Uber processada por 550 mulheres que dizem ter sido "abusadas, violadas e raptadas" pelos motoristas

14 jul 2022, 10:12
Uber (GettyImages)

Queixa foi apresentada num tribunal de São Francisco, nos Estados Unidos. Sociedade de advogados que representa as vítimas diz ainda que pelo menos mais 150 casos de abusos sexuais estão a ser "ativamente investigados"

A Uber está a ser processada nos Estados Unidos por 550 mulheres, que alegam ter sido vítimas de abusos sexuais por motoristas da plataforma digital de transporte de passageiros.

Segundo a BBC, que cita o processo, as queixosas garantem ter sido "raptadas, sexualmente abusadas, sexualmente agredidas, violadas, aprisionadas de forma ilegal, perseguidas, assediadas ou atacadas de outras formas pelos motoristas da Uber".

O caso deu entrada no tribunal superior do condado de São Francisco na quarta-feira, ainda que fonte da sociedade de advogados que levou a Uber à Justiça garanta que os abusos sexuais aconteceram em "vários Estados" dos EUA. A mesma fonte indicou que pelo menos mais 150 casos de abusos sexuais estão a ser "ativamente investigados".

A Uber é também acusada de ter tido conhecimento logo em 2014 de que os motoristas que contratava assediavam e violavam passageiras mas, segundo o processo, a empresa terá dado prioridade ao crescimento em vez de se preocupar com a segurança dos clientes. 

"Todo o modelo de negócio da Uber assenta em oferecer às pessoas uma viagem segura para casa, mas a segurança dos passageiros nunca foi preocupação deles. O crescimento sim, às custas da segurança dos passageiros", frisou Adam Slater, sócio da Slater Slater Schulman, a sociedade de advogados que levou a Uber a tribunal, em declarações citadas pela BBC.

Um porta-voz da Uber já veio dizer que agressões sexuais são "um crime horrível" e que a empresa leva muito a sério cada caso que lhe é reportado, frisando que já foram implementadas medidas que têm em vista a segurança dos passageiros e que a própria Uber tem sido mais transparente sobre este tipo de incidentes. Sem querer comentar o processo que está a decorrer, o porta-voz da Uber declarou ainda que a empresa vai continuar a manter a segurança "no coração" do seu trabalho. 

Uber registou quase mil casos de abusos só em 2020

A Uber divulgou no mês de junho o seu segundo relatório de segurança, que revelou que foram registados em 2020 um total de 998 incidentes de abuso sexual, incluindo 141 violações. A empresa divulgou ainda que, entre 2019 e 2020, recebeu 3.824 queixas que se enquadram naquilo que a Uber definiu como as cinco categorias mais gravosas de abuso sexual, e vão de "beijo não consensual numa parte não sexual do corpo" até à penetração não consensual.

A Uber já tinha sido notícia nos últimos dias por causa dos Uber Files, uma investigação jornalística a partir de mais de 124 mil documentos da empresa obtidos pelo The Guardian e partilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, e que revelam que a Uber usou práticas anticoncorrenciais para entrar nos mercados, fez lóbi para mudar leis e criou sistemas para fugir ao controlo das autoridades.

Estes documentos confidenciais foram retirados da Uber por um antigo executivo, Mark MacGann, um dos que liderou os esforços da plataforma para assegurar que continuava a ganhar poder e influência sobre governos na Europa, no Médio Oriente e em África.

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