O caso dos ucranianos que alegadamente atacaram a Rússia num ataque que alegadamente nunca existiu

2 mar 2023, 22:07
Vladimir Putin na cerimónia que celebra o Dia Nacional do Defensar da Pátria (Pavel Bednyakov/AP Photo)

Incidentes na região russa de Bryank originaram relatos contraditórios e motivaram troca de acusações. Aconteceram esta quinta-feira. Aconteceram?

Os relatos de combates em território russo, nas regiões russas de Bryansk e Kursk, junto à fronteira com a Ucrânia, começaram a surgir bem cedo na manhã desta quinta-feira. O governador de Bryansk, Alexander Bogomaz, afirmava que um grupo de "sabotadores ucranianos" tinha aberto fogo sobre um automóvel e que, em resultado disso, um civil tinha morrido e uma criança de dez anos tinha ficado ferida. Circularam depois várias informações contraditórias e muitas acabariam por ser desmentidas pelas próprias autoridades locais - como a de que civis estariam a ser feitos reféns e autocarros escolares estariam a ser alvo de disparos.
 
O que acabaria por ser confirmado por uma agência de notícias independente da Rússia, a iStories, foi a autenticidade de um comunicado divulgado pelo Russian Volunteer Corps (RVC) - em Português, qualquer coisa como Corpo Voluntário Russo -, um grupo de russos nacionalistas formado para lutar pela defesa da Ucrânia no ano passado e que inclui vários membros conhecidos ligados à extrema-direita russa, como Denis Kapustin, um hooligan bem conhecido do futebol russo.
 
Nesse comunicado, o RVC afirmava que os militares tinham atravessado a fronteira porque estava na altura de os "russos combaterem o regime sangrento de Putin". Mas negava ataques que tivessem provocado a morte de civis. De acordo com a agência iStories, 45 membros do grupo entraram no território.
 
Depressa estas informações suscitaram uma reação de Moscovo, com os serviços de segurança russos a anunciarem uma operação para "destruir os nacionalistas ucranianos que entraram pela fronteira". A Guarda Nacional russa foi mobilizada para o local.
 
Do Kremlin, uma posição oficial chegaria mais tarde pelo porta-voz Dmitry Peskov: falou em "ataque terrorista", afirmou que Putin iria realizar uma reunião do conselho de segurança esta sexta-feira e que já tinha cancelado uma viagem prevista a Stavropol. "Estamos a falar de um ataque terrorista. Estão a ser tomadas medidas para os eliminar."
 
O presidente russo também viria a comentar os incidentes, em conferência de imprensa, referindo-se ao sucedido como "outro ataque terrorista, outro crime", acusando os militares que atravessaram a fronteira de dispararem abertamente contra civis. "Eles viram que no carro estava um civil, viram as crianças mas abriram fogo", declarou Vladimir Putin.
 
Nas redes sociais ganhava força a hipótese de uma operação de falsa bandeira (situação em que um interveniente numa guerra utiliza uma informação falsa para justificar determinados movimentos). O jornalista russo independente Anton Barbashin lembrou que há dois dias meios de comunicação russos haviam publicado notícias que davam conta de que "a Ucrânia podia tentar capturar Bryansk em vez da Crimeia".
 
Na Ucrânia, Mykhailo Podolyak, conselheiro de Volodymir Zelensky, rejeitou qualquer ataque em Bryansk. O responsável e porta-voz do governo ucraniano afirmou que  “a Federação Russa quer assustar as pessoas para justificar um ataque a outro país”. "É uma provocação deliberada clássica”, acrescentou.
 

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