Taylor está ao lado de Kamala. Mas o que pensam as "swifties" disso? "Ela quer estar do lado certo da História"

15 set, 18:00
Taylor Swift em Londres (Getty Images)

Nem sempre Taylor Swift foi politizada, e sofreu mesmo críticas por ter sido apartidária na primeira eleição de Donald Trump, mas hoje pode ter influência para desempatar uma contenda eleitoral. Quem lhe segue os passos tem a certeza de que apoiar Kamala Harris “era só uma questão de tempo” e que a cantora não pretende, ainda assim, dividir os Estados Unidos. “Ela respeita as ideologias de cada um, mas nunca podia apoiar Trump"

O termo “swiftie” já surge no dicionário de Oxford como “fã entusiasta da cantora Taylor Swift”. 

Na quarta-feira, era madrugada em Portugal, a cantora norte-americana, talvez a maior e certamente mais influente artista mundial do presente, resolveu declarar, através do Instagram, o apoio à campanha de Kamala Harris — que Swift descreve como uma “guerreira” que defende os mesmos “direitos e causas” da cantora —, isto logo após o debate entre a candidata democrata e o republicano Donald Trump. 

Sem surpresa, a publicação atingiu um milhão de “gostos” em breves 13 minutos, estando hoje acima da marca dos 10 milhões. E sem surpresa, a posição de Taylor Swift foi pró-democrata, ela que já o havia feito na anterior corrida eleitoral em favor de Joe Biden.

O que alguns não esperavam foi talvez o timing da tomada pública de posição — em 2020, fê-lo mais adiante na campanha —, mas pode ter sido apressado por uma sucessão de eventos que vinham colando Taylor a Trump: primeiro, uma fotografia na qual a artista abraça Brittany Mahomes, mulher do jogador de futebol americano Patrick Mahomes, um suposto trumpista; depois, a utilização da imagem de Taylor, recorrendo à inteligência artificial, retratando falsamente (em publicações massivamente partilhadas) um apoio a Trump.

Aliás, no post de Taylor Swift no Instagram, a cantora deixa antever que foi mesmo este falso apoio que precipitou a posicionamento em favor de Kamala, escrevendo Taylor que “a forma mais simples de combater a desinformação é a verdade”. 

As “swifties” acreditam que, precipitada ou não pela desinformação, não foi surpreendente a declaração de Taylor nem tão pouco imprevista, porque “tudo o que ela faz é muito bem planeado”. Quem o diz é Patrícia Abreu, portuense de 32 anos e uma fã declarada da cantora desde 2008. “E talvez não houvesse melhor momento do que este. Ela abraçou-se à Brittany Mahomes, ela até tem uma amiga pró-Trump, mas ela respeita as ideologias de cada um. No entanto, não se vai deixar arrastar para um jogo político em que só por ser amiga de alguém tem de ser a favor de Trump. Ela vai estar sempre do lado oposto [a Trump]”, garante Patrícia.

Opinião idêntica tem Ana Carmo, 30 anos, igualmente fã de Taylor Swift há mais de uma década. “Ela quer ficar como sempre do lado certo da História — e Trump nunca será o lado certo. É claro que seria uma questão de tempo até que ela declarasse apoio à Kamala Harris — como, aliás, já tinha declarado apoio a Biden na eleição passada. Agora fê-lo mais cedo, não creio que para abafar qualquer tipo de rumor, mas porque era o tempo certo. Ela não o quis fazer numa tour, a meio da tour, e escolheu um momento estratégico, após um debate.” 

Para Ana Carmo, foi também sem surpresa que, tal como houve quem apoiasse a posição de Taylor Swift, também houve quem ripostasse. 

Na publicação do Instagram, a cantora declara-se “senhora sem filhos e com gatos”, uma crítica irónica às declarações do candidato a vice de Trump, J.D. Vance, que cunhou várias figuras do partido democrata, incluindo Kamala Harris, como um “bando de senhoras sem filhos e com gatos que têm vidas miseráveis”. Em reação à crítica de Swift, outra figura influente, Elon Musk, dono do X e CEO da Tesla, um declarado trumpista — até lhe terá sido prometido, dizem, um cargo governamental —, atirou: “Está bem, Taylor… ganhaste… eu faço-te um filho e defendo os teus gatos com a minha vida”. 

