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Jornalista,editor de Sociedade

A justiça e os "merdosos" da junta

23 mai 2023, 21:53

"Se a PJ tivesse mais meios estava tudo f...".  Quando disse isto ao telefone, em abril de 2018, o deputado Sérgio Azevedo não podia estar mais certo: foi esse estrangulamento da PJ que o livrou da prisão dois meses depois. E é aqui que começa a perversão do sistema, num bloco central de interesses com o poder de manter a justiça sequestrada pela asfixia financeira: quando avançou para a rua a operação Tutti Frutti, em junho desse ano, Azevedo e companhia só não foram presos porque a investigação não teria capacidade de fazer sair uma acusação em seis meses, como dita a lei.

Só que passaram cinco anos. E já não é a falta de meios que justifica a inércia da procuradora Andrea Marques, que não ata nem desata num processo onde até tem, como suspeitos, dois ministros do atual Governo PS - Medina e Duarte Cordeiro. Para não falar de três presidentes de juntas do PSD que se mantêm em funções em Lisboa e, pasme-se, um empresário com fortes indícios de corrupção por ganhar fortunas nessas juntas em ajustes diretos e que é hoje, alegremente, deputado da Assembleia da República - Carlos Eduardo Reis.

Tudo isto é criminoso e leva ao descrédito absoluto das instituições - desde logo as judiciais, quando o Ministério Público, titular da ação penal e garante da legalidade, é inexistente. E do outro lado, do poder político, nas lideranças do PS e PSD impera a total falta de vergonha, pela máxima de que 'enquanto o pau vai e vem folgam as costas'. 

Enquanto as costas folgam, a mesma gente que foi apanhada ao telefone na maior perversão do sistema democrático de que eu me lembro, de absoluto desrespeito pelo voto do eleitor e pelo dinheiro do contribuinte, continua a mandar nisto tudo.

Pactos secretos entre PS e PSD para apresentação de candidatos "merdosos" e distribuição prévia de juntas é o grau zero da política - a viciação de eleições democráticas, enganando os eleitores por quem esta gente não tem o mínimo respeito. E tudo, conforme fica escancarado em centenas de escutas telefónicas, para repartirem entre eles o dinheiro público que está em cima da mesa: nos tachos com empregos simulados para dezenas de outros parasitas que se estão "a cagar para o trabalho" e só querem "ordenado" (escuta) - e nas adjudicações por ajustes diretos com empresas de amigos. 

Sérgio Azevedo, um deputado a quem caíam milhares de euros dos amigos na conta bancária e que um dia chegou a vice-presidente da bancada do PSD no Parlamento, seria o padrinho laranja de um esquema miserável e que, num país a sério, já tinha levado esta gente para a Carregueira há cinco anos. Mas estamos em Portugal e, como ele diz, "se a PJ tivesse mais meios estava tudo f...". Assim, continua a festa.

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