Perspetiva de descida de taxas de juro por parte do BCE levam taxas Euribor a novo recuo em outubro. Prestação a pagar ao banco vão voltar a descer de forma significativa em novembro. Confira o seu caso
Se vão ser 25 [pontos base] ou se, a certa altura, vão ter de ser 50, isso é algo que os dados nos vão dizer. Não acho que o Conselho de Governadores deixe de considerar uma trajetória mais rápida se os dados nos disseram para fazermos isso - é possível", Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, e membro do Conselho de governadores do BCE, citado pela Bloomberg a 22 de outubro.
O Banco Central Europeu (BCE) foi muito rápido a subir as taxas de juro e em pouco mais de um ano passou de uma taxa de depósitos negativa, em meados de 2022, para uma taxa de 4% em setembro do ano passado. E se é verdade que ninguém perspetiva que a descida de taxas que iniciou em junho deste ano seja tão agressiva como a subida, também é verdade que há quem, como Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal, abra a porta a uma descida de taxas mais rápida do que aquela que temos vindo a assistir.
Em junho, a líder do BCE, Christine Lagarde iniciou o ciclo de descida de juros e desde essa descida, as taxas já desceram mais duas vezes, sempre a um ritmo de um quarto de ponto percentual, o que coloca atualmente a taxa de depósitos do BCE, a sua taxa de referência, nos 3,25%. A próxima reunião da autoridade monetária europeia realiza-se em dezembro e a convicção generalizada é que o BCE volte a cortar taxas de juro. A única dúvida é saber se a descida será, novamente, de um quarto de ponto percentual, ou se o corte será, desta vez, mais significativo.
E enquanto há governadores, com o Mário Centeno, ou o seu homólogo italiano, Fabio Panetta, que se sentam do lado das ‘pombas’ dentro do Conselho de Governadores do BCE, ou seja, que não afastam uma descida mais rápida dos juros, também há, dentro do mesmo BCE, os ‘falcões’, que preferem esperar para ver. Desse lado da barricada estão, por exemplo, os governadores dos bancos centrais da Eslovénia, da Alemanha e da Letónia.
“Devemos continuar a caminhar para a taxa neutra em passos ponderados”, disse no passado dia 24 o governador esloveno, Bostjan Vasle à Reuters, à margem das reuniões de outono do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, em Washington, nos Estados Unidos.
A taxa de juro neutra, de que falava o líder do banco central esloveno, é explicada pelos economistas, tal como descrito no mesmo artigo da Reuters, com a taxa de juro que não restringe nem estimula o crescimento económico e considera-se que, na área do euro, esta se situa entre 2% e 2,5%, embora as estimativas apontem para um máximo de 3% e um mínimo de 1,75%. Valores que ainda se encontram abaixo da taxa de juro de 3,25% ainda em vigor.
Economia anémica
E enquanto não há decisões, os dados que vão sendo conhecidos e que servirão para balancear a decisão do BCE, apontam para uma economia da zona euro que, embora não esteja numa situação de recessão, apresenta uma atividade económica muito anémica. Os dados divulgados esta quarta-feira pelo Eurostat dão conta disso mesmo, com o Produto Interno Bruto (PIB) das economias que constituem a zona euro a crescer apenas 0,9% no terceiro trimestre face a igual período do ano passado. E, ainda assim, este foi o melhor resultado deste ano. E dentro da zona euro, o seu principal motor económico, a Alemanha, voltou a registar um resultado negativo, confirmando que em 2024, tal como em 2023, terá uma recessão.
Do lado da inflação, os últimos dados mostram uma desaceleração na subida dos preços. Em setembro, a taxa de inflação fixou-se nos 1,7%, ficando, assim, abaixo do limite de 2% definido pelo BCE para a estabilidade dos preços. Novos dados, referentes a outubro, serão conhecidos esta quinta-feira, mas Lagarde já avisou que é natural que nos últimos meses do ano se possa assistir a uma aceleração dos preços.
Taxas Euribor antecipam novas descidas
Enquanto se aguarda pela decisão do BCE de dezembro, as taxas Euribor continuam num caminho descendente e em outubro voltaram a cair de forma significativa em todos os prazos. No caso da Euribor a 3 e 6 meses a queda ultrapassou mesmo os valores registados em agosto, altura em que tinha registado a maior queda em décadas.
O resultado prático destas descidas será sentido já em novembro para os casos de titulares de contratos de crédito à habitação cujo contrato seja revisto no próximo mês.
Num exemplo de um contrato de crédito à habitação de 200 mil euros, indexado à Euribor 6 meses, o indexante mais utilizado atualmente em Portugal, a queda da prestação pode ultrapassar os 90 euros face ao valor que pagava. Para o mesmo montante, mas num crédito indexado à Euribor 12 meses, a queda da prestação pode chegar aos 164 euros.
Em qualquer dos casos, e apesar desta descida da prestação, os valores mensais a pagar ao banco ainda se encontram acima do valor que era pago há dois anos e, principalmente há três anos, quando a média das taxas Euribor ainda se encontravam negativas. E não há quem, neste momento, antecipe que mesmo havendo mais descidas nas taxas Euribor, as prestações a pagar ao banco, venham a regressar aos valores praticados em 2021.
Confira o seu caso:
Quanto já aumentou e como vai evoluir em novembro a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Valores de novembro apenas até dia 30
EURIBOR 3 MESES
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EURIBOR 6 MESES
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EURIBOR 12 MESES
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Nota
Os cálculos partem do princípio de que há dois anos o capital em dívida era de 50, 100, 150 ou 200 mil euros, consoante o exemplo, e que o prazo de pagamento era de 30 anos, com um spread de 1%. A partir desse ponto, a cada revisão do contrato, aplica-se a taxa de juro correspondente e diminui o montante em dívida e o prazo de pagamento do crédito.