Só Putin é que pode pôr fim à guerra, mas em vez disso o conflito está a escalar

CNN , Stephen Collinson
15 mar 2022, 20:35
Vladimir Putin. Arquivo AP

Agonia dos civis ucranianos está a piorar cada vez mais. Situação já chocante está a deteriorar-se em várias cidades do país

Uma pessoa começou a brutal guerra na Ucrânia e apenas uma pessoa pode pôr fim à mesma: Vladimir Putin. O agravamento do massacre do presidente russo, durante o fim de semana, aproximando o conflito do território da NATO na Polónia e atirando mísseis e artilharia para zonas civis, atingidas por uma crise humanitária cada vez mais grave, sugere que não está perto de proclamar um cessar-fogo.

Aliás, a guerra está a tornar-se mais perigosa e descontrolada, depois de Moscovo ter dito aos EUA que iria atacar os carregamentos de armas ocidentais para as forças armadas da Ucrânia, que têm ajudado a abrandar o avanço russo. No domingo à noite, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, avisou que era apenas uma questão de tempo até os mísseis russos caírem em território da NATO, quando voltou a apelar à aliança que fechasse o céu por cima do seu país.

Apesar de alguns comentários da Ucrânia, oficiais russos e norte-americanos sugeriram a possibilidade de progresso nas negociações entre Kiev e Moscovo, que deverão ser retomadas na segunda-feira. Putin desafiou um apelo do Presidente francês, Emmanuel Macron, e do Chanceler alemão, Olaf Scholz, no sábado, para um cessar-fogo imediato. E há todos os sinais de que o líder russo, apesar de presidir sobre uma invasão que transformou a Rússia numa pária económica e diplomática, planeia ser cruel e destruir a Ucrânia para perseguir a sua ambição pessoal de a impedir de se juntar ao oeste.

A agonia dos civis ucranianos está a piorar cada vez mais. Uma situação já chocante está a deteriorar-se na cidade cercada de Mariupol, onde os oficiais da cidade dizem que já morreram mais de 2000 civis. Não há eletricidade, água ou aquecimento e as pessoas estão a ficar sem comida e água. Também há relatos de danos extensos nas cidades de Kharkiv, Mykolaiv, Dnipro, Chernihiv e Sumy, que têm estado sob um bombardeamento contínuo por parte da Rússia. E o jornalista e cineasta americano, Brent Renaud, foi morto por forças russas no domingo, disse a Polícia de Kiev. Esta terça-feira, também um operador de câmara e uma produtora da Fox News perderam a vida.

Nenhum destes desenvolvimentos sugerem que a guerra está a chegar a um ponto em que as negociações de cessar-fogo e as conversações de paz possam vir a ser bem-sucedidas. E os riscos de um conflito mais vasto parecem estar a agravar-se.

EUA avisam China para não oferecer ajuda à Rússia

Na verdade, a história da invasão, que nos primeiros dias foi dominada pela resistência heroica dos ucranianos e de Zelensky, que estavam em desvantagem numérica, parece estar a tornar-se mais sombria. Putin parece imune ao impacto humano que as suas ações causaram, num conflito que pode ser crítico para a sua própria capacidade de se manter no poder em Moscovo.

Numa nova dimensão do que ameaça tornar-se um conflito geopolítico mais vasto, os Estados Unidos avisaram a China de que não deve ajudar a Rússia a fugir às sanções que estão a estrangular a sua economia, como consequência desta invasão brutal, antes das conversas entre oficiais seniores norte-americanos e chineses na Europa, na segunda-feira.

No domingo, no “State of the Union” da CNN, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, dirigiu uma mensagem dura a Pequim, que ainda não mostrou qualquer sinal de depender do líder russo para pôr fim à guerra. Ele disse a Dana Bash que Washington estava a “observar atentamente para ver até que ponto a China fornece realmente qualquer tipo de ajuda, apoios materiais ou económicos à Rússia”.

“Comunicámos diretamente, e em privado, a Pequim que existirão consequências por tentativas de evasões a sanções a grande escala ou por apoios à Rússia”, disse Sullivan.

“Não vamos permitir que isso avance, nem que haja uma salvação destas sanções económicas para a Rússia, em qualquer outro país do mundo”. Sullivan, que se encontrará com o homólogo chinês em Roma, na segunda-feira, não disse se as empresas ou entidades governamentais chinesas enfrentariam sanções, se ajudassem a Rússia.

A lógica para o aviso tornou-se clara quando o oficial sénior dos EUA disse, no domingo, que a Rússia tinha pedido ajuda militar à China, incluindo drones. A Rússia também pediu apoio económico, segundo outro oficial norte-americano familiarizado com o assunto, que recusou falar da reação chinesa, mas indicou que estes responderam.

