Porque é que há resultados falsos nos testes à covid-19?

6 jan 2022, 18:00
Teste de deteção do SARS-CoV-2

Do tipo de teste à sensibilidade de deteção do vírus, são vários os fatores que podem levar um teste a apresentar um resultado errado.

Portugal realizou, na última semana de dezembro, 1.738.807 testes de deteção do SARS-CoV-2 notificados. Os últimos dados, apresentados na quarta-feira na reunião no Infarmed, dão conta de um aumento da proporção da positividade dos resultados, que se encontra agora em 10%, um número superior ao valor referência de 4%.

Os testes antigénio - sejam realizados em farmácias ou pontos de testagem em cidades ou até mesmo realizados em casa - assumem-se como a forma mais rápida de despiste da presença do vírus, porém, o resultado pode nem sempre corresponder à realidade.

Do tipo de teste à data de realização, da existência ou não de sintomas à forma como o teste é realizado, são muitos os fatores que podem levar a um resultado errado, embora os casos não sejam frequentes, sobretudo nos testes PCR, garantem os especialistas entrevistados pela CNN Portugal.

Numa altura em que Portugal bate recordes de casos de covid-19 e de testes realizados, importa explicar em que se diferenciam os dois tipos de testagem autorizados e que cuidados devem ser tidos em conta. 

Quais são os testes usados em Portugal?

Atualmente são usados dois tipos de teste de diagnóstico de SARS-CoV-2. São eles:

  • Testes Moleculares de Amplificação de Ácidos Nucleicos (TAAN). Também conhecidos como PCR (sigla de polimerase chain reaction, reação em cadeia da polimerase), estes testes “vão encontrar o rna [ácido ribonucleico] do vírus e, como tal, têm mais capacidade, são mais sensíveis e conseguem detetar quantidades muito menores do vírus, pois recorrem a uma técnica de amplificação”, explica Laura Brum, virologista e diretora clínica da Synlab. A colheita pode ser feita por via nasofaríngea, com uma zaragatoa, ou através de um funil para colher a saliva de secreção da garganta, embora esta prática seja menos comum. Os resultados são conhecidos em 24 horas, porém, face à grande procura, podem, de momento, demorar 48 horas. Em alguns casos, como partos, cirurgias ou urgências, é possível obter o resultado numa hora.

  • Testes de Antigénio.  Aqui encontram-se os testes rápidos de antigénio (TRAg, feitos em farmácias ou por profissionais de saúde, por exemplo) e os autotestes (feitos em casa pela própria pessoa). Em ambos, o objetivo é detetar proteínas específicas do vírus produzidas no trato respiratório no momento em que o teste é realizado, uma vez que é feita a pesquisa do antigénio viral que induz a uma resposta imunitária por parte do organismo. Os resultados chegam em menos de 30 minutos..

Em Portugal existe ainda o teste serológico, que avalia se a pessoa tem anticorpos contra o vírus. Este teste, porém, não é usado para o diagnóstico de infeção, mas sim para compreender a resposta do organismo à presença do vírus. Por norma, o teste serológico é feito através de uma colheita sanguínea.

Qual o teste mais eficaz?

De momento, é o PCR graças à sua capacidade de amplificação e de detetar o vírus mesmo em casos de baixa carga viral - primeiras horas de infeção ou ausência de sintomas, por exemplo. Para Germano de Sousa, patologista clínico e antigo bastonário da Ordem dos Médicos que dá nome aos seus laboratórios, “este método é um método padrão” e são precisas apenas “cinco cópias por microlitro de secreções” para que o vírus seja detetado. “O PCR é praticamente um teste que não dá falsos positivos nem falsos negativos”, garante o médico. No caso dos testes antigénio, continua, podem ser necessárias centenas de cópias por microlitro, o que pode comprometer o resultado e levar, sobretudo, a falsos negativos. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) diz que os testes PCR são “o método de referência para o diagnóstico e rastreio e confirmam a presença do vírus SARS-CoV-2”.

