Morreu Tina Turner, a "primeira mulher negra a encher estádios em todo o mundo"

CNN Portugal , com Lisa Respers France e Brandon Griggs, CNN
24 mai 2023, 19:38

A cantora, compositora e atriz norte-americana tornou-se um ícone, tendo vendido mais de 180 milhões de discos

A artista Tina Turner morreu esta quarta-feira aos 83 anos, informou o seu porta-voz num comunicado que refere que a rainha do Rock'n Roll "faleceu pacificamente aos 83 anos, após lutar contra doença prolongada".

Tina Turner morreu na sua casa em Küsnacht, perto de Zurique, na Suíça. "Com ela, o mundo perde uma lenda musical e um exemplo a seguir", acrescenta o comunicado.

Nascida Anna Mae Bullock em 26 de Novembro de 1939, a cantora, compositora e atriz americana tornou-se um ícone, tendo vendido mais de 180 milhões de discos. Reconhecida pela sua voz eletrizante, é considerada por muitos a mais vibrante cantora da história da música.

Anna Mae Bullock foi criada numa pequena comunidade chamada Nutbush, no Tennessee e começou o seu percurso musical quando ainda era uma adolescente em coros de igreja e espetáculos de talento. "Não estávamos na pobreza. Tínhamos comida na mesa. Só não tínhamos coisas extravagantes, como bicicletas", disse Turner numa entrevista de 2005 a Oprah Winfrey.

"Éramos pessoas da igreja, por isso, na Páscoa, arranjávamo-nos todos. Eu era muito inocente e não sabia muito mais. Conhecia a rádio - B.B. King, country e western. Era só isso. Não sabia nada sobre ser uma estrela até os brancos nos deixarem descer e ver a sua televisão uma vez por semana".

O talento e energia que demonstrou nessa altura fez com que fosse escolhida para se juntar aos Kings of Rythm, a banda de Ike Turner, na década de 1950.

Ike & Tina. As primeiras entradas nos tops

Foi nesses anos que adoptou o nome artístico Tina Turner. Nos anos 60 e 70, já parte da dupla dinâmica Ike & Tina Turner a sua carreira disparou. Atuações ao vivo e êxitos no topo das tabelas, como "Proud Mary" e "River Deep - Mountain High", fizeram de Ike e Tina um dos grupos de R&B de maior sucesso da época.

No entanto, a vida pessoal de Tina foi marcada por uma relação abusiva com Ike, da qual conseguiu escapar no final da década de 70.

Tina e Ike casaram-se em 1962 e permaneceram numa relação durante 16 anos anos, um período onde foi vítima de violência física e psicológica. Numa situação, Ike chegou a partir a mandíbula a Tina e atingiu-a no rosto com café a escaldar. No meio de tudo isto, obrigava-a a cantar mesmo com lesões profundas e controlava-a financeiramente.

No dia 4 de julho de 1976, Tina Turner decidiu abandonar o seu marido durante uma estadia em Dallas, no Downtown Statler Hotel e acabou por encontrar refúgio num hotel a poucos quilómetros. 

Rainha em nome próprio

A partir desse momento, embarcou numa carreira a solo na década de 80, alcançando vários sucessos, como o seu álbum "Private Dancer" (1984) que será lembrado como um fenómeno mundial - nele constavam singles como "What's Love Got to Do with It" e "Better Be Good to Me". A voz rouca e distinta de Turner, a sua energia ilimitada e a sua presença dinâmica em palco cativaram audiências em todo o mundo, solidificando o seu estatuto de "Rainha do Rock 'n' Roll".

Ao longo da carreira, Turner recebeu vários prémios Grammy, entrou no Rock and Roll Hall of Fame e tem uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood. As suas atuações ao vivo, caracterizadas por rotinas de dança enérgicas e a sua voz ardente característica, tornaram-se lendárias.

Nos ecrãs, Turner também se dedicou à representação, aparecendo em filmes como "Tommy" (1975) e "Mad Max Beyond Thunderdome" (1985). 

Também em 1985, no auge da fama, participou no single de beneficiência "We Are the World", e atuou com Mick Jagger nos históricos concertos Live Aid. No ano seguinte, Turner relatou toda a história do início da sua carreira e do seu casamento abusivo num livro de memórias best-seller, "I, Tina", que foi adaptado para um filme de sucesso de 1993, "What's Love Got To Do With It", protagonizado por Angela Bassett.

Os álbuns de sucesso, os singles e os concertos esgotados continuaram durante o final dos anos 80 e os anos 90, e Tina Turner continuou a ser uma artista popular ao vivo até ao novo milénio.

Mudança para a Europa

Nos anos 90, Turner mudou-se para a Suíça com o namorado alemão Erwin Bach, um executivo da sua editora discográfica. Ele era 16 anos mais novo. O casal casou-se em 2013 após uma relação romântica de 27 anos e em 2022 comprou uma propriedade de 76 milhões de dólares no Lago Zurique.

"Eu pago impostos aqui (nos EUA). A minha família está cá", disse ela a Larry King, da CNN, em 1997. "Deixei a América porque o meu (maior) sucesso estava noutro país [sobretudo em Inglaterra] e o meu namorado estava noutro país. A Europa tem-me apoiado muito na minha música".

Ike e Tina Turner foram introduzidos no Rock and Roll Hall of Fame em 1991 e ela foi introduzida como artista solo em 2021. "Tina", um musical baseado na história da sua vida, estreou na Broadway em 2018.

Turner é precedida na morte pelos seus dois filhos, Craig, que morreu em 2018, e Ronnie, em 2022.

"Alguns dos momentos mais felizes da minha vida foram o nascimento dos meus lindos meninos, Craig e Ronnie, e o casamento com o meu parceiro e alma gémea, Erwin Bach", disse ela ao Today Show da NBC em 2021.

Profissionalmente, disse, os seus momentos mais felizes foram as atuações ao vivo. "Um dos meus primeiros objectivos de carreira era tornar-me a primeira mulher negra a encher estádios em todo o mundo", disse à NBC. "Na altura, parecia impossível. Mas eu nunca desisti e estou muito feliz por ter realizado esse sonho.

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