Mas cuidado a fazê-lo
Toda a gente pode finalmente dizer mal da Taylor Swift
por Choire Sicha, CNN
Mesmo os fãs mais fervorosos de Taylor Swift estão a ser postos à prova neste momento. A comunidade que a apoia está a enfrentar todo o tipo de realidades duras e escárnio online — desde o carácter absolutamente mercenário da artista em lançar múltiplas e caríssimas versões físicas dos discos, até uma canção “meh” que parece ser sobre o namorado, Travis Kelce, e as suas proezas sexuais. E depois há as críticas.
Os fãs são também obrigados a encarar a possibilidade de o novo álbum não ser grande coisa. Nem todos os seus álbuns foram recebidos com euforia quando saíram — "The Tortured Poets Department" (2024) teve críticas que oscilaram entre o cruel e o morno. Desta vez, as vozes críticas estão a ser bem mais audíveis.
“The Life of a Showgirl” teve 5,9 na Pitchfork, que acrescenta: “A música dela nunca foi tão pouco cativante.” “A vida de Swift é extraordinária, mas também enclausurada pela riqueza e pela fama; talvez a gama de sentimentos que ela consegue experienciar se tenha tornado limitada”, escreveu o New Yorker. É, ao mesmo tempo, “algum do seu melhor trabalho — e também do mais constrangedor”, nota a Business Insider. “Faixas de pop clássico, com estrutura verso-refrão padrão e raramente com mais de quatro minutos de duração”, ironizou a Billboard. O álbum “ouve-se melhor se não levarmos a Taylor Swift — a artista, a persona, a pessoa — tão a sério”, alerta a Teen Vogue. “Será mesmo a mesma artista que nos deu Folklore e Evermore?”, perguntou, com uma estrela apenas, o Standard.
if taylor swift wrote these lyrics that’s really bad. if chatgpt did it, that’s REALLY really bad. but if travis did it? i’m kinda proud of him
— meredith 🍉 (@dietz_meredith) October 3, 2025
As razões para a antipatia são diversas. Provavelmente, algumas pessoas simplesmente não suportam vê-la feliz. Mas uma canção hilariante chamada “CANCELLED!”, que é basicamente sobre como é difícil ser famoso, é mesmo difícil de engolir. E, por baixo de tudo isto, há ainda a preocupação entre os fãs de que ela esteja noiva de um homem que afirmou “não saber ler muito bem”. Ele assombra o álbum — sobretudo quando ela tenta soar sensual, o que resulta especialmente forçado nesta era em que existe uma Sabrina Carpenter (sem querer pôr artistas mulheres em confronto!). Embora, ao que parece, a própria Swift esteja a fazê-lo bastante bem com a Charli XCX…
I really do think that Taylor saw Sabrina Carpenter and Chapell Roan, realized people like songs that talk about sex in an explicit but light-hearted way, and then made the biggest series of miscalculations anyone has ever made
— Joseph Fink (@planetoffinks.bsky.social) 4 de outubro de 2025 às 20:14
Durante o fim de semana, pais levaram os filhos pré-adolescentes à segunda parte do duplo lançamento da Taylor Swift — alegadamente um filme — intitulado “Taylor Swift: The Official Release Party of a Showgirl”. Apesar de se estimar que tenha arrecadado pelo menos 28,3 milhões de euros, “filme” é um termo generoso: a maior parte do tempo de exibição trata-se de vídeos com letras sobre imagens repetidas, num estilo barato de YouTube. Começa com imagens dos bastidores do videoclipe do single principal, “The Fate of Ophelia.” Depois mostra o próprio videoclipe. E depois ainda sobram muitos minutos.
miss showgirl thinks she’s Kendrick Lamar but in reality she’s the dean of the English department at Lea Michele university
— Carrie Wittmer 👻 (@carriesnotscary) October 2, 2025
Este produto “semelhante a um filme” oferece uma versão higienizada da obra de Swift, alterando as letras mais explícitas — sobretudo as alusões sexuais — para algo mais “seguro” para crianças e pais acompanhantes (Swift costuma lançar versões “limpas” dos seus álbuns para ouvintes mais jovens).
Um “preguiçoso aproveitamento para o grande ecrã”, chamou-lhe o Guardian. No mundo pós-Frozen, e agora na era do excelente Kpop Demon Hunters, os pais têm, e devem ter, padrões mais exigentes para o entretenimento musical infantil.
Taylor Swift é uma máquina comercial colossal. A sua comunidade de fãs é gigantesca, amável e leal. Na semana passada, por ocasião do lançamento do álbum, escritórios perfeitamente normais foram decorados com pequenas estações para fazer pulseiras com berloques, trazendo um toque de “terapia ocupacional” ao regresso ao trabalho presencial.
Mas, por mais fofos que pareçam, os críticos raramente se atrevem a dizer algo negativo online sobre comunidades de fãs como a dela. Ser “hater” é perigoso quando há comunidades destas envolvidas. A Navy da Rihanna, hoje perdida no mar pela sua completa incapacidade de lançar nova música, era das mais temidas. Nunca ninguém quis entrar em conflito com a Beyhive (não que houvesse motivo para tal); os Arianators eram intensos, mas, tal como Ariana Grande, descobriram recentemente novos níveis de autocuidado e iluminação espiritual.
De todos estas comunidades, os Swifties foram dos que mais resistiram e prosperaram. Normalmente não reagem de forma brutal, mas estão entre os primeiros a ficar silenciosamente muito desiludidos connosco por causa da nossa opinião (embora, como lembra uma fã hoje, “já revelaram dados pessoais de jornalistas, inventaram teorias absurdas, tiveram colapsos públicos ao som da sua música e contorceram-se para justificar comportamentos objetivamente maus da artista” - pois.) A maioria das pessoas prefere não ser má com com os Swifties — são uma mistura curiosa de doçura e resiliência.
Mas os fãs têm sido testados — sobretudo há dois anos, quando ela começou a sair com Matty Healy, figura detestada pelos próprios fãs.
i don’t even gaf if the fate of ophelia has the best musical beat ever conceived, as an ACTUAL english major, i refuse to listen to a song that implies ophelia might’ve reconsidered killing herself if she had just dated a quarterback
— nicky (@crimsonclov) October 4, 2025
O single principal de Swift, “The Fate of Ophelia”, está a ser tão arrasado quanto reproduzido. E Swift não está a ajudar: no filme, comenta “Adoro Shakespeare!”. De facto, “uma canção inspirada na trágica personagem clássica de Hamlet”, como escreveu o site JoBlo, transforma-se, na versão animadita de Taylor, numa simples história de dependência amorosa: “Tiraste-me do túmulo e salvaste o meu coração.”
Parece, contudo, que ela o tipo de artista que será sempre a última pessoa a rir-se. Talvez, daqui a 425 anos, seja a sua obra a ecoar pelos séculos — e os seus álbuns envelheçam tão bem como ela própria descreve Shakespeare agora: “Aguenta-se bem! E nem está sobrevalorizado!”