"Senhor Musk, abandone o proto-fascismo": o Twitter suspendeu vários jornalistas e está complicado (e uma eurodeputada ameaça com sanções)

CNN Portugal , MJC
16 dez 2022, 15:17
Elon Musk (Getty Images)

Durante a noite de quinta-feira, Elon Musk, o proprietário do Twitter, fez diversas publicações justificando o facto de ter optado por suspender alguns dos mais importantes jornalistas de tecnologia dos EUA

"Cair no abuso de poder + banir jornalistas aleatoriamente só aumenta a tensão à sua volta. Dê um tempo e abandone o proto-fascismo. Experimente talvez desligar o seu telefone", aconselha a congressista democrata Alexanda Osario-Cortez a Elon Musk, o milionário que é agora também proprietário do Twitter. Esta declaração depois de uma noite intensa, em que o Twitter suspendeu ou baniu as contas de vários jornalistas de tecnologia. 

Todos esses jornalistas tinham publicado recentemente artigos sobre o facto de Musk ter decido suspender uma conta no Twitter que partilhava dados disponíveis publicamente dos movimentos do seu jato particular. Os artigos destacavam a tensão entre o compromisso declarado de Musk com a “liberdade de expressão” e a sua decisão de banir uma conta da qual ele pessoalmente não gostava. Numa série de tweets ao longo da noite, Musk explicou que partilhar a sua localização em tempo real no Twitter era proibido e acusou os jornalistas que o fizeram de publicar “coordenadas para um assassínio”.

Osario-Cortez mostra-se solidária com o facto de Musk se sentir inseguro mas explica-lhe que esta não é a reação mais correta: "Como alguém que esteve sujeito a ameaças reais + perigosas, eu entendo. Eu não tinha segurança e passei por muitos incidentes assustadores. Na verdade, muitos dos meios de comunicação de direita que agora exaltam publicaram fotos da minha casa, carro, etc. Mas, a certo ponto, é preciso desligar", diz.

Também o escritor Stephen King reagiu às notícias, pedindo explicações a Musk sobre a suspensão das contas dos jornalistas - "e é bom que tenha uma BOA justificação", escreveu.

 A eurodeputada Vera Jourova, que lidera o grupo de trabalho do Parlamento Europeus sobre valores e transparência, afirmou: "As notícias sobre a suspensão arbitrária de jornalistas no Twitter são preocupantes".  As regras existentes na União Europeia e os novos regulamentos digitais que entrarão em vigor no próximo ano exigem "respeito pela liberdade dos media e pelos direitos fundamentais".  "Existem linhas vermelhas. E sanções, em breve", ameaçou.

As "explicações" de Elon Musk

“Criticar-me o dia todo é totalmente ok, mas fazer doxxing [partilhar dados pessoais] da minha localização em tempo real e colocar a minha família em perigo não”, justificou-se Elon Musk, acrescentando ainda que “as regras de doxxing se aplicam a ‘jornalistas’ e a todos os outros”: “Eles publicaram a minha localização exata em tempo real, eram basicamente coordenadas para um assassínio, em (óbvia) violação direta dos termos de utilização do Twitter”.

No entanto, os artigos sobre Musk que os vários repórteres publicaram antes das suas contas serem suspensas não incluíam nenhuma informação sobre a sua localização em tempo real ou a localização de qualquer um de seus familiares. Os artigos focavam-se apenas na ElonJet, uma conta que, essa assim, publicou a localização do jato particular do milionário enquanto viajava para diferentes cidades.

Embora os jornalistas tenham afirmado que as suspensões eram permanentes, em vários tweets Musk disse que as suspensões seriam de apenas sete dias. “Algum tempo longe do Twitter faz bem à alma…”, tweetou Musk. Posteriormente fez uma sondagem, perguntando às pessoas se a proibição devia ser retirada agora, amanhã, em sete dias ou mais. A sondagem foi a favor do regresso imediato dos utilizadores, com 43% dos mais de meio milhão de votos escolhendo “agora”. Musk disse então que iria refazer a sondagem porque havia muitas opções, limitando-a a "agora" ou "em sete dias".

Quem são os jornalistas suspensos?

Entre os jornalistas suspensos estão profissionais do Washington Post, do New York Times, da Intercept, da CNN, do Mashable e do Voice of America, assim como jornalistas independentes.

Ryan Mac, repórter de tecnologia do New York Times, escreveu numa nova conta no Twitter que não recebeu "nenhum aviso" antes de a sua conta ser suspensa e que não recebeu nenhuma comunicação da empresa sobre o motivo da conta ter sido "suspensa permanentemente".

Drew Harwell, repórter do Washington Post, disse na sua conta de Mastodon que nas suas peças sobre Elon Musk recorreu a “dados disponíveis publicamente e obtidos legalmente”. Em comunicado, a direcção do jornal argumentou que a suspensão do seu repórter de tecnologia Drew Harnell "desmente a afirmação de Elon Musk de que ele pretende administrar o Twitter como uma plataforma dedicada à liberdade de expressão".

Pelo menos dois dos repórteres cujas contas foram suspensas teriam tweetado sobre uma declaração pública do departamento de polícia de Los Angeles (LAPD), respondendo a uma alegação que Musk tinha feito sobre um incidente em Los Angeles no qual ele disse que um perseguidor tinha como alvo um carro, acreditando que era o seu.

Donie O'Sullivan, o repórter da CNN Internacional cuja conta foi suspensa, é um dos principais repórteres do país sobre teorias da conspiração e desinformação. Em 2020 foi o autor de uma reportagem sobre a teoria da conspiração em volta do paciente zero de covid-19, com a qual foi nomeado para um prémio Emmy na categoria de Notícias & Documentários. Também fez uma impactante reportagem sobre o papel das redes sociais no ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021. Pouco antes de ser suspenso, Donnie O'Connel tinha partilhado um comentário da LAPD sobre Musk.

Por sua vez, Matt Binder, o repórter do Mashable cuja conta foi suspensa, “estava a tweetar sobre a suspensão de O’Sullivan quando a sua conta também foi suspensa”, informou o Washington Post.

A CNN declarou em comunicado: “A crescente instabilidade e volatilidade do Twitter deve ser uma preocupação para todos que usam a plataforma”. “Musk parece estar a eliminar as contas de que não gosta”, disse Donie O’Sullivan, um dos jornalistas cuja conta foi suspensa abruptamente, a Anderson Cooper, da CNN.

A Comissão para a Proteção dos Jornalistas dos EUA também reagiu, afirmando que se as proibições individuais fossem confirmadas como retaliação ao trabalho dos jornalistas seria uma “grave violação do direito dos jornalistas de relatar as notícias sem medo de represálias”.

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