Michele Austin, diretora de Reclamações para os EUA e Canadá, foi uma das visadas e acabou por publicar na própria rede social a experiências: “Acordei e descobri que não vou trabalhar mais no Twitter. De coração partido. Não posso acreditar"
Uma semana depois de ter sido comprado por Elon Musk, o Twitter comprometeu-se a despedir metade dos trabalhadores, ao mesmo tempo que lança grandes projetos e luta contra usuários, anunciantes e associações preocupadas com a transformação da influente rede social.
“Cerca de 50% dos funcionários serão afetados” pelos despedimentos em andamento no Twitter, segundo um documento enviado esta sexta-feira aos funcionários da rede social, a que a France-Presse (AFP) teve acesso.
A empresa californiana, que tinha cerca de 7.500 funcionários no final de outubro, notificou milhares de pessoas por e-mail, explicando que o objetivo é “melhorar a saúde da empresa”.
“Acordei e descobri que não vou trabalhar mais no Twitter"
O Twitter anunciou também o encerramento temporário dos escritórios, para “garantir a segurança de cada funcionário, bem como dos sistemas e dados do Twitter”.
“Acordei e descobri que não vou trabalhar mais no Twitter. De coração partido. Não posso acreditar”, publicou a diretora de Reclamações para os EUA e Canadá, Michele Austin, na sua conta do Twitter.
“Os meus pensamentos, o meu respeito, a minha energia e o meu amor estão com os tweeps [nome dado aos funcionários do Twitter] em todo o mundo hoje. Juntos construímos a plataforma mais incrível do planeta”, escreveu o diretor-geral do Twitter em França, Damien Viel.
Na quinta-feira passada, quando Elon Musk assumiu o controle da empresa, o novo proprietário dissolveu o Conselho de Administração, demitiu executivos, assumindo o cargo de presidente executivo e retirando a empresa da bolsa.
Gerentes e departamentos de marketing e design parecem particularmente afetados, de acordo com um funcionário recentemente despedido, que preferiu permanecer anónimo.
Aquele funcionário teme que a nova gestão tente encontrar maneiras de reter as indemnizações, encontrando desculpas para acusá-los de má conduta profissional.
Despedimentos ocorreram sem aviso prévio
Entretanto, cinco funcionários do Twitter recentemente despedidos entraram com uma ação coletiva contra a empresa, por não terem recebido o aviso prévio de 60 dias exigido pela lei norte-americana para despedimentos coletivos.
Um deles, o francês Emmanuel Cornet, foi demitido por má conduta profissional sem explicação, apesar de estar entre os 5-10% dos melhores engenheiros da empresa, segundo listas compiladas esta semana.
“Estamos a testemunhar a destruição em tempo real de um dos sistemas de comunicação mais poderosos do mundo. Elon Musk é um bilionário imprevisível e inconsistente, ele representa um perigo para esta plataforma, que ele não está qualificado para liderar”, respondeu Nicole Gill, cofundadora da Accountable Tech, uma das organizações não governamentais que convocou os anunciantes para pressionar o novo chefe.
O empresário defende uma visão absolutista da liberdade de expressão, que, segundo os seus críticos, corre o risco de abrir as portas para o ressurgimento de abusos, como assédio, discurso de ódio, ou desinformação.
Vários grupos já decidiram suspender os gastos com publicidade no Twitter, incluindo a gigante americana agroalimentar General Mills, a fabricante automóvel americana General Motors e a sua concorrente alemã Volkswagen.
Adicionalmente, mais de um milhão de usuários parecem ter deixado a plataforma desde a última quinta-feira, segundo estimativas do Bot Sentinel, especialista em análise de contas de redes sociais.