O turismo do sono está a crescer - inclusive em Portugal

CNN , Tamara Hardingham-Gill
9 out 2022, 17:00
O turismo do sono está a crescer. Saiba porquê  (CNN)

Ir de férias pode parecer uma forma muito pouco convencional de tentar melhorar os seus hábitos de sono. Mas o turismo do sono tem vindo a ganhar popularidade há vários anos, com um número crescente de estadias focadas em dormir a surgir em hotéis e resorts no mundo inteiro. 

O interesse disparou desde a pandemia, com uma série de estabelecimentos de renome a centrarem a sua atenção nas pessoas que sofrem de privação de sono. Durante os últimos 12 meses, Park Hyatt New York abriu a suite Bryte Restorative Sleep, uma suite de 86 m2 repleta de amenidades para melhorar o sono, enquanto a Rosewood Hotels & Resorts lançou recentemente uma coleção de retiros chamada a Alquimia do Sono, que foram concebidas para “promover o descanso”. 

Zedwell, o primeiro hotel dedicado ao sono em Londres, que dispõe de quartos equipados com uma inovadora estrutura à prova de som, abriu no início de 2020. Por sua vez, o fabricante sueco de camas Hastens lançou o primeiro Hästens Sleep Spa Hotel, um hotel boutique de 15 quartos, na cidade portuguesa de Coimbra.

O impacto da pandemia 

Porque é que o sono se tornou subitamente um foco tão grande para a indústria de viagens?  

Rebecca Robbins, investigadora especializada na área do sono e coautora do livro "Sleep for Success!" acredita que esta mudança já vem de há muito tempo, sobretudo no que diz respeito aos hotéis. 

“Quando há oportunidade para tal, os viajantes reservam hotéis para dormir”, diz à CNN Travel, antes de salientar que a indústria hoteleira se tem concentrado principalmente em coisas que, no passado, prejudicavam o sono.  

“As pessoas associam normalmente viagens a refeições decadentes, alterações nos horários para descansar, às atrações e coisas que se fazem enquanto se viaja, que acontecem à custa do sono”, acrescenta. "Agora, creio que houve simplesmente uma tremenda mudança sísmica na nossa consciência coletiva e na priorização do bem-estar e saúde.” 

A pandemia à escala mundial parece ter desempenhado um enorme papel neste contexto. Um estudo publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine revelou que 40% dos mais de 2.500 adultos participantes relataram uma redução na qualidade do seu sono desde o início da pandemia. 

“Houve uma crescente consciencialização em relação ao sono durante o período da covid-19 e, provavelmente, porque muitas pessoas sofreram com esta falta de sono”, diz Robbins. 

Priorizar o sono 

Malminder Gill, hipnoterapeuta, meditador e treinador holístico, também notou uma mudança de atitude em relação ao sono. “Parece que está tudo a trabalhar para a longevidade, e acho que isso tem de facto impulsionado as coisas”, disse Gill à CNN Travel.

“Não é surpresa nenhuma que o sono é um elemento importante nas nossas vidas. A falta de sono pode causar muitos problemas diferentes no corpo e para a sua saúde mental. Ou seja, ansiedade, depressão, mau estado de espírito, mudanças de humor, todo o tipo de coisas, para além do cansaço.” 

Gill fez uma parceria com o Cadogan, um Hotel Belmond em Londres, para criar um serviço especial para os hóspedes com problemas de sono chamado “Sleep Concierge”. 

Este serviço inclui uma gravação de meditação indutora de sono, um menu de almofadas com opções que atendem às diferentes necessidades dos hóspedes, que podem preferir dormir de costas ou de lado. Também tem a opção de um cobertor com peso, um chá para dormir especialmente concebido para o serviço e um spray perfumado para a almofada. 

“Coisas diferentes funcionam para pessoas diferentes em fases diferentes da sua vida”, diz Gill sobre os diferentes artigos oferecidos dentro do serviço. 

