Fed vai tomar uma "decisão política". Se descer os juros "curva-se a Trump", se não mexer nas taxas estará a "ignorar o presidente"

7 mai, 09:00
Jerome Jay Powell presidente da Reserva Federal = governador banco central dos EUA (Chip Somodevilla/Getty Images)

Será uma grande surpresa se a Reserva Federal americana decidir baixar as taxas de juro esta quarta-feira. Para os analistas, o importante virá nas entrelinhas do comunicado do banco central ou da conferência de imprensa de Jerome Powell, que continua sob pressão da administração Trump

Dia de surpresas… ou nem tanto. No espaço de um mês, desde a última reunião da Reserva Federal norte-americana, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pareceu moderar a ameaça de afastar o atual presidente do banco central, Jerome Powell, pelo que considera ser a sua “lentidão” em baixar as taxas de juro. Mas nem por isso reduziu as pressões para que Powell as baixe já.

No final da semana passada, a cinco dias da reunião desta quarta-feira, Trump insistiu que os primeiros três meses do seu segundo mandato foram “uma fase de transição que está apenas a começar” e que “os consumidores estão há anos à espera de preços mais baixos” – “Sem inflação, a Fed deve baixar as taxas!”, escreveu o Presidente na sua Truth Social.

Contudo, tudo indica que não será hoje que as taxas de juro vão baixar nos Estados Unidos – entre outros motivos pelo “grande dilema que a Fed enfrenta” neste momento, um dilema que o economista João Costa Pinto, antigo vice-governador do Banco de Portugal, já tinha referido à CNN Portugal no mês passado. 

“Powell sabe que não pode ser visto como perdendo autonomia face à administração Trump, porque se isso acontecer o impacto global sobre os mercados é extremamente complexo, uma vez que os elementos centrais para os mercados financeiros internacionais, atualmente organizados em torno do dólar americano, é a confiança na Fed para conduzir uma política monetária autónoma.”

O consenso entre os analistas é que uma alteração das taxas de juro hoje seria uma surpresa para os mercados, prevendo-se que os juros se mantenham inalterados no intervalo entre os 4,25% e os 4,5% para já, face à elevada incerteza económica do momento – acima de tudo considerando que o impacto da guerra tarifária iniciada, e, entretanto, parcialmente pausada por Trump ainda não estar totalmente refletido nos dados.

Qualquer que seja a decisão, com ou sem surpresas, será sempre vista como política. “O que quer que [os membros da Fed] façam será interpretado politicamente”, diz Vincent Reinhart, economista-chefe do BNY Investments, que trabalhou mais de duas décadas no banco central americano. “Se da reunião surgir uma posição inalterada, então a manchete será: 'Fed ignora o Presidente'. E se, surpreendentemente, a política for flexibilizada, a manchete será: 'Fed curva-se ao Presidente'.”

Acima de tudo, e a confirmar-se que as taxas de juro vão manter-se inalteradas, os economistas e os mercados vão estar atentos às entrelinhas do comunicado da Fed e da conferência de imprensa de Powell no final da reunião desta quarta-feira, em busca de indícios sobre o que o banco central vai decidir na sua próxima reunião, marcada para 18 de junho.

Há a larga expectativa de uma redução das taxas de juro daqui a cinco semanas, alimentada pelo facto de até essa reunião o instituto de estatística norte-americano divulgar dados sobre a evolução dos preços – na próxima semana, a 13 de maio, serão divulgados os dados da inflação relativos a abril, seguidos dos dados de maio, que serão publicados a 11 de junho, uma semana antes da próxima reunião da Fed.

Os últimos dados conhecidos, relativos a março, dão conta de que a taxa de inflação tem vindo a desacelerar e que se encontra nos 2,4%, ainda acima dos 2% pretendidos, mas já muito longe do pico máximo de 9,1% registados em meados de 2022. Mas como denota o ING Group, as perspetivas de crescimento económico, inflação e emprego continuam a ser incertas – sobretudo tendo em conta que a contração do PIB norte-americano no primeiro trimestre deste ano foi algo artificial, no contexto das tarifas impostas pela administração Trump a mais de 150 países. 

“O PIB do primeiro trimestre registou uma contração, mas isso deveu-se a um aumento das importações, uma vez que as empresas anteciparam as compras de bens fabricados no estrangeiro para evitar as taxas aduaneiras”, refere o banco neerlandês. “No entanto, agora estamos a assistir a uma queda acentuada nas novas encomendas de bens, com o envio de mercadorias do estrangeiro a abrandar rapidamente.”

Um mês depois de a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ter revisto em baixa a projeção para a economia dos EUA, que deverá desacelerar para os 2,2% este ano antes de cair para 1,6% em 2026, há receios de que a redução das taxas de juro para compensar potenciais fraquezas económicas decorrentes da guerra tarifária possa alimentar e prolongar a inflação.

A Fed prevê que as tarifas deverão levar ao aumento quer da inflação, quer do desemprego, embora não se saiba em que grau nem por quanto tempo, sendo que as novas previsões trimestrais do banco central só serão divulgadas em junho. Na sua publicação na sexta-feira, Trump voltou a defender as tarifas, graças às quais, referiu, “milhares de milhões de dólares estão a entrar” na economia dos EUA. 

O regulador, contudo, não tem tantas certezas. Como escreveu há alguns dias Michael Feroli, economista-chefe do JP Morgan para os EUA: “Esperamos que a principal mensagem da conferência de imprensa do presidente Powell seja a de que o comité [federal de mercado aberto] está bem posicionado para aguardar maior clareza antes de fazer qualquer alteração na política monetária.”

E.U.A.

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