Mulher mais rica da Rússia vai da glória à tragédia em meses - e tudo começou num projeto apoiado por Putin

19 set, 18:17
Tatyana Bakalchuk (Maksim Konstantinov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)

Tatyana Bakalchuk decidiu desfazer-se de parte da empresa para entrar numa fusão polémica. O marido, de quem entretanto separou, não concordou

Fundou a Amazon russa, a Wildberries, para 20 anos depois ser conhecida como a mulher mais rica da Rússia, com uma empresa avaliada em quase seis mil milhões de euros.

Só que Tatyana Bakalchuk decidiu dar a volta ao texto. Em abril separou-se do marido e deu um terço da participação na empresa em julho, numa fusão surpreendente. Agora a Wildberries está nas notícias por outra razão: duas pessoas morreram e várias ficaram feridas durante um tiroteio na sede da empresa, em pleno centro de Moscovo e a poucas centenas de metros do Kremlin.

O problema começa precisamente no divórcio. Ela tem grande parte das ações, ele é acionista minoritário, o que levou a um desentendimento na altura da partilha, que agora redundou numa tragédia.

Tatyana culpou o marido, Vladislav Bakalchuk, através de uma publicação na rede social Telegram, dizendo que o homem tentou entrar nos escritórios acompanhado de dois ex-dirigentes do grupo e de indivíduos armados.

O grupo Wildberries confirmou esta versão, até porque terão sido “os homens armados que acompanhavam Vladislav Bakalchuk” os primeiros a abrir fogo, atingindo polícias e seguranças pelo caminho.

Polícia à porta da sede da Wildberries, em Moscovo (Alexander Nemenov/Getty Images)

Por seu lado, o marido, de 47 anos, relatou os acontecimentos de forma radicalmente diferente: também no Telegram, afirmou que os seguranças lhes "recusaram logo a entrada" e "começaram um tiroteio" que feriu os seus acompanhantes.

"Os meus homens não estavam armados, estávamos a ser protegidos por agentes da polícia. Os primeiros tiros vieram do interior do edifício", insistiu, descrevendo "o pânico" das pessoas no local e "fumo por todo o lado".

Vladislav Bakalchuk disse que se tinha deslocado à sede da empresa "para negociar o fim da construção de armazéns", um dos pontos de discórdia com a mulher, que asseverou que "ninguém tinha concordado com qualquer discussão".

Do lado de lá, da mulher, há a visão de uma “tentativa de tomar, de forma hostil”, a sede  da empresa.

A Wildberries, fundada em 2004, está presente em vários países da ex-União Soviética e afirma gerir mais de 10 milhões de encomendas por dia. Esta história de sucesso fez de Tatiana Bakalchuk, de 48 anos, a mulher mais rica da Rússia. A sua fortuna é estimada pela revista norte-americana Forbes em 7,9 mil milhões de dólares (7,1 mil milhões de euros).

Uma raridade entre os multimilionários da Rússia, Tatiana Bakalchuk não pertence ao círculo de oligarcas históricos que assumiram o controlo dos principais grupos estatais do país na década de 1990.

O casal Bakalchuk, que teve sete filhos, está em guerra aberta desde que a Wildberries anunciou, em julho, um projeto de fusão com o grupo de publicidade Russ, que tem muito menos peso na economia nacional.

O Kremlin, e naturalmente o presidente Vladimir Putin, veem nesse plano a possibilidade de criar uma gigante russa capaz de competir com a Alibaba e a Amazon, apoia tal união, promovida por Tatiana Bakalchuk, enquanto o marido se lhe opõe firmemente.

Em julho, Vladislav Bakalchuk queixou-se abertamente a Ramzan Kadyrov, presidente da Chechénia, onde a mulher nasceu.

O dirigente checheno, conhecido pelos seus métodos violentos e por múltiplos interesses económicos, abraçou a causa do marido, classificando o projeto de fusão como uma "fraude em grande escala" que acabou "nas mãos erradas".

Num vídeo publicado 'online', o líder autoritário checheno garantiu que "traria [Tatiana Bakalchuk] de volta à família".

A presidente-executiva do grupo pediu oficialmente o divórcio no final de julho e, segundo a imprensa russa, o marido exige o controlo de 50% das ações da Wildberries.

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