Práticas indutoras do sono 

Brown's Hotel em Mayfair, Londres, inaugurou a experiência 'Forte Winks' durante duas noites em outubro

“Temos tentado aumentar as probabilidades a nosso favor. Se combinarmos todas essas coisas, diria que há uma maior probabilidade de termos um sono de melhor qualidade. Mas não me parece que seja igual para todos.” 

Os tipos de programas de sono e/ou retiros oferecidos por hotéis e resorts também tendem a variar, com diferentes estabelecimentos a abordarem o conceito de diferentes maneiras. 

A prestigiada cadeia hoteleira Six Senses oferece uma variedade de programas de sono, de três a sete dias ou mais, em diversas propriedades, enquanto o Brown's Hotel, um hotel Rocco Forte em Mayfair, Londres, recentemente inaugurou as ‘Forte Winks’, uma experiência de duas noites concebida especialmente para ajudar os hóspedes “a dormir serenamente”. 

“O sono tem uma importância enorme e notámos que há de facto uma tendência no turismo do sono, e no bem-estar em geral, depois da covid e dos confinamentos”, explica Daniela Moore, gerente sénior de relações públicas do grupo Rocco Forte Hotels. “Portanto, queríamos aproveitar a oportunidade para mostrar o Brown's como um hotel que se preocupa em oferecer-lhe a sua melhor noite de sono.” 

Para Gill, o surgimento constante deste tipo de experiências é um sinal de que a “narrativa de ficar acordado para fazer as coisas” está a ser desafiada, e as pessoas começam a ter uma compreensão mais profunda de quão importante é o sono. 

Será uma solução rápida? 

A Sleep Suite do Park Hyatt New York dispõe de uma cama restauradora king-size da Bryte e produtos que melhoram o sono, tais como difusores de óleo essencial, roupa de cama Nollapelli e máscaras para dormir

Mas será que as experiências de viagens de curto prazo focadas no sono podem realmente ter um impacto a longo prazo sobre o sono geral de uma pessoa?

Segundo Robbins, experiências de viagem centradas em “estratégias de sono saudável” que visam fornecer aos hóspedes os instrumentos de que necessitam para melhorar o seu sono podem ser extremamente benéficas, desde que um especialista médico ou científico conceituado esteja envolvido de alguma forma para ajudar a determinar se pode haver algo mais em jogo. 

“Se alguém vier a um destes retiros e não estiver a ver nenhum progresso, poderá ser porque tem um distúrbio do sono não tratado”, explica, apontando como potenciais causas como a apneia do sono, síndrome das pernas inquietas, ou insónia.  

“É por isso que é de importância extrema certificar-se de que os hotéis estão a fazer parcerias com cientistas e profissionais médicos que possam conferir cuidadosamente estas estratégias.” 

O Mandarim Oriental, em Genebra, deu um passo em frente ao juntar-se ao CENAS, uma clínica médica privada especializada em sono na Suíça, para elaborar um programa de três dias que estuda os padrões de sono dos hóspedes a fim de identificar potenciais distúrbios. 

Embora a maioria dos estabelecimentos e experiências focados no sono tendam a enquadrar-se no setor das viagens de luxo, Robbins acredita que todos os hotéis e resorts deveriam fazer disto uma prioridade. “Há formas de o tornar significativo em cada nível", acrescenta, salientando que "não custa muito deixar um par de tampões para os ouvidos ao lado da mesa de cabeceira”. 

À medida que o turismo do sono continua a crescer, Robbins diz estar ansiosa por ver “quem realmente continua a ser pioneiro e a pensar criativamente sobre este assunto”, salientando que existem inúmeros caminhos que ainda não foram completamente explorados quando se trata de viajar e da ciência do sono. 

“A ideia de que viajar pode rejuvenescê-lo e permitir-lhe regressar a casa renovado e restaurado é uma proposta verdadeiramente entusiasmante”, acrescenta.

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