A publicação de Musk é vista por muitos como misógina. “Ele acaba por representar aquilo que ela [Taylor Swift] tenta combater, que é uma certa misoginia. Aos olhos de um homem todo-poderoso ela é só uma miúda, uma cantora, ‘que não entende nada disto’, de política. Ela ergueu este templo na carreira dela: o da defesa de ideais, ideais cristãos, do feminismo, da livre orientação sexual, contra a discriminação, também contra o porte de armas”, explica Patrícia Abreu.

Mas se hoje é politizada — Kamala é descrita pela cantora como “líder de mão firme e dotada” que trará ao país “calma e não caos” — , nem sempre Taylor Swift foi. Patrícia Abreu recorda que num passado recente, em 2016, aquando da vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton, muitas e muitos “swifties” ficaram desapontados porque Taylor resolveria não tomar um partido.  

“No início da carreira, perguntaram-lhe, numa entrevista na televisão, se deveria participar na política, ter uma opinião, ao que ela respondeu que não, que as pessoas só queriam saber de relacionamentos dela e de letras de canções. Isso, claro está, mudou muito. Em 2016 ela não toma partido [contra Trump] e houve fãs algo desapontados. O álbum ‘Lover’, de 2019, já começa a ser um pouco mais politizado, ou a ter referências políticas. Em 2020, no documentário ‘Americana’ ela diz ao pai, em lágrimas, que quer que saibam os seus valores políticos. E surge por essa altura a canção ‘Only The Young’, em que ela diz que os jovens ditarão o futuro — e é uma canção de cariz político. Ela mudou muito”, argumenta Patrícia. 

Apesar de apoiar Kamala, Ana Carmo sabe que Taylor não quer dividir um país já de si dividido. “Claro que a Taylor não é contra o eleitorado republicano, porque haverá sempre quem vote no Partido Republicano, seja pelas suas políticas, seja pelas suas visões económicas — sobretudo pela economia. Não acredito que votem no partido por causa de Trump, pelo menos não a maioria. No entanto, os crimes pelos quais é acusado — e de alguns saiu impune — ou já foi até condenado não deixam margem para dúvidas de que a Taylor nunca o apoiaria”, refere.

Na partilha do Instagram, Taylor Swift aconselhou os “swifties”, nomeadamente os eleitores americanos, a assistirem ao debate Trump-Kamala e, assim, “fazerem a vossa pesquisa sobre os assuntos em jogo e sobre as posições que estes candidatos tomam sobre os assuntos que mais vos interessam”. E apelou ao recenseamento e participação eleitoral a 5 de novembro. 

Por enquanto, e apesar da subida de Kamala Harris nas intenções de voto, os candidatos continuam próximos do empate técnica. Poderá ser, ou vir a ser, Taylor um facto de desempate? Ana Carmo diz esperar que não. “Eu gostava que não, gostava que um artista não tivesse de ser um ponto de viragem, gostava que as pessoas decidissem em função das políticas, dos programas, do passado, da realidade. Mas, infelizmente, isso não deve acontecer dessa forma. E é bem possível que, pela influência que ela tem — e nunca teve tanta como agora —, a Taylor vá gerar notícias, polémicas até, e isso talvez seja um factor importante num desempate.” Também Patrícia desejaria que “quando alguém votasse, votasse pelos seus ideais, que tivesse uma opinião formada, consolidada em relação à política e às políticas”. No entanto, “feliz ou infelizmente”, está certa de que “a Taylor é hoje tão grande que deverá mesmo traduzir-se em votos”. “Só não sei se suficientes para desempatar”, conclui.

Donald Trump parecia ignorar o apoio da estrela da pop à adversária democrata. E respondeu, no final do debate, quando questionado pela publicação de Taylor Swift: “Não faço ideia”. No entanto, este domingo, na rede social Truth, que detém, exclamou em maiúsculas: "EU ODEIO TAYLOR SWIFT!"

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