Quando questionado pela CNN sobre os relatos de um pedido de ajuda militar da Rússia, Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa nos EUA, disse numa declaração: “Nunca ouvi falar disso”.

O pedido poderia ser interpretado como um sinal do aumento do desespero da Rússia. Qualquer ajuda da China a Moscovo também aumentaria a importância estratégica da guerra na Ucrânia e poderia consagrar o pesadelo norte-americano, a longo prazo, de um pacto estratégico entre Pequim e Moscovo, numa altura em que a China representa a principal superpotência rival da América do século XXI. Antes da invasão, Putin viajou para a China para se encontrar com o Presidente Xi Jinping e ambos concordaram numa amizade “sem limites”.

Há relatos de que o líder russo prometeu não invadir a Ucrânia até ao final dos recentes Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. Alguns oficiais ocidentais esperam que a China use a sua nova influência para ajudar a pôr fim à guerra. Mas em dias recentes, os meios de comunicação oficiais de Pequim aumentaram a falsa propaganda russa de que os EUA têm laboratórios de armas químicas e biológicas na Ucrânia, algo que os oficiais norte-americanos temem que possa ser um precursor para a utilização dessas mesmas armas por parte da Rússia.

Não há indicações públicas de que Pequim está a ajudar o esforço de guerra de Putin e há motivos pelos quais a China possa não ver os seus interesses refletidos nos de Moscovo, nesta situação. É presumido por muitos que Xi irá assegurar um terceiro mandato histórico no poder, durante o 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista em Pequim, este outono. Durante um ano tão importante, o governo chinês pode temer que as suas empresas tenham de enfrentar sanções.

O aumento do preço do petróleo pode, a longo prazo, prejudicar a sua economia, numa altura em que as taxas de crescimento não controladas estão a abrandar.

As sanções ocidentais e internacionais lançaram a economia e o sistema bancário russo numa crise profunda, mas o sofrimento extremo que estas irão infligir pode não ser rápido o suficiente para salvar a Ucrânia da barreira implacável de Putin. Qualquer ajuda chinesa, se acontecer, poderia enfraquecer o cerco ocidental à economia russa e aliviar a pressão política sobre Putin para uma mudança de rumo.

A guerra está a tornar-se mais perigosa

Putin está a intensificar os bombardeamentos na Ucrânia, em vez de recuar.

Numa alarmante nova expansão da guerra, os mísseis russos disparados de aviões por cima do Mar Negro e Azov atingiram uma base militar perto de Lviv, matando pelo menos 35 pessoas no domingo, disseram autoridades locais. O alvo ficava perigosamente perto da fronteira da Polónia, membro da NATO. Apesar de o Presidente Joe Biden ter dito que não iria enviar tropas norte-americanas para a Ucrânia, prometeu defender “cada centímetro” do território ocidental da aliança.

Num outro sinal do intuito agressivo de Putin, depois de mais de três semanas no país, as suas tropas estavam a menos de 25 km da capital de Kiev, de acordo com as agências de informação britânicas, no sábado.

Houve sinais contraditórios na Europa e em Washington, no domingo, sobre as perspetivas de conversações entre os oficiais russos e ucranianos, que, até agora, têm tido pouco progresso, assim como sobre um maior esforço diplomático internacional para fazer com que Putin concorde com um cessar-fogo. Na Fox, a vice-secretária de estado norte-americano, Wendy Sherman, alegou que a pressão das sanções estava a começar a ter efeito no líder russo.

“Estamos a ver alguns sinais de disponibilidade para negociações sérias”, disse Sherman. Mas acrescentou: “Parece que Vladimir Putin tem o intuito de destruir a Ucrânia”. Sullivan estava pessimista quanto às perspetivas de diplomacia, dizendo que Putin “não parece estar preparado para parar com o massacre”.

Ainda assim, o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podoliak, disse que acreditava que as conversações podiam “alcançar resultados concretos” nos próximos dias, uma vez que a Rússia começou a falar “de forma construtiva”. E Leonid Slutsky, um membro da delegação russa nas conversações, disse que foi feito um “progresso significativo” nas negociações com a delegação ucraniana, desde que estas tiveram início, reportou a agência de notícias estatal russa, RIA.

Mas os lados parecem muito afastados em princípio, com a Ucrânia a exigir a retirada das tropas russas. Moscovo entrou no conflito apelando à NATO para retirar as tropas dos antigos Estados do Pacto de Varsóvia, na Europa de Leste, o que parece ainda menos provável, dada a forma como a Rússia está a tratar a Ucrânia.

E nada do que Putin tenha feito até agora sugere que este esteja a considerar reverter o plano que já devastou vastas áreas da Ucrânia e que agora parece estar a aproximar-se de Kiev para a batalha decisiva.

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