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Paulo Portas: oito coisas que mudaram em 11 dias e cinco cenários para o fim da guerra

CNN Portugal , BMA
6 mar 2022, 23:18

Comentador da TVI/CNN Portugal analisa evolução do conflito armado na Ucrânia. "Se Putin cumprir a ameaça, a Rússia terá fronteira com oito países da UE"

A revolução russa, de 1917, foi retratada num livro intitulado "10 dias que mudaram o mundo". Em 2022, e ao 11º dia da guerra na Ucrânia, Paulo Portas explica que "tudo mudou" na Europa e no mundo.

"Mudou o sentimento de paz, a perceção da ameaça. Mudou (ou vai mudar) a fronteira da Rússia, mudou a Ucrânia, mudou a Europa. Mudou o mundo, mudou a economia e aquilo que podemos esperar dela", começou por dizer Paulo Portas na sua rubrica semanal "Global", iniciando o programa com uma "viagem infográfica" por tudo o que já mudou.

"Se Putin cumprir aquilo que ameaçou fazer na penúltima conversa com Macron, a Rússia passará a ter fronteira com oito países da União Europeia. Nós teremos um agressor, que já deu provas do nível de agressão de que é capaz", explicando que, caso se efetive, a Rússia passará a fazer fronteira com a Roménia, da Hungria, da Eslováquia, da Polónia, para além da Lituânia, Letónia, Estónia e Finlândia.

O comentador da TVI/CNN Portugal adiantou a nostalgia, o ressentimento e alguma "paranóia" como possíveis fatores mentais e políticos que podem levar Putin ao risco de uma Terceira Guerra Mundial.

"É um nostálgico do nacionalismo russo, do nacionalismo imperial. Ao contrário do que pensa, por exemplo, o partido comunista, que julga que Putin é um nostálgico do comunismo, ele é um nostálgico do império do czar. No entanto, tem um nível de ressentimento muito alto. Putin não tem consideração por Lenine, tem curiosamente alguma consideração por Estaline e tem uma certa raiva por o mundo se dividir, de certa forma, entre a América e a China. Onde está a Rússia? Olhem para mim, eu ainda sou uma potência", adiantou o comentador, que acredita que este ataque à Ucrânia surge pela perceção do presidente russo de que o ocidente está fragilizado após a saída do Afeganistão. Desta forma, Paulo Portas acredita que a surpresa está "no nível de execução da ameaça".

"Entrar num país soberano e fazer uma invasão parcial ou completa, com a grandeza que tem a Ucrânia, isso é uma forma avançada de quem se sente ou à-vontade para o fazer, ou com uma fragmentação psicológica e um mundo de paranóia, isto é, viver num mundo completamente virtual em que acaba a acreditar nas suas próprias teses".

Paulo Portas identificou também cinco possíveis cenários para o fim da guerra na Ucrânia: que esta seja uma guerra curta, caso Putin tome a cidade de Kiev. Uma guerra longa, que será a pior hipótese e implicaria ir até à Transnistria, o que já colocaria a Europa num estado "de risco e perigo". Para o comentador, há também a hipótese de uma saída diplomática ou a queda de Vladimir Putin.

Relativamente à oposição russa, Paulo Portas reforçou a dificuldade que é ser oposição num país autoritário. "A Rússia não tem 20 anos de democracia, e tem mais de mil anos de história. A Rússia é o maior país do mundo, tem 11 fusos horários, 90 nacionalidades, sempre teve um poder autocrático e expansionista", disse.

Relativamente ao envolvimento da Europa no conflito armado na Ucrânia, o continente está a deparar-se pela primeira vez com uma ameaça real, tomando uma posição. 

"É a primeira vez que há um Banco Central no território europeu (Rússia) cujas reservas são completamente bloqueadas. A Europa portou-se bem relativamente ao acolhimento de refugiados e atacou um dos nervos de funcionamento do sistema financeiro russo, que é o SWIFT. Não atacou tudo mas, dentro do paradigma anterior da Europa, foi mais longe do que alguma vez tinha ido", continuou Paulo Portas, explicando que estas sanções aplicadas pela Europa à Rússia já levaram a que mais três países pedissem a adesão à União Europeia na última semana: a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia. "É evidente que pedem a adesão porque é a única expectativa de segurança e prosperidade que têm".

O comentador da TVI/CNN Portugal abordou ainda o significado da imagem que mostra uma ponte destruída pelos ucranianos para que os russos não entrassem em Kiev. Na mesma fotografia, são vistos os cidadãos de Kiev a tentarem proteger-se dos ataques russos.

Em termos planetários, a crise de refugiados na Síria foi superior, para já, mas a nível europeu esta já é a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.

Relativamente à possibilidade dos países da Europa e dos EUA cessarem por completo as importações de gás e petróleo com a Rússia, Paulo Portas acredita nesse cenário, mas só se a capital da Ucrânia for tomada pelos russos.

"Isso acontecerá se Kiev cair. Se Putin ocupar Kiev, acho que pode haver sanções que afetem o gás e o petróleo, que depois têm outras implicações", explicou.

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