"Não, isso não está a ser considerado", garantiu Jake Sullivan este domingo. "O que estamos a fazer é a reforçar várias capacidades convencionais da Ucrânia para que possa efetivamente defender-se na luta contra os russos, não as capacidades nucleares"
Os Estados Unidos excluíram em definitivo a ideia de reinstalar o armamento nuclear da Ucrânia, assegurou este domingo Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Joe Biden, numa entrevista à ABC News.
O esclarecimento surge depois de o New York Times ter noticiado há um mês, citando fontes ocidentais sob anonimato, que o Presidente norte-americano estaria a ponderar devolver armas nucleares à Ucrânia antes de concluir o seu mandato e passar o testemunho a Donald Trump, que toma posse a 20 de janeiro.
Questionado sobre a notícia, Sullivan respondeu: "Não, isso não está a ser considerado. O que estamos a fazer é a reforçar várias capacidades convencionais da Ucrânia para que possa efetivamente defender-se na luta contra os russos, não as capacidades nucleares."
Quando se tornou independente em 1991, a Ucrânia detinha o terceiro maior arsenal nuclear do mundo, que, segundo a Associação para o Controlo de Armas, incluía cerca de 1.900 ogivas nucleares, 176 mísseis balísticos intercontinentais e 44 bombardeiros estratégicos.
Ao longo dos cinco anos seguintes, contudo, a Ucrânia aceitou entregar todo esse armamento nuclear em troca de garantias de apoio económico e securitário da parte de Moscovo e também de Washington.
O acordo surgiu no contexto da campanha de desarmamento nuclear implementada pelos Estados Unidos e pela Rússia após a queda da União Soviética, para impedir que estas fossem parar às mãos de Estados párias, organizações terroristas e outros atores não-estatais.
O chamado Memorando de Budapeste foi assinado em 1994 por Kiev, Washington, Moscovo e Londres, sob a promessa de que a Ucrânia teria garantida a sua segurança face à ameaça do uso de força contra o seu território, a sua independência ou soberania. Em troca, o país comprometeu-se a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear enquanto Estado não-nuclear.
Em 2014, após a Rússia ter anexado a península da Crimeia, no que hoje todos veem como um primeiro passo para a invasão total da Ucrânia em fevereiro de 2022, EUA, Reino Unido e Ucrânia acusaram a Rússia de violar o Memorando de Budapeste. No ano passado, Vladimir Putin também retirou a Rússia do tratado que proíbe testes de armas nucleares.
A notícia de que os EUA não ponderam apoiar a Ucrânia com armamento nuclear surge após a Rússia ter alterado a sua doutrina para o uso deste tipo de armas, prevendo agora a possibilidade de as usar em resposta não apenas a um ataque que ameace a sua sobrevivência, mas também face a qualquer ataque que represente uma "ameaça crítica" à sua soberania e integridade territorial, agora que Kiev já está a usar armas de longo alcance dos EUA no teatro de combates.
A nova doutrina nuclear também prevê o uso do armamento contra Estados não-nucleares, algo que não estava previsto até hoje. E após estas alterações fulcrais, um alto oficial do Kremlin admitiu que Moscovo continua a ponderar a hipótese de retomar os testes de armas nucleares, algo que a Rússia não executa desde 1990.
“Esta é uma questão em aberto”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, à agência de notícias TASS, no sábado, quando questionado se Moscovo está a considerar essa hipótese.
“Sem antecipar nada, deixe-me simplesmente dizer que a situação é bastante difícil", adiantou o vice da diplomacia russa. A retomada dos testes de armas nucleares, disse ainda, "está a ser constantemente considerada em todos os seus componentes e em todos os seus aspetos”.