O novo unicórnio português é uma empresa que se tornou fundamental para o exército ucraniano

6 mai, 11:44
Ricardo Mendes, CEO da empresa tecnológica portuguesa Tekever

Foi fundada em 2001 por antigos alunos para focar-se em inteligência artificial. Alguns anos depois a empresa mudou de foco e, desde então, não pára de crescer

A empresa tecnológica portuguesa Tekever, líder em sistemas autónomos baseados em inteligência artificial, tornou-se o mais recente unicórnio, depois de a empresa receber uma avaliação de 1.173 milhões de euros numa nova ronda de financiamento. Vários dos drones de vigilância produzidos pela empresa portuguesa têm sido utilizados com sucesso pelas tropas ucranianas para detetar e destruir equipamento russo na linha da frente.

"Esta ronda confirma a avaliação da empresa acima de 1.000 milhões de libras (1.173 milhões de euros), consolidando a TEKEVER como uma referência europeia no setor DefTech e impulsionando a sua expansão em toda a Europa, rumo à liderança global na defesa e segurança autónomas orientada por IA", escreve a empresa num comunicado.

De acordo com a Tekever, a nova ronda de financiamento foi totalmente subscrita pelos seus atuais investidores, onde se inclui o Fundo de Inovação da NATO. A empresa, sediada em Portugal, vai agora utilizar a injeção de capital para "acelerar a expansão" da Tekever na Europa, com um "ambicioso programa" de cinco anos para reforçar a segurança europeia, "através da construção de um ecossistema de inovação na Defesa".

A empresa, fundada em 2001 por antigos estudantes do Instituto Superior Técnico, produz alguns dos drones de vigilância mais utilizados na Ucrânia, onde esta tecnologia foi catapultada para o epicentro de uma revolução no campo de batalha. Inicialmente focada no desenvolvimento de inteligência artificial, a empresa especializou-se na criação de drones de vigilância altamente avançados a partir de 2010. Deste 2022, que os drones AR3 da Tekever funcionam como "os olhos" de muitas unidades ucranianas no campo de batalha, sendo responsáveis pela deteção de equipamento russo.

Enviados através de um parceria com o Ministério da Defesa do Reino Unido, os sistemas autónomos da Tekever já voaram mais de dez mil horas em missões de vigilância na Ucrânia, tendo contribuído para a destruição de mais de 3.520 milhões de euros em material de guerra russo, incluindo alguns dos sistemas mais poderosos do arsenal de Moscovo, como o sistema de defesa antiaérea S-400.

"São incrivelmente resistentes, por exemplo, tendo a capacidade de navegar em segurança em condições climáticas difíceis e voar até 20 horas de cada vez, o que os torna capazes de efetuar reconhecimentos complexos de longo alcance. Uma caraterística adicional crucial num contexto de conflito é o facto de serem autónomos - podem voar em situações em que não existe um sistema GPS ou em ambientes sem comunicações, utilizando a IA para melhorar a orientação, a navegação e o controlo", explica a empresa tecnológica portuguesa à CNN Portugal.

O facto de operar sistemas com inteligência artificial permite ao veículo permanecer no ar e cumprir a sua rota, independentemente de ter perdido o sinal com o operador, devido à interferência de equipamentos de guerra eletrónica hostis.

Não são só as características dos drones da Tekever os tornam úteis para a Ucrânia, como a mentalidade da empresa também está a encaixar na perfeição nas necessidades ucranianas. Apesar de o CEO da empresa portuguesa, Ricardo Mendes, garantir que a empresa não quer desenvolver armas, o foco na criação de software tornam-na particularmente útil num cenário de guerra como a Ucrânia, onde a adaptação rápida é uma das qualidades mais importantes. E é isso que a Tekever oferece à Ucrânia, criando soluções a uma velocidade muito rápida para responder a problemas concretos que aparecem no campo de batalha. É possível aplicar alterações ao software em dias ou até mesmo horas, dependendo das necessidades, que estão em constante mudança.

"“O futuro da Europa não depende apenas de mais investimento na defesa; é essencial transformar a nossa base industrial e investir de forma mais inteligente. A nossa experiência na Ucrânia demonstrou que o futuro da defesa depende sobretudo da agilidade. É por isso que lançamos uma nova estratégia focada na criação de um ecossistema de inovação na defesa, que permita a empresas de todas as dimensões inovar e escalar com rapidez, com a missão partilhada de garantir a segurança da Europa", afirma o CEO da empresa, Ricardo Mendes. 

Com esta avaliação, Portugal passa a ter sete "unicórnios". A Tekever junta-se assim à OutSystems, TalkDesk, Sword Health, Feedzai, Remote e Anchorage Digital, no grupo restrito de empresas com uma avaliação superior a mil milhões de euros.

Empresas

Mais Empresas
IOL Footer MIN