Portugal Tour

12 de março 2025 | 15H00

 Bolsa de Turismo de Lisboa | FIL

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"Ninguém quer vir a Lisboa e comer kebabs". E este banqueiro tem outro pedido: "Bora lá pensar Portugal, em vez de se olhar só para o umbigo"

12 mar, 21:36

A Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), na FIL, foi o palco para a CNN Portugal Summit PORTUGAL TOUR. A conferência assentou no Turismo, mas foi impossível ignorar a queda do Governo de Luís Montenegro

Volvidos 16 anos da já quase esquecida crise de 2008 é inegável dizer-se que o Turismo cresceu e que se acabou por transformar numa das principais armas da Economia nacional para fazer frente a futuras crises. E, por falar em crises, Portugal acaba de entrar numa crise política com a queda do Governo de Luís Montenegro. Estes foram os dois tópicos em destaque na CNN Portugal Summit PORTUGAL TOUR.

Dos dois ex-secretários de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes e Rita Marques, pouco ou mesmo nada se ouviu sobre as ondas de choque inerentes ao que aconteceu na terça-feira no Parlamento. Já o atual detentor do cargo falou do colapso do Executivo sem falar. Pedro Machado cingiu-se sobretudo ao Turismo e lembrou que o setor “está a viver um pico de sucesso”, mas porquê? Porque, explica o secretário de Estado, “a estratégia foi sendo sempre reforçada” governo após governo, “sem sofrer saltos quânticos”. Pedro Machado considera que o segredo por detrás deste “bom exemplo de atividade económica em Portugal” é simples: chama-se “estabilidade”.

Carlos Moedas também foi parco nas palavras sobre o tema do momento, mas não fugiu ao tópico, referindo que uma crise política “tem sempre impacto” e que esta quarta-feira era “um dia dececionante e preocupante, mas Lisboa é uma cidade forte”.

"Eleições criam sempre instabilidade. Ninguém desejava ontem ter uma notícia no Financial Times. Não é positivo”, admtiu o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que prometeu que vai "ser o garante da serenidade" para a capital.

Um dos 16 oradores presentes na CNN Portugal Summit dedicada ao Turismo que menos pudores teve em falar sobre a crise política instalada no país foi o CEO do BPI. João Pedro Oliveira e Costa, o gestor responsável pelo quinto banco mais lucrativo do país, critica que “nos últimos dias a palavra que não se ouviu foi Portugal": "Não sei se é este o exemplo que eu quero deixar aos meus filhos, nem sei se é este o método de se gerir uma empresa tão grande chamada Portugal - não pode sistematicamente estar a adiar os problemas”.

"Tivemos um crescimento muito interessante nos últimos 4 anos, mas temos imensos desafios pela frente", disse Oliveira e Costa, questionando: "Pergunto-me se é normal viver-se sempre em perturbação?".

O presidente e CEO da TAP, Luís Rodrigues, também não arriscou alongar-se muito sobre a crise política, mas enalteceu que, nos últimos anos, a “TAP se transformou numa empresa normal". E, com ou sem privatização, o rumo da TAP é apenas um: “Caminhar para a excelência sendo empresa pública ou privada”.

Turismo é "a indústria"

A abertura da CNN Summit ficou a cargo de António Ramalho, presidente da Comissão Executiva de Lisboa - FCE [Feiras, Congressos e Eventos] - FIL e ex-CEO do Novo Banco, que deu início à conferência com um chavão: “O Turismo é neste momento 'a indústria'”. António Ramalho justifica lembrando que o setor já representa cerca de 20% das exportações nacionais e que “é a indústria mais relevante em Portugal”.

