Mykhailo Podolyak queixa-se da atribuição conjunta do prémio a entidades que lutam pelos direitos humanos na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, em tempos de guerra
Os ucranianos estão felizes por terem ganho o seu primeiro prémio Nobel desde a independência, mas confessam que é dolorosa a partilha das luzes da ribalta com laureados da Rússia e da Bielorrússia.
Mykhailo Podolyak, conselheiro do gabinete presidencial ucraniano, queixou-se de que o prémio conjunto impulsionou a narrativa do Kremlin sobre a guerra e as reivindicações de Putin sobre a unidade dos povos russo e ucraniano.
"Premiar três organizações de direitos humanos de três países não responde à questão da protecção da paz, mas promove abertamente a tese destrutiva sobre a mesma notória 'trindade dos povos eslavos' de que a propaganda russa fala constantemente na opinião pública global", disse Podolyak ao jornal POLITICO.
O comité norueguês do Prémio Nobel procurou enviar um sinal de que o conflito na Ucrânia tem de acabar, ao partilhar o prémio da paz entre ativistas da sociedade civil de três nações envolvidas numa guerra - o prémio foi partilhado entre o ativista pelos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski, o grupo de ativismo russo Memorial e o ucraniano Center for Civil Liberties.
Da perspectiva ucraniana, porém, deixa um amargo sabor que os activistas no seu país - numa trajectória política democrática muito diferente da de Moscovo e Minsk - ainda se encontram reunidos na esfera pós-soviética com ativistas que enfrentam os regimes de Vladimir Putin e de Alexander Lukashenko da Bielorrússia.
Mykhailo Podolyak, conselheiro do gabinete presidencial ucraniano, explicou ainda ao jornal que Moscovo procurou retratar os povos dos três países como querendo a paz, mas sendo impedido de alcançar uma trégua por países não eslavos. Também emitiu uma crítica de que, enquanto os ucranianos lutavam pela sobrevivência, grupos da sociedade civil na Rússia e na Bielorússia estavam em grande parte a evitar ações ativas contra a invasão.
"Esta é uma atitude extremamente insensível num momento em que russos estão a matar ucranianos com a ajuda de bielorussos", disse, por outro lado, Olga Rudenko, editora chefe do Kyiv Independent, e uma das favoritas ao prémio de paz de 2022.
Rudenko acrescentou que todos os candidatos mereciam o prémio e que os ucranianos não teriam qualquer problema se cada um deles recebesse o prémio individualmente. “O problema foi juntar os três num ano em que as nações que representam estão destroçadas por uma guerra provocada pelas ambições coloniais russas”, afirmou ao jornal POLITICO.