Bananas, ananás e lulas: traficante conta como entravam quilos de droga em Portugal

3 jun, 21:35

Novo vídeo mostra como funcionava um esquema que envolveu corrupção no Estado

Luís Mayer era um dos mais altos responsáveis por uma grande operação que permitia a entrada de droga em Portugal, de onde acabava por sair com destino a toda a Europa.

Depois de ter divulgado a confissão em vídeo de um pacto no qual agentes da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) deixaram passar 1.300 quilos de cocaína pelo porto de Lisboa (e não só) a troco de 700 mil euros, a CNN Portugal traz novos dados deste caso.

São imagens em que Luís Mayer, responsável da rede de tráfico de droga, explica toda a operação que tinha a capital portuguesa como base de rotação para a receção e distribuição da droga que chega do outro lado do Atlântico e entra na Europa.

Na prática, é um manual de atividades que explica como os cartéis conseguiam circular a droga por Portugal sem nunca serem intercetados.

Um dos exemplos é a forma como a droga entrava no porto de Lisboa. Primeiro como ananás ou bananas, depois como calamares. "Até que dizem ‘nós vamos arranjar uma solução diferente, nós vamos mandar isto em calamares, em lulas’. E eu fiz o costume... ‘olhe isto já não vai vir em ananás e em bananas vai vir em calamares’."

Não interessava se era fruta, peixe ou qualquer alimento, mas sim garantir que 1.300 quilos de cocaína entravam mesmo em Portugal de forma segura e escondida no porto de Lisboa.

Isto porque era lá que estava um funcionário do Estado que iria fechar os olhos aos contentores, que passaram então a ser de lulas. Uma garantia para os cartéis de que a droga entrava mesmo.

O homem em causa era fiel aos dois inspetores da AT que se sentaram à mesa na casa de Luís Mayer, onde aceitaram receber 700 mil euros para fecharem os olhos ao caso.

E a missão de Luís Mayer era essa: fazer entrar a droga em Portugal, no caso em concreto pelo porto de Setúbal.

De acordo com o Ministério Público, toda esta organização tinha como responsável máximo em Portugal o próprio Luís Mayer, homem que foi preso em fevereiro de 2024 depois de ter sido apanhado no meio de um processo de tráfico de 1.300 quilos de cocaína que chegavam do Equador.

Ele e mais sete cúmplices. Apanhado pelas autoridades, o homem entregou à Polícia Judiciária vários vídeos onde se confirma a corrupção a agentes do Estado, nomeadamente inspetores da AT.

No dia em que os contentores saíram do porto de Lisboa, o líder da rede de tráfico de droga conduziu outros três suspeitos até à Usseira, em Óbidos, onde estava previsto que a cocaína chegasse dissimulada nas tais embalagens de lulas congeladas.

Os traficantes pensavam que estava tudo a correr dentro do plano, mas a Polícia Judiciária estava a acompanhar a par e passo o processo.

Até aí chegar, foi no momento gravado por Luís Mayer e revelado pela CNN Portugal que tudo começou: o responsável conseguia garantir a colaboração de dois inspetores tributários e abrir as portas para a entrada de droga em Portugal.

Só que Luís Mayer acabou detido e a entregar os seus cúmplices, incluindo antigos colegas de escola.

A confiança entre todos parecia firme. Até Luís Mayer ter sido detido e entregar os cúmplices.

Há agora vários arguidos neste caso, que investiga crimes graves, incluindo corrupção.

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