Ninguém sabe se o presidente russo vai aparecer na Turquia, mas o presidente ucraniano já disse que não se contenta com menos do que isso. Novo representante dos EUA na NATO diz que "reunião que pode acontecer na quinta-feira é a coisa mais encorajadora que tivemos nos últimos três anos desta guerra desnecessária" e avisa: "Tudo está em cima da mesa"
Estamos na véspera de um importante encontro informal de ministros da NATO na Turquia, estamos na 20.ª semana do ano de 2025, três anos e meio desde a invasão da Ucrânia em larga escala pela Rússia, e estas são as grandes dúvidas com que nos deparamos: vamos assistir às primeiras negociações diretas entre as partes já esta semana? E vai o presidente russo deslocar-se à Turquia?
Já é certo que o presidente dos EUA não vai desviar-se do seu promissor périplo por três dos países mais ricos do mundo - começou esta terça-feira na Arábia Saudita - para marcar presença no encontro dos aliados; será representado pelo seu secretário de Estado, Marco Rubio.
Dúvidas à parte, sabemos isto e sabemos mais coisas por ora. No sábado, os líderes da chamada coligação dos países dispostos, que inclui França, Alemanha, Reino Unido e Canadá, deslocaram-se a Kiev para um encontro a anteceder as reuniões desta semana na NATO. No final do encontro, fizeram um ultimato a Moscovo: ou aceitava implementar um cessar-fogo “incondicional e imediato” de pelo menos 30 dias, ou enfrentaria sanções acrescidas. A trégua deveria ter começado na segunda-feira, mas os ataques continuam desde então - e, até ver, não houve qualquer anúncio de sanções adicionais ao Kremlin.
Depois desse encontro, o enviado de Donald Trump à Ucrânia, Keith Kellogg, garantiu que a administração americana estava alinhada com a coligação de apoio a Kiev. Nem 24 horas depois, o presidente norte-americano alinhou, em vez disso, com a sugestão de Vladimir Putin de que os ucranianos aceitem negociações diretas antes de qualquer cessar-fogo. Desde então, apenas silêncio da parte de Trump - tal como da parte de Putin.
Numa primeira reação ao desafio lançado pelo líder russo, Volodymyr Zelensky prometeu deslocar-se a Istambul para se encontrar “pessoalmente” com Putin. E confrontado com o que classificou como o “silêncio estranho” de Putin, o presidente ucraniano dobrou a aposta, garantindo esta terça de manhã que não aceitará encontrar-se com qualquer representante do Kremlin que não o próprio presidente da Rússia.
“Penso que se trata de uma tentativa por parte da Ucrânia de quebrar o jogo de Putin de forçar Kiev a assinar acordos desfavoráveis à Ucrânia ou arrastar as negociações”, diz à CNN Oleg Ignatov, analista para a Rússia do International Crisis Group.
Para o Kremlin, nomeadamente para o porta-voz do Conselho da Federação Russa, Konstantin Kosachev, o convite de Zelensky para um mano a mano com Putin é “puro espetáculo” e uma “comédia” - uma tentativa do presidente ucraniano para culpar Moscovo pelo que o próprio Kosachev diz ser o “desinteresse” de Kiev em negociar realmente a paz.
Durante esta manhã, o prestigiado Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede em Washington, DC, indicou que os serviços de informação russos estão a aconselhar Putin a não se deslocar à Turquia, uma informação que não foi confirmada nem desmentida pelo Kremlin.
Até à publicação deste artigo, Putin permaneceu em silêncio e nenhum representante russo deu qualquer resposta oficial ao convite de Zelensky. Questionado sobre o assunto, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse apenas que o presidente russo fará o anúncio que achar que ceve fazer "assim que o considerar necessário".
Com Moscovo a insistir na narrativa de que o governo ucraniano é ilegítimo, aceitar o convite significaria reconhecer Zelensky enquanto presidente legítimo da Ucrânia. A par disso, há a questão do mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Putin em 2023, pelo crime de “deportação ilegal e transferência de crianças ucranianas das áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa”.
Em teoria, o líder russo poderia ser detido caso se deslocasse à Turquia, embora essa seja outra hipótese altamente improvável. E há ainda a questão do decreto presidencial que Zelensky assinou em 2022, que (também em teoria) o impede de negociar diretamente com Putin.
Acima de tudo, o que persiste por agora são grandes dúvidas, inclusivamente nos corredores do poder em Washington, DC, com a CNN a noticiar durante a tarde que a administração norte-americana “não sabe se Putin vai ou não” à Turquia.
Numa conferência de imprensa com jornalistas de todo o mundo esta tarde, o novo embaixador dos EUA na NATO disse que "a reunião que poderá acontecer na quinta-feira é a coisa mais encorajadora que tivemos nos últimos três anos desta guerra desnecessária" e reconheceu que "está tudo em cima da mesa".
"Provavelmente ninguém vai ficar satisfeito com qualquer acordo que as partes venham a alcançar, mas penso que todos concordamos que a paz é muito melhor do que a guerra", adiantou Matthew G. Whitaker. "O presidente Trump, desde a sua eleição e sobretudo desde a sua tomada de posse, foi o que mais se aproximou da paz e o que é necessário neste momento é que ambos os lados se reúnam para negociarem uma paz duradoura."
“Putin disse o que disse – [que] vai enviar representantes a Istambul”, ressalta Ignatov à CNN Portugal. “Não disse que ia encontrar-se com Zelensky. Eu confiaria apenas em fontes oficiais. A situação é dinâmica e a Rússia ainda não se pronunciou sobre o assunto.” E assim, uma grande pergunta paira no ar: com o arranque das reuniões já amanhã, vai Moscovo pronunciar-se entretanto?