"Team Jorge": tudo o que se sabe sobre o grupo de hackers israelitas suspeito de manipular mais de 30 eleições em todo o mundo

15 fev 2023, 10:34
Tal Hannan , Team Jorge (Foto: The Guardian)

Quem são, como agem e o que pretendem. Uma investigação de um consórcio internacional de jornalistas acaba de desvendar a estrutura de uma equipa de "empreiteiros" israelitas acusados de organizar ataques informáticos e campanhas de desinformação

Atuavam sob um nome de código e ofereciam uma espécie de serviço privado para se intrometerem secretamente nas eleições de mais de 30 países sem deixar rasto. Para isso, usavam ciberataques, sabotagem e desinformação automatizada nas redes sociais. Foram esta quarta-feira expostos por imagens secretas e documentos divulgados pelo jornal britânico The Guardian. 

Segundo a publicação, que cita a investigação de um consórcio internacional de jornalistas, por detrás desta equipa está Tal Hanan, um ex-agente das forças especiais israelitas com cerca de 50 anos e que agora trabalha de forma particular sob o nome "Jorge". Acredita-se que esteve envolvido em várias eleições em vários países durante mais de duas décadas.

Contactado pelo The Guardian, Tal Hanan não respondeu a questões detalhadas sobre as atividades e métodos da Team Jorge, mas afirmou: "Nego qualquer irregularidade".

A investigação revela ao detalhe como a desinformação está a ser usada como arma pela Team Jorge, que também tem como "clientes" grandes empresas. Aliás, o próprio Tal Hanan afirmou aos jornalistas infiltrados que os seus serviços - descritos por alguns como "black ops" - estavam disponíveis para agências de informação, campanhas políticas e empresas privadas que queiram manipular secretamente a opinião pública. O líder revelou ainda que o grupo atuou em África, América do Sul e Central, Estados Unidos e Europa. 

Um dos principais serviços da Team Jorge é um pacote de software sofisticado - o Advanced Impact Media Solutions, ou simplesmente "Aims". No fundo, controla um vasto exército de milhares de perfis falsos nas redes sociais como o Twitter, LinkedIn, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e YouTube. Alguns "avatares" (ou bots)  têm ainda contas na Amazon com cartões de crédito, carteiras de bitcoin e contas no Airbnb.

O consórcio de jornalistas que investigou a Team Jorge inclui repórteres de 30 órgãos de comunicação social, incluindo Le Monde, Der Spiegel e El País. O projeto, que parte de uma investigação mais ampla sobre a indústria da desinformação, foi coordenado pela Forbidden Stories, uma organização sem fins lucrativos francesa cuja missão é seguir o trabalho de repórteres assassinados, ameaçados ou presos.

Em mais de seis horas de reuniões gravadas secretamente, Hanan e a sua equipa falaram sobre como conseguiam recolher informações sobre os adversários, através de técnicas de hacking para aceder a contas do Gmail e do Telegram. Eles gabavam-se, até, de plantar material em órgãos de comunicação social legítimos, que são então amplificados pelo software de gestão de bots Aims.

Grande parte da estratégia do grupo parece girar em torno de interromper ou sabotar campanhas rivais: a equipa até alegou ter enviado um brinquedo sexual entregue pela Amazon para a casa de um político, com o objetivo de dar à esposa a falsa impressão de que ele estava a ter um caso.

Os métodos e técnicas descritos pela Team Jorge levantam novos desafios para as grandes plataformas de tecnologia, que há anos lutam para impedir que este tipo de empresas espalhe informação falsa ou viole a segurança das suas plataformas. 

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