, mas também um dos mais próximos politicamente de Vladimir Putin.

A agência Reuters teve acesso ao projeto de conclusões da cimeira, e escreve que "embora a UE seja generosa com o apoio verbal ao governo de Kiev, haverá pouco em termos de novas decisões sobre qualquer um dos principais tópicos".

A ideia de cortar, ainda que de forma gradual, com as importações de petróleo russo - privando Moscovo de uma das principais fontes de financiamento da sua máquina de guerra - está a ser discutida há um mês, mas a Hungria continua a opor-se frontalmente, alegando com a enorme dependência da sua economia em relação a estas importações. Também a Eslováquia e a República Checa têm levantado muitas objeções a este passo. 

A mais recente tentativa de alcançar um acordo nesta frente passa pela proposta, feita pela França, de excluir o oleoduto de Druzhba, essencial para a Hungria, do embargo petrolífero à Rússia. Essa possibilidade continuará a ser discutida, mas o ministro da Economia da Alemanha mostrava-se ontem pouco otimista quanto ao desfecho do braço-de-ferro com Viktor Orban, o principal amigo de Putin entre os 27.

Desta forma o embargo seria aplicado apenas às importações de petróleo transportado em navios, e não em oleodutos. Uma solução engenhosa que, no entanto, pode introduzir distorções e abrir precedentes que preocupam diversos observadores entrevistados pelo jornal Financial Times. 

"Muitos países têm salientado que este é um sector económico tão complicado, que temos de ter o cuidado de preservar a igualdade de condições", disse ao FT um diplomata europeu com conhecimento direto das conversações. "Os aspectos jurídicos precisam de ser afinados, por isso pode levar mais algum tempo", acrescentou a mesma fonte.

Esta manhã, ainda haverá conversações entre os diplomatas dos 27, na tentativa de encontrar um acordo antes da reunião dos chefes de Estado e de governo da UE.


 

Unidade da UE “a desmoronar-se novamente”

 

"Após o ataque da Rússia à Ucrânia, vimos o que pode acontecer quando a Europa está unida. Com vista à cimeira de amanhã [hoje], esperemos que esta continue assim. Mas já está a começar a desmoronar-se e a desmoronar-se novamente", disse Robert Habeck.

A medida mais concreta dos 27 será, provavelmente, o apoio político dos líderes a um pacote de 9 mil milhões de euros de empréstimos da UE, com uma pequena componente de subvenções para cobrir parte dos juros, de modo a que a Ucrânia possa manter o seu governo a funcionar e pagar salários durante cerca de dois meses. Mas mesmo isso, escreve a Reuters, só será completamente decidido mais tarde, depois da Comissão Europeia fazer uma proposta sobre a forma de financiar este pacote.

O projeto de conclusões da cimeira de hoje e amanhã também diz que os líderes da UE irão apoiar a criação de um fundo internacional para reconstruir a Ucrânia após a guerra. Mas também este ponto é vago e sem pormenores - uma das possibilidades para financiar esse fundo é fazer reverter para aí os bens confiscados a entidades russas, a governantes e outros responsáveis do país, bem como aos oligarcas russos ligados ao regime de Putin. Mas esse mecanismo levanta muitas dificuldades legais, e ainda está a ser estudado.

Por fim, há outras medidas sobre a mesa para reforçar as sanções à Rússia, como desligar o maior banco russo - o Sberbank - do sistema SWIFT. Também está a ser ponderado o alargamento da lista de pessoas cujos ativos serão congelados e que não podem entrar na UE. Mas a falta de acordo sobre o embargo petrolífero pode fazer derrapar todo o novo pacote de sanções.

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