Medicamento aprovado e vacinas. Os tratamentos que existem para a varíola dos macacos

20 mai 2022, 08:00
Laboratório. (AP Photo/Allen Sullivan)

A Agência Europeia do Medicamento aprovou recentemente um medicamento, mas o foco está na vacinação, que se assume como a melhor forma de bloqueio da transmissão

Numa altura em que cresce o número de casos de humanos infetados com a varíola dos macacos, estando já diagnosticados 14 casos em Portugal, levantam-se questões quanto ao tratamento e à eficácia da vacinação - que foi responsável pela erradicação da varíola ‘comum’ nos anos 80.

Segundo Luís Mendão, médico e responsável nos serviços da IPSS, o Grupo de Ativista em Tratamento (GAT), a Agência Europeia do Medicamento (EMA) “aprovou em janeiro deste ano um medicamento que se chama Tecovirimat”, da empresa SIGA, e que foi desenvolvido para “tratar as três infeções causadas por uma única família de vírus, os Ortopoxvírus”, no qual se inclui a varíola dos macacos. Diz o especialista que este medicamento “serve para tratar eventuais complicações que pudessem haver a seguir à vacinação” ou à própria infeção.

De acordo com a EMA, este medicamento pode ser usado em pessoas com mais de 13 quilos e “está disponível na forma de cápsulas, a tomar por via oral, e a dose depende do peso corporal”. O tratamento com Tecovirimat deve ser iniciado o mais rapidamente possível após o diagnóstico.

A formulação oral de TPOXX (tecovirimat) está aprovada nos EUA, Canadá e Europa para o tratamento da varíola, mas enquanto a a Food and Drugs Administration aprovou para o uso da varíola humana, a Europa inclui o fármaco no tratamento da varíola do macaco, da varíola bovina e de complicações da imunização com vaccinia

Este medicamento está já aprovado em Portugal, segundo o Infarmed. No entanto, ainda não está em uso.

De acordo com Fernando Maltez, infeciologista no Hospital Curry Cabral, “este medicamento é o único fármaco até agora que foi aprovado”, tanto pelo FDA como pela EMA. “Poderá ser uma opção”, mas ainda não está a ser usado. “Não temos nenhuma experiência com esse fármaco, neste momento nao estamos a usar”. Porém, não descarta que, na existência de um aumento do “número e da gravidade dos casos, se estiver disponível e houver indicação para o fazer, pode ser uma opção”.

No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra-se mais cautelosa e continua a reforçar a importância da vacinação, defendendo que, de momento, não há um tratamento específico recomendado para a varíola dos macacos, causada pelo vírus monkeypox, do género Ortopoxvírus. A terapêutica usada depende de caso para caso e pode ser mais focada na atenuação das lesões cutâneas e, em duas a quatro semanas, a pessoa pode recuperar.

O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) reforça que, de momento, “não há tratamento comprovado e seguro para a infecção pelo vírus da varíola dos macacos”. Para fins de controlo de um surto de varíola nos Estados Unidos, “a vacina contra a varíola, antivirais e imunoglobulina vaccinia (VIG) podem ser usados”, diz o organismo. 

O papel da vacinação

“A vacinação contra a varíola com a vacina vaccinia [vírus do género Orthopoxvirus da família Poxviridade e usado na inoculação] foi demonstrada através de vários estudos observacionais como sendo cerca de 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos”, afirma o organismo, defendendo que, “assim, a vacinação prévia contra a varíola na infância pode resultar num curso mais leve da doença”.

Segundo o enfermeiro Mário A. Macedo, as vacinas “são eficazes inclusive a quebrar cadeias de transmissão”, devendo “ser administradas numa estratégia de vacinação em anel”, a “contactos de casos” confirmados da doença. “Mas o próprio caso, até ao quarto dia de doença, beneficia se for vacinado. Após o quarto dia é que já não há benefício”, destaca.

Diz ainda a OMS que, “embora uma nova vacina tenha sido aprovada para a prevenção da varíola dos macacos, a vacina tradicional contra a varíola demonstrou fornecer proteção”. No entanto, “estas vacinas não estão amplamente disponíveis” e o organismo acredita que "o aumento da suscetibilidade dos humanos à varíola esteja relacionado com o declínio da imunidade devido à cessação da imunização contra a varíola”. 

“O contacto com animais vivos e mortos através da caça e o consumo de [animais de] caça selvagem ou uso de produtos derivados de animais são fontes presumidas de infecção humana. Casos mais leves de varíola em adultos podem não ser detetados, diagnosticados erroneamente ou não relatados e representam um risco de transmissão de humano para humano”, adverte a OMS.

Os Estados Unidos licenciaram em 2019 uma vacina capaz de proteger contra a varíola e a varíola dos macacos, a Jynneos da Bavarian Nordic. Para Luís Mendão, a empresa que desenvolveu esta vacina “previa que começasse a produzir a vacina em 2023”, mas defende que, “se isto agravar, era importante que a Europa fizesse o mesmo” e apostasse nos “núcleos de maior risco” de contágio.

“Como o vírus da varíola dos macacos está intimamente relacionado ao vírus que causa a varíola, a vacina contra a varíola também pode proteger as pessoas contra a varíola dos macacos”, escreve o CDC, que destaca ainda que “os especialistas também acreditam que a vacinação após a exposição à varíola pode ajudar a prevenir a doença ou torná-la menos grave”.

Em 2007, a Food And Drugs Administration (FDA) aprovou a vacina ACAM2000, produzida pela Emergent Product Development, que se mostra eficaz na proteção contra a varíola. Esta vacina contém um vírus vaccinia vivo e acredita-se que ofereça alguma proteção contra a varíola dos macacos, estando destinada a maiores de 18 anos e pessoas consideradas de alto risco de contrair a doença. 

A Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado dos EUA (BARDA) encomendou, este mês, 13 milhões de doses de uma versão liofilizada da vacina contra a varíola produzida pela Bavarian Nordic.

A vacinação é a maior arma contra a doença e foi a responsável pela erradicação da varíola em 1980, com o último caso descrito em 1977, na Somália, tendo o primeiro caso em humanos acontecido apenas sete anos antes, na República Democrática do Congo. Entretanto, foram surgindo casos e pequenos surtos, sendo considerada uma doença endémica na República Democrática do Congo, como relata a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A vacina da varíola saiu do Plano Nacional de Vacinação em 1977. 

Relacionados

Saúde

Mais Saúde

Patrocinados