Combustíveis ficaram mais caros hoje – e escalada não vai ficar por aqui. Guerra poderá interromper retoma da economia

28 fev 2022, 15:06
Combustível

António Comprido, secretário-geral da APETRO, confirma que a subida do preço dos combustíveis "tem sido sistemática e acentuada", mas lembra que estamos a viver uma "situação muito especial" e "complicada" em todo o mundo

Os preços dos combustíveis voltaram a subir esta segunda-feira, com as previsões a apontarem para um aumento de 2 cêntimos por litro na gasolina e 2,5 no gasóleo. Esta é a nona subida consecutiva do preço dos combustíveis desde o início do ano, mas os aumentos não ficam por aqui. Também o petróleo continua a subir, registando esta segunda-feira um aumento de 4,7%.

Numa comparação com os dados de fevereiro de 2021, o preço da gasolina passou de 1,282 euros por litro para cerca de 1,834 euros, enquanto o gasóleo passou de 1,161 euros para cerca de 1,675. 

Em declarações à CNN Portugal, o secretário-geral da APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petroliferas), António Comprido, confirma que "a subida [do preço dos combustíveis] tem sido sistemática e acentuada". Aliás, esta é uma tendência que tem vindo a registar-se sobretudo "desde o final do ano passado", acrescentou.

De acordo com o responsável, o conflito que se vive na Ucrânia "vai exacerbar ainda mais essa tendência" da subida do preço dos combustíveis, tendo em conta o envolvimento da Rússia, que, de acordo com dados oficiais, fornece quase 27% do petróleo e 41,1% do gás natural que chega à União Europeia.

"Neste momento, as expectativas são de que, em relação ao equilíbrio entre oferta e procura, tudo vai depender do que é que vai acontecer às exportações russas", começa por explicar. Isto porque, acrescenta, "se as exportações forem drasticamente reduzidas por qualquer razão – ou por consequência das sanções ou por decisão da própria Rússia – isso vai com certeza perturbar os mercados".

António Comprido salienta a "situação muito especial" que o mundo está a viver, não só pelo contexto da pandemia de covid-19, que provocou uma "quebra brutal nos consumos dos combustíveis" e, consequentemente, "arrastou as cotações para preços muitíssimo baixos", mas também pela "instabilidade geopolítica" provocada pela invasão da Ucrânia na última semana.

Esta situação acaba por ter efeitos nos mercados, segundo explica o responsável: "Nós tivemos este fim de semana uma tendência para as cotações [do petróleo Brent] descerem, mas esta segunda-feira já voltaram a subir, já estiveram próximo dos 100 dólares e neste momento andam à volta dos 95 [dólares]."

"Isto é uma situação complicada. Acho que enquanto não se clarificar a situação da Ucrânia esta instabilidade vai-se manter com subidas e descidas [do valor dos combustíveis], mas sempre à volta de valores elevados", com o petróleo bruto Brent "próximo dos 100 dólares", estima o responsável da APETRO.

O diretor da Área de Produtos e Serviços da Deco Proteste, Vítor Machado, faz a mesma previsão, afirmando, em declarações à Lusa, que, no atual contexto geopolítico, "tudo indica que continuará a pressão nos mercados energéticos". E esta pressão, por sua vez, terá "um efeito de contaminação" de toda a cadeia de valor que depende da energia e dos combustíveis, acrescenta.

Também o secretário-geral da APETRO alerta para esta situação, salientando que "não são só os combustíveis" que têm registado aumentos nos preços nos últimos meses.

"Nós falamos muito dos combustíveis porque eles têm uma importância muito grande e é algo que é muito visível, porque os preços estão nas bombas e toda a gente os vê. Mas não são só os combustíveis: o gás natural, a eletricidade, as matérias primas, os produtos agrícolas, os metais, tudo tem vindo a subir muito e alguns [produtos] com subidas até muito mais acentuadas do que o petróleo", sublinha.

Conflito poderá "interromper" retoma da economia

António Comprido questiona mesmo se este conflito na Ucrânia não poderá "interromper" a retoma da economia que se estava a registar, uma vez que esta situação geopolítica "tem colocado uma grande pressão do lado da procura, não correspondida pela oferta" – uma discrepância que se reflete, naturalmente, na taxa de inflação, que, de acordo com a estimativa rápida divulgada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), subiu para 4,2% em fevereiro. A maior taxa de inflação desde outubro de 2011.

"Estamos a assistir a valores de inflação a que já não estávamos habituados nos últimos anos. Temos tido inflações muito próximas do zero, a preços estáveis, mas, nos últimos meses, a inflação tem vindo sucessivamente a crescer, e isso com certeza vai ter impacto sobre os preços", considera.

Ainda assim, o responsável da APETRO assume uma perspetiva positiva, lembrando que "não há crescimentos nem reduções que durem sempre" na economia. "A seguir a uma fase de crescimento, há-de haver uma fase de redução. Agora quando é que ela vai acontecer e com que valor é que ela vai acontecer...", acrescentou, sem concluir. 

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