Batalha por Kiev: cidade e presidente resistem a Putin

Henrique Magalhães Claudino , Atualizada às 7:51
26 fev 2022, 06:26

Volodymyr Zelensky apelou à resistência e as forças armadas de Kiev repeliram um ataque russo numa das principais ruas da capital. Ucrânia volta a amanhecer ao som de explosões, tiroteios e sirenes

A Ucrânia, que entra este sábado no terceiro dia de guerra, amanheceu a defender-se contra um ataque aéreo de larga dimensão, que atingiu as cidades de Kiev, Sumy, Poltava e Mariupol e com mísseis a serem disparados a partir do Mar Negro. Na capital, sob cerco de Moscovo, trava-se uma guerra pelo futuro do leste da Europa em que o exército ucraniano terá conseguido defender a Avenida Vitória, uma das mais importantes em Kiev. 

Cerca de 35 pessoas, incluindo duas crianças, morreram esta madrugada. A informação foi confirmada à Reuters pelo autarca local, Vitali Klitschko.

As autoridades na capital ucraniana lançaram o aviso de que estão a decorrer combates contra militares russos e pediram aos seus cidadãos que procurem refúgio em abrigos. No alerta, o governo de Kiev aconselhava os moradores a evitarem aproximar-se de janelas ou varandas e tomarem precauções para não serem atingidos por destroços ou balas.

Militares russos invadiram a capital da Ucrânia no início do sábado, ao mesmo tempo que explosões faziam tremer a cidade. Isto tudo, num momento em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou ao país a "manterem-se firmes" contra o cerco de Moscovo que pode determinar o seu futuro. 

Zelensky chegou mesmo a receber uma oferta de retirada por parte dos Estados Unidos, mas o chefe de Estado recusou abandonar o país, afirmando que “a luta é aqui”. Durante a noite, as forças russas assumiram o controlo de parte de regiões no norte da Ucrânia, aos arredores da capital , incluindo a zona de exclusão de Chernobyl, de acordo com uma análise do Instituto para o Estudo da Guerra em Washington.

No Twitter, o presidente ucraniano mostrou-se durante a manhã deste sábado nas ruas de Kiev. No vídeo, filmado ao lado do parlamento, disse que "não irá pousar as armas e desistir". A gravação parece ser uma resposta ao envio de milhares de mensagens, por um perfil falso que se faz passar pelo presidente Ucraniano, a pedir para que as pessoas desistem da resistência em Kiev.

 

Com o destino de Kiev em jogo, Zelensky não abandona país

Ainda durante a noite, o exército ucraniano reafirmou que "duros combates" continuam em Vasylkiv, cerca de 40 quilómetros a sul de Kiev, onde os russos "estão a tentar desembarcar paraquedistas". Os militares reivindicaram ter abatido vários aviões russos, incluindo um avião de transporte militar Il-76, de grande capacidade, com paraquedistas a bordo, de acordo com um comunicado do Estado-Maior ucraniano, o avião de transporte foi abatido perto de Vasylkiv.

Há combates nas ruas da nossa cidade neste momento. Mantenham a calma e tenham o máximo cuidado. Se estiverem num abrigo não saiam, se estiverem em casa não se aproximem das janelas, não vão às varandas. Escondam-se num sítio fechado, por exemplo na casa de banho, e cubram-se com algo que vos proteja dos estilhaços", afirma o governo local, citado pela agência Interfax. 

Há sinais crescentes de que a Rússia pode estar a tentar derrubar o governo da Ucrânia, um alvo que as autoridades dos EUA descreveram como o objetivo final do presidente russo, Vladimir Putin. Este ataque representou, aliás, o esforço mais ousado de Putin para redesenhar o mapa do mundo e restaurar a influência de Moscovo na era da Guerra Fria.

Enquanto o seu país enfrentava explosões e tiros, e com o destino de Kiev em jogo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, apelou a um cessar-fogo e alertou, durante uma declaração dramática, que várias cidades estavam sob ataque.

“Esta noite temos de nos manter firmes”, disse, acrescentando que “o destino da Ucrânia está a ser decidido agora”. Zelensky chegou mesmo a ter uma oferta dos Estados Unidos para ser retirado do país, mas o chefe de Estado recusou. “A guerra está aqui. Eu preciso de munições, não de uma boleia”, terá dito aos serviços secretos de Washington.

Zelensky já tinha prometido manter-se no território ucraniano, apesar de reconhecer que é o “inimigo número 1” da Rússia e que a siua família é o número 2. Citando autoridades dos EUA e da Ucrânia, o Washington Post informou que os serviços secretos dos EUA, incluindo o diretor da CIA, durante uma visita à Ucrânia em janeiro, alertaram Zelensky sobre a ameaça à sua segurança por várias semanas. A informação adquirida pela CIA sugeria, na época, que equipas russas já poderiam estar em Kiev. "Nós alertámo-lo, não apenas sobre a ameaça de invasão russa, agora uma realidade, mas também sobre a ameaça a ele pessoalmente", disse Adam B. Schiff, presidente do Comité de Inteligência do Senado, acrescentando que “está pronto para ajudá-lo de qualquer maneira.”

 

Até agora, a Rússia avançou no território ucraniano ao longo de três eixos: no sul da Crimeia até à cidade de Kherson, ao longo do rio Dnieper; no norte da Bielorrússia até Kiev, em duas rotas para nordeste e noroeste da capital ucraniana; e no leste da cidade russa de Belgorod até à principal cidade industrial de Kharkiv, de acordo com estimativas do Pentágono dos Estados Unidos.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 100.000 deslocados no primeiro dia de combates.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa "desmilitarizar e 'desnazificar'" o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo de seus "resultados" e "relevância".

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.

Ao contrário do Ocidente, a China abraça uma certa neutralidade, denunciando que "a escalada da guerra entre a Ucrânia e a Rússia [...] coloca em risco a segurança dos cidadãos chineses" e notando um aumento do "comportamento extremista na sociedade ucraniana". Já a embaixada em Kiev pediu aos chineses que "evitem disputas sobre questões específicas" e "se deem bem com o povo ucraniano", devendo "abster-se [...] de exibir sinais identificativos", sublinhou o documento.

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