Os trabalhadores estão a lutar para lidar com um “dia de trabalho aparentemente infinito”, que envolve uma carga crescente de reuniões marcadas inclusive para a noite e um fluxo quase constante de interrupções, de acordo com uma nova investigação da Microsoft.
A empresa analisou dados de utilizadores dos serviços Microsoft 365 - que incluem o Outlook e o PowerPoint - a nível global entre meados de janeiro e meados de fevereiro. Descobriu-se que o número de reuniões marcadas entre as 20:00 e pouco antes da meia-noite aumentou 16% em comparação com o ano passado. As equipas geograficamente dispersas, bem como as que têm acordos de trabalho flexíveis, foram responsáveis por grande parte desse aumento.
“O dia de trabalho infinito... começa cedo, principalmente no correio eletrónico, e rapidamente se transforma num dilúvio de mensagens, reuniões e interrupções que prejudicam a concentração”, afirma a Microsoft num relatório divulgado esta semana.
A empresa descobriu que o trabalhador comum é interrompido a cada dois minutos por uma reunião, um e-mail ou uma notificação de chat durante um turno normal de oito horas, ou seja, 275 vezes por dia.
E essas mensagens não param depois da hora de saída. Durante o período do estudo, o funcionário comum enviou ou recebeu 58 mensagens instantâneas fora do seu horário de trabalho, um aumento de 15% em relação ao ano passado.
O trabalhador típico também recebe 117 mensagens de correio eletrónico por dia e, por volta das 22 horas, quase um terço dos empregados está de volta às suas caixas de entrada, “o que aponta para um aumento constante da atividade fora do horário de trabalho”, observa a Microsoft.
“Para muitos, o dia de trabalho moderno não tem um início nem um fim claros”, diz a empresa no seu relatório. “À medida que as exigências empresariais se tornam mais complexas e as expectativas continuam a aumentar, o tempo outrora reservado à concentração ou à recuperação pode agora ser passado a recuperar o atraso, a preparar-se e a procurar clareza.”
"É o equivalente profissional da necessidade de montar uma bicicleta antes de cada passeio. Gasta-se demasiada energia a organizar o caos antes de se poder começar um trabalho significativo", compara.
"Impossível de acompanhar"
Um dos resultados é que um terço dos trabalhadores sente que tem sido “impossível acompanhar” o ritmo de trabalho nos últimos cinco anos, de acordo com a pesquisa encomendada pela Microsoft a 31.000 trabalhadores de todo o mundo, citada no relatório.
“Cada notificação de correio eletrónico ou mensagem pode parecer pequena, mas em conjunto podem definir um ritmo frenético para o dia seguinte”, argumenta a empresa.
Metade de todas as reuniões têm lugar entre as 9 e as 11 da manhã e entre as 13 e as 15 horas, segundo a Microsoft, “precisamente quando, como mostram os estudos, muitas pessoas têm um pico de produtividade natural no seu dia, devido aos seus ritmos circadianos”.
Em última análise, segundo a Microsoft, os chefes e os colegas ávidos de reuniões minam a produtividade dos trabalhadores, sendo que alguns funcionários com falta de tempo são forçados a recuperar o tempo perdido ao fim de semana.
“Em vez de um trabalho profundo... as horas nobres são passadas a percorrer um carrossel de chamadas”, observa a empresa.
A inteligência artificial pode ajudar a aliviar a carga dos trabalhadores, segundo a Microsoft. A tecnologia pode ajudar a realizar tarefas administrativas de “baixo valor”, diz, libertando tempo para as pessoas trabalharem no que realmente beneficia a organização.
No entanto, a ascensão da IA tem alimentado a ansiedade sobre o potencial da tecnologia para expulsar os trabalhadores humanos dos seus empregos. De acordo com um inquérito do Fórum Económico Mundial, publicado em janeiro, 41% dos empregadores tencionam reduzir a sua força de trabalho à medida que a IA automatiza determinadas tarefas.
*Olesya Dmitracova contribuiu para este artigo