Dois caças e dois helicópteros russos terão sido abatidos junto à fronteira com a Ucrânia. O que se sabe

CNN , Tim Lister e Kostan Nechyporenko
15 mai 2023, 11:00
Soldados ucranianos colocam um howitzer M777 fornecido pelos EUA em posição de disparar contra militares russos no Donbass

Força aérea russa pode ter sofrido um dos piores dias desde o início da guerra

A força aérea russa pode ter sofrido um dos seus piores dias desde o início da guerra na Ucrânia. Segundo informações não confirmadas, quatro das suas aeronaves foram abatidas em território russo, o que constituiria um golpe significativo para a Ucrânia.

Há relatos contraditórios sobre o número de aviões e helicópteros que terão sido abatidos em Bryansk, mas um órgão de comunicação social russo diz que, pelo menos, dois caças - um Su-34 e um Su-35 - e dois helicópteros Mi-8 despenharam-se naquela região.

Imagem de arquivo de um helicóptero Mi-8 da Força Aérea Russa. Leonid Faerberg/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

A Ucrânia não confirma que as suas defesas aéreas estiveram envolvidas na queda do avião russo no sábado, mas diz que a aeronave "teve alguns problemas".

Bryansk fica na fronteira com a Ucrânia e já foi alvo de ataques anteriores atribuídos a Kiev.

A queda de várias aeronaves em território russo ao mesmo tempo não tem precedentes. Alguns analistas acreditam que as defesas aéreas ucranianas podem ter avançado no terreno, uma vez que a força aérea russa está a utilizar mais "munições guiadas" [armas de precisão que minimizam danos colaterais].

O porta-voz da força aérea ucraniana, Yuriy Ihnat, disse no domingo que um "grupo aéreo de ataque russo atacou a Ucrânia a partir do norte, da região de Bryansk". "Fazem-no quase todos os dias. Fazem ataques com bombas inteligentes."

Neste caso, disse, "eles tiveram alguns problemas". "Queriam bombardear os nossos civis, o nosso povo pacífico", prosseguiu, considerando ainda que foi um "dia negro" para a aviação russa.

Vídeos das redes sociais geolocalizados pela CNN mostram pelo menos um helicóptero a cair perto da cidade de Klintsy, em Bryansk, que fica a 50 quilómetros da fronteira com a Ucrânia.

Aleksandr Bogomaz, governador de Bryansk, confirmou que um helicóptero se tinha despenhado, ferindo um civil, mas não deu pormenores sobre a causa.

Um outro vídeo, que mostra a queda de uma aeronave e uma coluna de fumo negro, foi geolocalizado numa aldeia de Bryansk, a cerca de 25 quilómetros de Klintsy.

A agência noticiosa russa TASS publicou um vídeo de um helicóptero a explodir no ar e confirmou a queda de um caça Su-34, sem mais explicações.

"Idiotice"

O Ministério da Defesa russo não se pronunciou sobre o incidente, mas um canal não oficial do Telegram descreveu-o como o pior dia para a aviação militar russa desde março do ano passado.

O jornal russo Kommersant disse que "um grupo de dois helicópteros Mi-8 e caças Su-34 e Su-35 se despenhou na região de Bryansk" e sugeriu que mais helicópteros podem ter sido atingidos.

"Os atacantes estão a ser procurados por terra e ar", acrescentou.

Segundo o Kommersant, "os caças deviam realizar um ataque com mísseis contra alvos na região de Chernihiv, na Ucrânia, enquanto os helicópteros deviam apoiá-los, inclusive para resgatar as tripulações dos Su se fossem abatidos por fogo inimigo. As quatro aeronvaes não regressaram ao aeródromo. Os seus pilotos foram mortos".

A informação do Kommersant não pôde ser verificada de forma independente. Mas outras fontes russas noticiaram o incidente, com um popular canal de Telegram sobre o conflito a dizer: "Estamos a falar de uma operação [ucraniana] cuidadosamente planeada."

Fumo visível após a alegada queda de um caça Su-34 em Bryansk, Rússia, a 13 de maio. kommersant/Telegram

Andrei Medvedev, deputado do conselho municipal de Moscovo, disse no sábado que tinham perdido quatro aeronaves e acrescentou: "Lugansk ontem [uma referência aos ataques com mísseis], um ataque à nossa força aérea hoje. A sondar as defesas. Onde é que elas quebram. E ataques na retaguarda, infraestrutura e aviação."

Outro canal russo do Telegram que publica diariamente informações sobre a guerra afirmou que os ucranianos estavam "a lançar rockets a partir da região de Chernihiv, chegando quase à fronteira".

Daniil Bezsonov, um bloguista militar russo, publicou no sábado que, "muito provavelmente, foi uma emboscada do inimigo e das suas forças de defesa aérea, que se moveram para a zona fronteiriça com antecedência, de onde a distância permitiria que o nosso grupo aéreo fosse atingido". "Portanto, o inimigo, muito provavelmente, conhecia a rota e a hora da partida da nossa esquadra".

Os bloguistas russos também ficaram consternados com o facto de um dos helicópteros Mi-8 abatidos ter equipamento avançado de bloqueio de radiofrequência.

Uma conta russa do Telegram afirmou que era "uma completa idiotice" enviar um helicóptero deste tipo para tão perto das defesas ucranianas, dizendo que "era preciso estar completamente desligado da realidade" para enviar os Mi-8 especialmente equipados para uma zona destas.

Os analistas militares acreditam que a Ucrânia pode ter deslocado as suas defesas aéreas para a fronteira, em regiões como Chernihiv, para combater a crescente utilização pelos russos de bombas que podem ser lançadas à distância, atuando quase como mísseis.

Yuriy Ihnat disse no mês passado que os russos estavam a converter bombas aéreas FAB-500 em mísseis de cruzeiro. E que estão a lançar estas bombas "de uma distância que é inalcançável para a defesa aérea ucraniana", afirmou. 

Mykola Oleshchuk, comandante da Força Aérea ucraniana, também sugeriu que a natureza da ameaça mudou.

"Os aviões russos não entram na zona de dano das nossas defesas aéreas, atacando remotamente a linha da frente e as cidades próximas da linha da frente", disse no Telegram em abril.

Os acontecimentos de sábado em Bryansk sugerem que essa zona pode agora ter sido alargada ao território russo.

Sugere também - tal como várias fontes russas não oficiais referiram - que, neste caso, a Ucrânia possuía informações pormenorizadas sobre a missão russa. Este facto pode ser tão preocupante para a Rússia como a perda de quatro aviões em território russo.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados