No meio da guerra, Ucrânia pondera legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo

13 jul 2022, 09:24
Protesto pelo Orgulho LGBTQ+ (Saara Peltola/Lehtikuva via AP)

Esta questão assumiu particular importância desde a invasão russa, tendo surgido vários relatos de militares que morreram a combater e cujos parceiros não puderam ver o corpo nem dizer um último adeus

A guerra na Ucrânia parece ainda estar longe acabar, tendo em conta os sucessivos avanços das tropas russas nas últimas semanas, mas tal não significa que se deixem de lado as questões sociais que preocupam os ucranianos. Neste caso, a guerra foi mesmo 'o motor' para fazer avançar uma questão em particular: a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Uma petição que apela à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, lançada no passado dia 3 de junho, conta já com mais de 28.000 assinaturas, ultrapassando assim o limiar (25.000) necessário para que seja enviada ao presidente, Volodymyr Zelensky, que tem agora 10 dias para tomar uma decisão.

"Nesta altura, todos os dias podem ser os últimos. Permita que as pessoas do mesmo sexo tenham a oportunidade de constituir família e tenham um documento oficial para provar isso. Eles precisam dos mesmos direitos que os casais tradicionais", pode ler-se na descrição da petição online.

Esta questão assumiu particular importância desde a invasão russa da Ucrânia, tendo surgido vários relatos de militares que morreram a combater e cujos parceiros não puderam ver o corpo nem dizer um último adeus.

"É importante que as pessoas LGBTQ+ tenham o direito de ver os seus companheiros e obter compensações caso seja necessário. Todos os casais têm este direito. Esperamos mesmo que os casamentos entre pessoas do mesmo sexo venham a ser legalizados, para que as pessoas possam cuidar umas das outras", diz Oksana Solonska, responsável pela comunicação da Kiev Pride, em declarações à BBC.

A aprovação da petição por parte de Volodymyr Zelensky ainda não é certa. Na verdade, esta é uma questão sensível na Ucrânia, que vinha a ser palco de violentos protestos contra a comunidade LGBTQ+. Em 2013, decorreu em Kiev a primeira marcha oficial pelo Orgulho LGBTQ+, um ano depois da data inicial, que acabou por ser cancelada após protestos violentos que ameaçaram os participantes. Em 2018, vários ativistas foram atacados por militantes da extrema-direita durante uma manifestação em Kiev a favor das pessoas transgénero.

Manifestantes queimam uma bandeira LGBTQ+ em frente ao prédio da Amnistia Internacional durante a cerimónia de abertura da Semana do Orgulho em Kiev (AP Photo/Sergei Chuzavkov)

Ainda assim, têm sido feitos avanços na sociedade sobre esta questão. No ano passado, a marcha pelo Orgulho LGBTQ+ contou com mais de 7.000 participantes. De acordo com uma sondagem conduzida pelo Instituto Internacional de Sociologia em Kiev, nos últimos seis anos, o número de ucranianos com uma "visão negativa" da comunidade LGBTQ+ diminuiu de 60.4% para 38.2%. Por outro lado, 12% dos ucranianos têm uma "atitude positiva" e 44% diz ser "indiferente".

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