Qual o tipo de teste mais suscetível a erro?

Os testes antigénio no geral, mas os autotestes em particular, não só por terem uma sensibilidade menor a cargas virais mais reduzidas do SARS-CoV-2, mas também por estarem à mercê do quão bem executados são. 

Germano de Sousa destaca que os testes antigénio são mais vulneráveis, até mesmo quando realizados por profissionais de saúde. “Este método só é realmente sensível se for feito quando o número de vírus existente na secreção for elevado”, diz, mas não descarta a sua importância em casos concretos, como à entrada das escolas - para despistar rapidamente casos em crianças, por exemplo, sintomáticas.

Quão comum é haver um resultado errado?

Em testes PCR é pouco comum haver um resultado errado, garantem Laura Brum e Germano de Sousa. Já nos testes antigénio o resultado pode ser mais suscetível a erros, sobretudo se for mal realizado ou feito quando a carga viral ainda é reduzida ou a pessoa não tem sintomas. 

Porque é que há falsos positivos?

Os casos de pessoas que testam positivo ao SARS-CoV-2 sem estarem infetadas com o vírus são raros, diz Laura Brum, defendendo que, “normalmente, os PCR não têm falsos positivos”. Já nos testes antigénio o cenário é outro, mas, mesmo assim, “são poucos” os casos. Mas os que acontecem deve-se, sobretudo, à possibilidade de alguns antigénios serem “comuns a outros coronavírus” e isso faz com que o teste dê um resultado positivo para SARS-CoV-2 quando a pessoa não está infetada.

Porque é que há falsos negativos?

Estes, sim, podem ser mais comuns, mais uma vez, sobretudo em testes antigénio; seja pela ausência de sintomas, pela baixa carga viral ou pela má execução do teste. 

O patologista Germano de Sousa explica que “a positividade [do antigénio] é razoável cinco a seis dias depois do aparecimento dos sintomas” e que, “sem sintomas, usualmente, o teste dá negativo, só em pré-sintomáticos, em que a concentração de vírus nas secreções é elevado, dá positivo”, daí estar recomendado “testar a mesma pessoa várias vezes a ver se apanhamos num período sintomático”, frisa.

Para que um teste seja bem executado, “a introdução [da zaragatoa] na nasofaringe tem de ir até ao fundo da cavidade nasal” e isso nem sempre acontece, sobretudo nos autotestes, o que compromete a eficácia do resultado, diz Laura Brum. “A pessoa não é tão invasiva a fazer esse teste [a si mesma], acaba por ser um teste não tão bem feito, não é colhida a quantidade suficiente” de amostra para que o resultado seja o correto, continua a médica virologista.

“No autoteste, a pessoa mete a zaragatoa nas narinas e aí é onde é a mais baixa concentração viral. Se o teste já é pouco sensível, se a pessoa diminui a concentração do vírus, a possibilidade de um falso negativo é evidente”, diz Germano de Sousa.

Mais uma vez, este tipo de resultados errados não é comum em testes PCR, assegura Laura Brum.

A variante Ómicron pode aumentar a taxa de erro?

Sim.“A variante Ómicron tem um período de incubação mais curto, ao fim de três dias já se consegue detetar [o vírus]. Esta velocidade que esta variante tem faz com que o resultado do teste mude com mais frequência. A pessoa pode ter um teste negativo de manhã e ter um positivo ao fim do dia ou no dia seguinte”, explica a médica, frisando que é por esse motivo que algumas pessoas têm feito mais do que um autoteste por dia quando duvidam de um possível contágio.

Uma vez que a variante Ómicron se tem destacado pelos casos assintomáticos, Germano de Sousa esclarece que “o PCR é ideal para despistar pessoas que têm o vírus e onde não há sintomas”. No entanto, destaca que, “sempre que há uma suspeita, por leves sintomas que sejam, os testes antigénio são muito importantes” e fazê-los com regularidade permite ir “apanhando as pessoas que acham que não tem nada”, mas que estão infetadas.

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