Este megalómano projeto tinha um único e ambicioso propósito. Hoje está perdido no meio das florestas da Ucrânia
Tem 150 metros de altura e 500 metros de largura. É a maior muralha de antenas do mundo e foi dos projetos mais secretos da União Soviética, ao ponto de não se permitir a entrada a ninguém alheio ao serviço e de se ter criado uma cidade do zero para o efeito.
O enigmático radar Duga continua de pé junto à central de Chernobyl, escondido entre árvores no sítio onde houve a tragédia nuclear, está há 30 anos desativado.
Com o fim da União Soviética e o enfraquecimento do grande bloco de oposição aos Estados Unidos e ao Ocidente, a renascida Rússia decidiu deixar de contar com esta espécie de aranha de metal cuja missão era detetar os lançamentos de mísseis balísticos norte-americanos logo nos primeiros minutos do disparo.
Mais do que um simples radar, conseguia chegar à ionosfera, uma camada da atmosfera que se ergue entre os 60 e os 1.000 quilómetros de altitude, o que lhe permitia um conhecimento muito mais vasto das movimentações aéreas.
O El Mundo esteve no local, perto da agora cidade-fantasma de Prypiat, onde conseguiu conhecer melhor o que o Ocidente chegou a batizar de “pica-pau”. Um nome surgido por causa do barulho incessante das ondas de rádio.
A União Soviética foi sempre negando a existência de tal projeto, mas o desastre nuclear de 1986 - o radar foi ali construído porque precisava de uma forte componente energética e a central era ideal para isso - fez com que fosse impossível continuar a esconder o gigante de ferro.
“Os serviços secretos pensaram nestes indicadores como um engano. Diziam que a estrada levava a um parque infantil, mas a realidade é que terminava no radar”, conta ao El Mundo Volodimir Verbitsky, que vivia perto da central nuclear de Chernobyl, enquanto aponta para uma zona decorada com Misha, o urso que fez de mascote aos Jogos Olímpicos de Moscovo.
O projeto era de tal forma secreto que os trabalhadores soviéticos que serviam os radares viviam numa aldeia oficialmente inexistente. Chernobyl 2 era impossível de visitar para os restantes ucranianos na zona.
“Eu ia à escola com várias crianças que viviam na cidade que se levantou junto ao radar. Eles podiam vir a Prypiat aos meus anos, mas eu jamais pude ir aos deles porque era um lugar secreto”, conta Volodimir Verbitsky.
Hoje, quase desaparecida no bosque, esta cidade tem pouco mais do que vislumbres de civilização. Há ainda o quartel dos bombeiros, os correios ou o forno de uma antiga padaria.
Um projeto multimilionário com tecnologia de ponta, mas do qual não há provas cabais de que funcionava de forma totalmente eficaz.
Hoje, a Duga está fechada ao público e aos turistas, até porque a guerra em curso fez com que os ucranianos tenham decidido encerrar o local, que agora volta a ser uma floresta escondida.