Num cenário conservador, no espaço de um ano, a prestação da casa de um empréstimo de 150 mil euros pode aumentar 45%. Veja as simulações.
O Banco Central Europeu (BCE) demorou mais de 11 anos para subir as suas taxas de juro de referência, mas em menos de dois meses passou de uma taxa zero para 1,25%, com uma subida histórica de 0,75 pontos percentuais na semana passada.
Os juros subiram, as taxas Euribor que servem de indexante aos contratos de crédito também subiram, e os encargos mensais com a prestação da casa estão a disparar. Mas esta não é a pior notícia que os portugueses poderiam receber.
A pior notícia é que tudo vai subir ainda mais.
Para um empréstimo de 150 mil euros, com prazo de 30 anos, indexado à Euribor a seis meses, a subida poderá mesmo atingir 45% no espaço de um ano, passando de uma prestação de pouco mais de 454 euros em abril deste ano, para perto de 660 euros em abril de 2023. E isto num cenário conservador.
A culpa é da inflação. Atingiu em agosto 9,1% na zona euro, muito longe da meta que o BCE pretende atingir.
Christine Lagarde, a presidente do BCE, não deixou margem para dúvidas na semana passada. “Acreditamos que estamos longe da taxa [de juro] que, esperamos, levará a inflação a regressar ao objetivo de médio prazo de 2%”, sublinhou Lagarde para, de seguida, assegurar que haverá mais subidas de juros.
“Podem ser mais do que duas subidas, mas provavelmente serão menos do que cinco. Deixo para vocês se serão duas, três ou quatro”, ironizou a líder do BCE.
Só se sabe que a subida é certa.
O BCE já tem, no entanto, as suas próximas reuniões definidas. Duas ainda este ano, em outubro e dezembro, e mais duas no início do próximo ano, em fevereiro e março.
Uma enorme subida de prestação
Pegando nestas quatro reuniões e acreditando (num cenário conservador) que Lagarde apenas vai subir os juros em 0,25 pontos percentuais em cada reunião, qual o impacto na prestação mensal?
No mesmo exemplo de um crédito de 150 mil euros a 30 anos, a prestação mensal era, em outubro do ano passado, de 447 euros.
Outubro de 2021 |
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150 mil euros, 30 anos, Euribor 6 meses |
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Taxa relevante (Setembro/21) |
-0,522 |
+ spread 1% |
0,478 |
Prestação |
447,34 |
Em abril, também do ano passado, as taxas Euribor mantinham-se em valores negativos, mas já se começava a sentir que algo estava a mudar. A prestação, subiu, mas o aumento não chegou a dez euros.
Abril de 2022 |
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150 mil euros, 30 anos, Euribor 6 meses |
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Taxa relevante (Março/22) |
-0,417 |
+ spread |
0,583 |
Prestação |
454,27 |
O pior veio depois. As taxas Euribor começaram a subir. Muito.
A Euribor a seis meses voltou a valores positivos em junho, algo que não acontecia desde novembro de 2015. E no final de agosto passou a barreira de 1% pela primeira vez em mais de dez anos.
A subida foi-se acentuando e em agosto a média mensal ultrapassava os 0,8%. Em setembro, apenas com os dados já disponíveis, a média já ultrapassa os 1,3%.
Um parêntese para explicar como vai continuar esta simulação
As prestações mensais de crédito à habitação a taxa variável são calculadas tendo em conta o indexante utilizado, as taxas Euribor.
Estas taxas são fixadas diariamente por um conjunto de bancos da zona euro tendo em conta a taxa de juro a que estão dispostos a emprestar dinheiro uns aos outros. Depois, a parcela de 15% de valores mais altos e mais baixos são retirados e a Euribor resulta da média dos restantes.
No exemplo que estamos a seguir, o indexante é a Euribor a seis meses.
Tendo começado a seguir este exemplo em outubro de 2021 a prestação mantém-se a mesma por seis meses, até março de 2022 e volta a ser revista em abril. Para calcular a nova prestação o valor da Euribor que conta é o valor médio do mês anterior, ou seja, março. E assim sucessivamente.
Tendo este crédito sido revisto em abril, volta a ser revisto no próximo mês, em outubro.
Para essa revisão seria necessário ter a média da Euribor a seis meses de setembro. Como não existem esses dados, usamos apenas os disponíveis, até dia 09. Mais uma vez, este é um valor conservador, tendo em conta a atual tendência de subida.
O primeiro choque
O que não é conservador é o valor da prestação que quem tem um crédito à habitação a ser revisto em outubro terá de pagar.
A prestação passa quase para 580 euros. Um aumento de mais de 125 euros por mês.
Outubro de 2022 |
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150 mil euros, 30 anos, Euribor 6 meses |
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Taxa relevante (Setembro/22) |
1,332 |
+ spread |
2,332 |
Prestação |
579,66 |
Olhar mais para a frente obriga a novos pressupostos. E o que é assumido neste exemplo é de que havendo a subida de 0,25 por cento em cada uma das reuniões do BCE até março do próximo ano, a subida se vai refletir na mesma dimensão na Euribor a seis meses.
Se tal acontecer, a prestação deste crédito à habitação volta a aumentar: passa para quase 660 euros, um novo aumento, agora de quase 80 euros.
Abril de 2023 |
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150 mil euros, 30 anos, Euribor 6 meses |
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Taxa relevante (Março/23) |
2,332 |
+ spread |
3,332 |
Estava a pagar |
659,58 |
Comparando com o valor de abril deste ano, a subida chega quase a um aumento de 200 euros na prestação mensal.
E este é um cenário conservador.