Desaparecimento da tenista Peng Shuai: Comité Olímpico acusado de conluio com autoridades chinesas

23 nov 2021, 10:10
Peng Shuai

Desaparecimento da tenista chinesa tornou-se “uma dor de cabeça olímpica” para o governo de Pequim e para o Comité Olímpico Internacional

A entrada do presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) no escândalo Peng Shuai está a virar-se contra a organização liderada pelo alemão Thomas Bach. A divulgação pelo COI de que Bach terá falado por videoconferência com a tenista chinesa que está em paradeiro incerto - depois de ter acusado o antigo vice-primeiro-ministro do país, Zhang Gaoli, de a ter assediado sexualmente - acabou por ser vista como uma forma de passar uma esponja sobre o assunto, em conluio com as autoridades de Pequim que têm neste caso um enorme embaraço.

A porta-voz da organização não governamental (ONG) Human Rights Watch diz que a partir deste momento o COI “está a desempenhar um papel ativo na máquina de desaparecimentos forçados, coerção e propaganda do governo chinês”.

Outra ONG, a Global Athlete, que defende os direitos de atletas olímpicos e paraolímpicos de todo o mundo, foi muito dura na reação à suposta videoconferência em que Peng teria assegurado que está em casa e está bem.

“Estas declarações tornam o COI cúmplice das autoridades chinesas, da sua propaganda malévola e desvalorização de direitos humanos básicos e da justiça”, afirmou a ONG internacional constituída há dois anos.

O organismo critica a “indiferença” do presidente do COI pelo alegado desaparecimento de Peng, que não foi vista presencialmente desde que denunciou nas redes sociais o assédio de que foi alvo. “A declaração [do COI sobre a video-conferência] finge que Peng nunca fez alegações de violência sexual e não está desaparecida há mais de duas semanas”, denuncia a Global Athlete, apontando o dedo à “abominável indiferença [do COI] perante a violência sexual e o bem estar das mulheres atletas.”

Caso Shuai é dor de cabeça para a China

Se o objetivo era que a revelação da conversa por videoconferência calasse as dúvidas sobre o que aconteceu à tenista chinesa, falhou o alvo. Os meios de comunicação social por todo o mundo continuam a questionar onde está Peng Shuai, pergunta que se tornou uma hashtag viral nas redes sociais. Tom Mitchel, o chefe da delegação do Financial Times em Pequim, escreveu que este caso se tornou numa “dor de cabeça olímpica para a China”, que terá subestimado a força da reação ocidental.

Neste caso, poderá ter ainda mais força o interesse conjugado do governo de Pequim e do Comité Olímpico Internacional: a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno no início do próximo ano.

Segundo o comunicado do Comité Olímpico, Peng “agradeceu a preocupação do COI com o seu bem-estar”, e garantiu que “está bem e segura, a viver na sua casa em Pequim”, focada nos “amigos e família”, tendo pedido “respeito pela sua privacidade neste momento”. 

Nada que sossegue a WTA, Associação de Ténis Feminino que organiza as principais competições internacionais. A organização sido uma das principais vozes a questionar as autoridades chinesas sobre o paradeiro de Peng, e continua a exigir explicações mesmo após a suposta conversa com o presidente do COI - que levantou mais questões do que deu respostas.

O jornal USA Today nota que o Comité Olímpico Internacional é um negócio, cujas receitas revertem na quase totalidade de patrocinadores e de direitos de transmissão televisiva das olimpíadas. E em 2022 há Jogos Olímpicos de Inverno… na China. Eis um caso em que o interesse das autoridades chinesas e do COI coincidem - ultrapassar a polémica e retirar a China das atenções mediáticas pelas piores razões.

A ação concertada de Pequim com COI é vista como uma tentativa de contenção de danos. Mais uma, após outras tentativas. Primeiro, os media ligados ao governo chinês divulgaram houve um suposto e-mail de Peng em que as acusações de assédio seriam desmentidas; depois, foram divulgadas fotos, supostamente da tenista num torneio no fim de semana passado, cuja autenticidade e data levantaram muitas dúvidas. A terceira investida foi a videochamada do COI.

A China e o Comité Olímpico já estavam debaixo de fogo por causa da realização dos Jogos Olímpicos de Inverno num país acusado de inúmeras violações dos direitos humanos. O caso mais gritante é o da perseguição à minoria muçulmana uigur.

Por essa razão, já há uma ameaça de boicote diplomático dos EUA em relação a estes Jogos Olímpicos. Ou seja, participam atletas norte-americanos, mas sem a presença de responsáveis políticos de Washington. As organizações de defesa dos direitos humanos têm chamado ao evento que deverá começar em fevereiro “os jogos do genocídio”.

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