opinião

Psicologia em tempo de guerra. Mulheres-de-paz

9 mar 2022, 15:52

"Psicologia em tempo de guerra", uma rubrica para ler no site da CNN Portugal

Ontem e Hoje é Dia da Mulher! Todo o meu pensamento, todas as minhas emoções e todas as minhas intenções estiveram concentradas numa homenagem às Mulheres. São todas elas, sem exceção, Mulheres-Guerreiras. Não me refiro unicamente às mulheres do exército, às esposas ou às viúvas de militares, mas a todas as mulheres, Mulheres-Civis, Mulheres-Coragem. Mulheres vítimas desta violência atroz imposta pela guerra na Ucrânia, provocada pela invasão Russa altamente condenável. Mulheres, em conjunto com as suas famílias e amigos, vítimas do massacre maior, da devastação, da ruína social e económica, da tristeza, das perdas, do luto provocados pela guerra. Mulheres vítimas de desalojamento e de desenraizamento, da limitação do futuro, da sede, da fome. Mulheres que dão à luz em bunkers, a quem lhes arrancaram abruptamente dos braços os seus companheiros, maridos, filhas e filhos. Mulheres e meninas, vítimas do risco de violência sexual, quantas vezes usada como arma durante e no pós-guerra, devastando o seu eu, as suas famílias e as suas comunidades. Mulheres, vítimas da privação de direitos humanos e da desigualdade de género.

Foram-no ao longo da História e são-no ainda Hoje. Foram-no e são-no hoje vítimas da Guerra, mas também promotoras da Paz. São afinal todas elas, sem exceção, Mulheres-de-Paz. Mulheres que tomam iniciativas, que estão por detrás e para além das linhas de combate, que assumem responsabilidades sociais, que cuidam e que se colocam ao serviço das famílias e das comunidades civis, providenciando apoio e assistência física e moral, trabalhando criativamente. Mulheres-que-geram-valor. Mulheres que cozem, que tecem, que cozinham. Mulheres que choram, que se permitem chorar as perdas. Mulheres que se mobilizam para condenar a guerra, enquanto força cultural ou política, incluindo movimentos feministas por todo o mundo (mesmo em território Russo).

No livro Sex & World Peace, editado em 2012, Valerie Hudson e os seus colegas apresentam indicadores robustos de que o melhor preditor de pacificidade de um Estado não é a sua riqueza ou o seu nível de democracia, mas antes o quão bem as suas mulheres são tratadas, tendo demonstrado uma correlação forte entre desigualdade de género e a ocorrência e reocorrência de conflito armado. Nas palavras de Hillary Clinton, a igualdade de género não é apenas uma questão moral, humanitária ou de justiça (embora também o seja efetivamente), mas também uma questão de Segurança e de manutenção da Paz, nacional e internacional.

Oxalá possam as sociedades machistas e patriarcais dar definitivamente lugar, e um lugar de destaque, ao reconhecimento do papel da Mulher na sociedade. Oxalá nos empenhemos fortemente na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 5 – Igualdade de Género e 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes, limitando o risco de retrocedermos décadas nas conquistas já alcançadas, lutando e assegurando uma efetiva paridade e participação da mulher nas tomadas de decisão e em cargos de liderança. Das lideranças políticas às lideranças no seio das suas comunidades, e a sua participação nos assuntos da Paz e da Segurança. Oxalá se reconheça que a paridade de género é essencial para a prevenção, mediação e resolução de conflitos, para a construção de processos de Paz sustentáveis, e para a recuperação e reconstrução social e económica no pós-crise e no pós-guerra. Oxalá esta consciência se torne coletiva e se cumpra uma agenda política, global e intencionalizada. As evidências da Psicologia são claras: na mudança de comportamentos de pessoas, grupos ou comunidades, e no desenho e desenvolvimento de políticas públicas para a prevenção de conflitos, para a eliminação da violência, para a promoção ativa de uma participação cívica e democrática e, finalmente, para a construção de processos de Paz.

Oxalá se juntem todas as nações para cessar terminantemente a Guerra e dar imediatamente lugar à Paz. Oxalá!

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