Rita Marques, presidente Conselho Estratégico da BTL e ex-secretária de Estado Turismo do governo de António Costa, concorda com António Ramalho. A especialista lembra que o Turismo nacional “passou da estagnação da pandemia para números absolutamente impressionantes”, mas desengane-se quem ache que o trabalho está todo feito e agora é só descanso. Rita Marques defende que a próxima fase do setor tem obrigatoriamente de passar por atrair “turistas com qualidade”, referindo-se a estrangeiros com maior poder de compra e que não visitem o território nacional unicamente nas épocas de maior procura como o verão.

O histórico social-democrata e atual presidente da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), José Luís Arnaut, - que de quedas de governos também não quis muito falar - destaca que o crescimento do Turismo foi tal e o setor é tão importante para o país que “o PIB direto do Turismo em Lisboa já está nos 13% e o indireto nos 37%”.

Carlos Moedas reconheceu que o Turismo é uma mais-valia para a cidade e garantiu que “não há muito Turismo em Lisboa, está é mal distribuído". O autarca defendeu que o setor tem de se “conectar” com a cidade e que “é necessário que a lisboetas sintam que o Turismo lhes traz algo melhor". 

"A aceitação do turismo é fundamental, porque é essencial para a Economia. Mas, sem regulação vamos caminhar para o desastre", diz Arnaut.

Esta regulação passa pelas tão faladas - e por vezes criticadas - taxas turísticas, que José Luís Arnaut considera serem essenciais: "Nunca deixou de vir um turista a Lisboa por causa da taxa turística", começa por lembrar Arnaut, acrescentando que  "o turista que vem tem de contribuir pela pegada deixada".

Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo, advogado especialista em regulação de Inteleigância Artificial (IA) e histórico do CDS-PP, também esteve presente, mas restingiu o discurso aos perigos e benefícios da IA para empresas e, sobretudo, para o setor do Turismo, lembrando que “muitos dos riscos da IA não são intuitivos para empresas”.

Juntamente com Mesquita Nunes, estiveram Bernardo Correia, Country Manager Google Portugal, e Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS. Bernardo Correia iniciou a sua intervenção com um agradecimento especial aos ex-secretário de Estado do Turismo por ter conseguido fazer o melhor negócio da história recente de Portugal: "O dinheiro mais bem gasto em Portugal de longe foi o investimento no Turismo", enalecendo o retorno que a Economia nacional tem vindo a ter nos últimos anos.

Contudo, todo o bom negócio pode colapsar sem que nada o faça prever – ainda se lembra quando tínhamos todos um Nokia no bolso? O embaixador António Martins da Cruz alerta os responsáveis pelo Turismo para o risco inerente aos recentes acontecimentos geopolíticos. Martins da Cruz refere-se a fenómenos como a guerra na Ucrânia, as tarifas de Donald Trump e até as relações União Europeia - China e Estados Unidos - China que podem ter um impacto negativo sem qualquer aviso prévio.

Mais uma vez, foi o senhor do BPI a alerta para o que parece evidente: "O Turismo é dos setores mais dependentes de terceiros". João Pedro Oliveira e Costa não se refere apenas a cenários como aquele a que assistimos durantes os confinamentos pandémicos, mas sim ao facto deste ser um setor que “vende experiências”. A experiência neste caso é visitar Portugal e isso implica que a experiência tenha de ser aprazível no hotel, no restaurante e até nos transportes, porque caso contrário há o risco de a experiência não ter sido tão boa que mereça ser repetida. "Ninguém quer vir a Lisboa e comer kebabs, logo na capital não se pode exclusivamente vender kebabs”, explica.

Quanto à crise política, Oliveira e Costa desvalorizou o impacto que terá na Economia nacional e no sistema bancário, porque “felizmente ou infelizmente já estamos habituados - só não sabemos se agora vai ser ano a ano”.

“Bora lá pensar Portugal, em vez de se olhar só para o umbigo”, culminou o banqueiro responsável pelo BPI, questionando: "Porque é que não nos centramos muito mais naquilo que nos une do naquilo que nos afasta? Pergunto-me se é normal viver-se sempre em perturbação?".

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