«Tetra? Antigamente, era para ser campeão todos os anos»

14 mai 2017, 10:56
Benfica-Vitória Guimarães (Lusa)

Testemunhos de António Simões e Toni, figuras que fizeram parte das gerações que tiveram possibilidade de conquistar o Tetra campeonato e falharam. Mérito do Sporting e ainda a maldição dos anos de Mundial. Uma viagem pelos cinco tetra perdidos pelas águias.

13 de Maio, Estádio da Luz. Cumpriu-se, qual milagre, história na Catedral 113 anos depois.  

A goleada imposta pelo Benfica ao Vitória de Guimarães permitiu aos encarnados alcançar o inédito tetracampeonato, algo nunca antes conquistado pelas águias. Embora o emblema lisboeta seja recordista de Campeonatos Nacionais, nunca tinha vencido quatro consecutivos.

O Benfica conquistou por cinco vezes o ‘tri’, sem contar com o da última temporada. Os encarnados ficaram sempre aquém do esperado nas épocas 1938-39, 1965-66, 1969-70, 1973-74 e 1977-78.

O Maisfutebol fez um levantamento de todas as ocasiões em que o Benfica claudicou na hora de completar a série de quatro campeonatos seguidos e falou ainda com alguns protagonistas desse tempo para saber o que falhou para uma espera secular.

Uma história com mais de cem anos

A história entre o Benfica e os tetracampeonatos, carregada de mágoa, começou a ser escrita no século XX e conheceu o capítulo final este sábado. Pelo meio, uma viagem no tempo até ao inédito ‘tetra’.

Recorde-se que o Benfica conquistou o primeiro tricampeonato no final dos anos 30 do século anterior. Corria a temporada 38-39 quando os encarnados perderam a oportunidade de se tornarem a primeira equipa a alcançar o ‘tetra’. Venceu o FC Porto e, quem diria, dava-se início de uma espécie de conto de desencontros para o Benfica com os quatro campeonatos consecutivos.

A espera para outra oportunidade durou praticamente 30 anos. Em 1965-1966, quiçá com uma das melhores equipas da história do clube, o Benfica tinha a possibilidade de voltar a conquistar o tetra. E falhou, novamente. O conjunto do húngaro Bella Gutman, técnico de uma equipa que tinha em Eusébio a sua figura maior, acabou o campeonato no segundo posto, um ponto atrás do Sporting.

Contudo, a base desse plantel do Benfica, com alguma juventude pelo meio, voltou a lutar contra o fado. Volvidas cinco épocas, em 1969-70, nova possibilidade de conquistar o tetracampeonato e… triunfo do Sporting.

Mas afinal, o que faltou ao Benfica nesses momentos para conquistar o tetra? Tem a palavra António Simões, elemento preponderante na equipa que falhou por duas vezes os quatro campeonatos seguidos e rosto de uma geração que marcou a história do futebol português.

«Francamente acho que se deve dar mérito às equipas do Sporting nessa altura. Tinham muitos bons jogadores. Assentavam o seu jogo numa grande qualidade defensiva e portanto, é preciso não esquecer isso. Ao longo desses anos, o Sporting teve boas equipas. Há que dar mérito à qualidade do Sporting. O Sporting não ganhou só porque nós não fomos capazes», realçou ex-jogador.

De acordo com António Simões, na altura não havia a consciência de conseguir entrar na história do clube nem a pressão elevada como a que existe atualmente.

«Os campeonatos que foram ganhos foram iguais aos que foram perdidos no que diz respeito ao interesse de os ganhar. Não me parece que tenha havido pressão no tetra para não ganharmos», salientou.

Recorde-se que, logo no arranque do campeonato de 1973-74, o técnico britânico Jimmy Hagan foi substituído por Fernando Cabrita. Aliada à juventude que havia das águias, o Benfica voltou a ficar ‘às portas’ do tetra. Toni era um dos expoentes dessa juventude que compunha o plantel do conjunto de Lisboa. Contudo, para o atual treinador, nenhum desses dois fatores esteve por de trás do falhanço encarnado.

«Não foi pela troca do treinador que perdemos o campeonato. Aliás, com o Fernando Cabrita fomos à final da Taça de Portugal e continuámos a lutar pelo campeonato. O que faltou para chegar ao tetra? Agora é fácil recordar esses tempos e falar disso. Antigamente não se pensava em chegar ao tetracampeonato. Nem sequer havia esse peso. O objetivo era ganhar o campeonato todos os anos», referiu.

Então afinal qual foi o ponto-chave para o insucesso benfiquista nessa temporada? Toni aponta para as quatro derrotas averbadas pela equipa no campeonato.

«Tivemos um mês de dezembro em que perdemos dois jogos: com a Académica, em Coimbra, por 2-0, num jogo em que o Eusébio falhou uma oportunidade de golo logo no início. E uma derrota com o Vitória de Setúbal na Luz por 3-2. Mas ganhámos os dois jogos ao Sporting [campeão nessa época] e não fomos campeões», destacou.

Recorde-se que, António Simões também esteve nessa quarta tentativa de conquistar o tetra. O antigo extremo voltou a falhar essa oportunidade, tal como as duas anteriores que teve. O antigo futebolista destaca a qualidade da equipa do Sporting e admite um «amargo de boca» por nunca o ter conseguido.

«Claro que há um amargo de boca. Conseguir chegar ao tri e não chegar ao tetra, perder essa oportunidade por três vezes… Tenho pena, porque [o tetra] correspondia ao valor daquela geração. Pena de não termos conseguido assinalar isso.
 
Campeonato sem derrotas e sem tetra e a maldição dos Mundiais

Retrocedemos à temporada 77-78. O Benfica tem nova oportunidade de ouro, tendo em conta o passado mais recente, de conquistar o quarto campeonato consecutivo. Um campeonato sem derrotas e o caneco a fugir, uma vez mais. FC Porto acabou com os mesmos pontos dos benfiquistas mas celebrou o título graças à diferença de golos.

«É estranho olhar para essa época [77-78] e não ser campeão depois de acabar o campeonato sem derrotas», relembrou.

Um campeonato sem derrotas e, mais uma vez, sem o tetracampeonato em ano de Mundial.

Nota para o facto de o Benfica nunca ter conseguido ser tetracampeão em anos de Campeonatos do Mundo, evidência histórica que permaneceu no tempo. Realce-se ainda, que, apesar de existir uma coincidência nas datas, a Seleção Nacional não participou em todos os Mundiais em que não existiram celebrações do ‘tetra’.

«Não quero ouvir falar mais em Mundiais», brincou António Simões.

No presente ano civil, não há Campeonato do Mundo e curiosamente, o Benfica sagra-se pela primeira vez na sua história tetracampeão nacional. Coincidência?

Números das épocas em que Benfica falhou o tetra campeonato:

1938-39: 3º lugar, 21 pontos. V-9, E-3, D-2.
1965-66: 2º lugar, 41 pontos. V-18, E-5, D-2
1969-70: 2º lugar, 38 pontos. V-17, E-4, D-5.
1973-1974: 2º lugar, 45 pontos. V-21, E-3, D-4.
1977-78: 2º lugar, igualdade pontual com o FC Porto, 51 pontos. V- 21, E-9, D-0

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