Produtora russa que mostrou cartaz antiguerra em direto na própria televisão foi multada (para já)

15 mar 2022, 15:01

Marina Ovsyannikova foi condenada ao pagamento de 30 mil rublos (aproximadamente 256 euros) por um vídeo que divulgou nas redes sociais, não sendo ainda claras quais as consequências da interrupção da emissão na emissora estatal

A produtora Marina Ovsyannikova, que interrompeu a transmissão do próprio canal onde trabalha, a televisão estatal Rússia 1, com um cartaz antiguerra, foi presente a tribunal esta terça-feira, depois de ter sido detida. Numa foto publicada no Telegram, e divulgada pela Nexta, é possível ver Ovsyannikova com o seu advogado, o bielorrusso Anton Gashinsky. Foi multada, para já, em 30 mil rublos (aproximadamente 256 euros), mas esta multa está relacionada com um "crime" anterior, não sendo ainda claras as consequências da interrupção da emissão.

Na segunda-feira, Ovsyannikova, editora e produtora do canal, segurou frente às câmaras um cartaz com a mensagem “parem a guerra, não acreditem na propaganda. Aqui estão a mentir-vos”, tendo a emissão sido rapidamente cortada para uma peça televisiva. O incidente ocorreu por volta das 21:30 locais e Ovsyannikova acabou por ser detida. Durante várias horas, não se conheceu o paradeiro da jornalista.

Esta terça-feira, em comunicado, o Kremlin classificou o protesto como um ato de "hooliganismo".  "No que diz respeito a esta mulher, isto é hooliganismo", escreveu o porta-voz Dmitry Peskov.

Por sua vez, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, através do Telegram, deixou uma palavra de agradecimento pela coragem deste gesto de resistência: "Sou muito grato aos russos que não param de tentar transmitir a verdade, que lutam contra a desinformação."

Antes de interromper a emissão da Rússia 1, Marina Ovsyannikova gravou e publicou um vídeo nas redes sociais no qual pedia desculpa pelo seu trabalho naquela televisão estatal, dizendo que o que estava a acontecer na Ucrânia era "um crime" e que Vladimir Putin era "um agressor".

"Infelizmente, nos últimos anos, trabalhei no Rússia 1, trabalhei para a propaganda do Kremlin. Agora, tenho muita vergonha. Tenho vergonha por ter permitido que as mentiras fossem ditas nos ecrãs das televisões", disse. 

 

No mesmo vídeo, a produtora, filha de mãe russa e pai ucraniano, fez um apelo ao povo russo que não concorda com esta guerra: "Está nas nossas mãos parar com esta loucura. Saiam às ruas. Não tenham medo. Eles não nos podem prender a todos." 

"A minha mãe é russa, o meu pai é ucraniano e o colar que tenho ao pescoço [com as cores das bandeiras dos dois países] é o símbolo de esperança de que, um dia, os dois povos possam fazer as pazes."

As televisões russas "têm optado" - a utilização das aspas deve-se ao facto do governo russo controlar os meios de comunicação social estatais - por não transmitir imagens da guerra. Expressão que, tal como Vladimir Putin, se recusam a utilizar, dizendo sempre que se trata de uma "operação militar especial" para "desnazificar" a Ucrânia.

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