A blogger Marianna Podgurskaya estava na maternidade de Mariupol quando ela foi atacada e tornou-se um alvo da guerra de desinformação russa

11 mar 2022, 11:47

Ferida, foi fotografada a descer as escadas da maternidade bombardeada pelos russos. Estes, dizem que é uma atriz contratada e que o sangue que se vê na sua cara não passa de maquilhagem

A imagem correu o mundo depois do ataque a uma maternidade e hospital pediátrico em Mariupol: uma mulher, visivelmente grávida e ferida, descia as escadas do edifício após o bombardeamento que matou três pessoas (incluindo uma criança) e fez 17 feridos. Mais tarde, a mesma mulher era fotografada em frente à maternidade embrulhada num cobertor, com sangue no rosto. Mas quem é ela?

Marianna Podgurskaya, de 26 anos, é uma blogger de beleza e modelo ucraniana de 26 anos que, em janeiro, anunciou aos seus seguidores que estava grávida do primeiro filho. Na publicação, a jovem escrevia que tinha sido "difícil ficar calada e fingir que estava tudo normal" porque queria muito "partilhar a alegria com o mundo".

"A nossa pequena felicidade está a caminho e decidi partilhar esta boa notícia com vocês", escreveu Marianna na publicação de 25 de janeiro.

Depois desta publicação, seguiram-se outras duas fotografias onde a barriga de grávida era bem visível, mostrando que a gravidez já estava avançada.

No dia do ataque, de acordo com as imagens dos fotojornalistas em Mariupol e com o relato de Olga Tokariuk, correspondente da agência EFE na Ucrânia, Marianna Podgurskaya estava internada na maternidade de Mariupol. A jovem acabaria por entrar em trabalho de parto no dia seguinte ao ataque e ser mãe de uma menina.

"Ambas estão bem, mas está muito frio em Mariupol e os bombardeamentos não param", escreveu Olga no Twitter.

A primeira fotografia da blogger com a filha nos braços (Evgeniy Maloletja/Associated Press)

Rússia acusa Ucrânia de "produção fotográfica"

As Nações Unidas confirmaram que a maternidade do hospital pediátrico de Mariupol, no leste da Ucrânia, foi atacada, mas que não foi a única a ser alvo de bombardeamentos russos, tendo sido também destruídas maternidades nas cidades de Zhytomyr e Kharkiv.

No entanto, nem esta confirmação, nem o anúncio da gravidez, nem as fotografias de Evgeniy Maloletka, nem o relato de Olga Tokariuk parecem ser suficientes para que os os russos mudem a narrativa de que atacaram o hospital pediátrico porque este era agora uma base militar e não uma unidade hospitalar onde se encontravam crianças e grávidas em trabalho de parto. 

Logo após o ataque, foram várias as teorias que surgiram para garantir que Marianna Podgurskaya era apenas uma modelo que deu vida a duas grávidas, tendo até mudado de roupa e de maquilhagem para parecer que estava ferida nas fotos.

Numa mensagem transmitida num grupo de Telegram, pode ler-se que "os ucranianos usaram a modelo Marianna de Mariupol para as melhores fotografias (são três no total)".

"É curioso que ela interprete duas grávidas diferentes ao mesmo tempo: teve até que trocar de roupa e voltar a maquilhar, o que, no entanto, não surpreende: na verdade, Marianna é uma conhecida blogger de beleza na região. Gostaríamos de ressalvar que a menina está realmente grávida, mas simplesmente não poderia estar na maternidade: a instituição está a ser usada por militantes do Azov há vários dias como uma instalação fortificada que não funciona como uma instalação médica. A Ucrânia já encontrou a heroína desta produção: no último post do seu Instagram já existem mais de 500 comentários de utilizadores reais que a condenam por participar de informações falsas", lê-se ainda na mensagem que acompanha uma montagem com fotos da modelo e vários comentários no Instagram.

Imagem transmitida pelo lado russo sobre a grávida de Mariupol

Também no Twitter da Embaixada da Rússia no Reino Unido surgiu uma mensagem que garantia que Marianna era uma modelo contratada pela Ucrânia para "posar como duas grávidas nas fotografias" e que as fotografias tinham sido tiradas "pelo fotógrafo de propaganda Evgeniy Maloletja". 

Numa outra resposta, a Embaixada reconhecia que a modelo estava grávida "assim como usava maquilhagem bastante realística", voltando a afirmar que a jovem não poderia estar internada na maternidade porque a mesma era uma base militar.

As publicações acabariam por ser eliminadas pelo Twitter por considerar que as mesmas violavam as regras da rede social. 

Tweets da Embaixada Russa

Na quinta-feira, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, justificou o bombardeamento de um hospital pediátrico na cidade ucraniana de Mariupol com o facto de o edifício servir de base para um grupo de extremistas ucranianos.

"Esta maternidade foi tomada há muito tempo pelo grupo Azov e outros radicais", declarou Lavrov, acrescentando que os pacientes e o pessoal médico e administrativo tinham sido expulsos do local por elementos daquele grupo.

Lavrov, que falava aos jornalistas após um encontro com o seu homólogo ucraniano na cidade turca de Antália, acusou "os meios de comunicação ocidentais" de apresentarem apenas "o ponto de vista ucraniano”.

"Há uma ‘russofobia’ em todo o Ocidente dirigida pelos Estados Unidos", afirmou.

Segundo as autoridades de Mariupol, três pessoas, incluindo uma criança, morreram no bombardeamento russo. De acordo com o mesmo relatório, outras 17 pessoas ficaram feridas.

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