Só a Apple perdeu num dia mais do que Portugal produz num ano inteiro - as tarifas de Trump arrasaram com as Sete Magníficas

4 abr, 08:30
Reação ao comportamento da bolsa de Nova Iorque (Johannes Eisele/AFP via Getty Images)

Dia para esquecer no mercado norte-americano, que viu as suas principais empresas derraparem como há muito não acontecia

E se num só dia Portugal perdesse toda a riqueza que produz? Não é um cenário real, mas é o comparativo perfeito com a desvalorização que atingiu a Apple, uma das empresas mais fustigadas pelo pânico com que os mercados reagiram às tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos.

A acompanhar praticamente todas as grandes empresas ou os grandes índices, a gigante tecnológica de Silicon Valley não resistiu e passou o dia em queda, fechando com uma desvalorização de 311 mil milhões de dólares em capitalização, um valor que está acima dos cerca de 290 mil milhões de dólares do Produto Interno Bruto (PIB) português.

Esse foi o efeito de uma queda de 9,3 pontos percentuais naquela que ainda é a empresa mais valiosa do mundo. É que as tarifas que Donald Trump decidiu aplicar a tudo e todos atingem particularmente a fabricante de produtos como iPhone, iPad ou Apple Watch. Isto porque, apesar de ser norte-americana, grande parte da produção da Apple está fora dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, basta explicar que 65% dos norte-americanos têm um iPhone como telemóvel, sendo que todos os iPhones comprados naquele mercado são produzidos… na China.

Uma lógica naturalmente globalista que o presidente dos Estados Unidos parece não querer mais, procurando forçar as empresas, sejam elas norte-americanas ou não, a produzir em casa.

Voltando ao caso da Apple, as tarifas anunciadas para a China, um visado particular do anúncio feito no Rose Garden com um gigante cartaz, são das mais fortes: aos 20% que já estavam em vigor somam-se outros 34%.

Quer isto dizer que a Apple vai ter de passar a pagar 54% de impostos aos Estados Unidos cada vez que um produto seu entrar no mercado norte-americano. O efeito ainda é imprevisível, mas é difícil de não imaginar que o consumidor possa vir a ser um afetado - a CNN Portugal pegou no exemplo do iPhone para explicar quão caro pode ficar o produto.

Olhemos para as chamadas Sete Magníficas: ao todo aquelas que são tidas como as melhores e mais importantes empresas dos Estados Unidos, perderam um bilião de dólares em 24 horas.

Empresa Valor de abertura (em milhões $) Valor de fecho (em milhões de $) Perda (em milhões de $) Variação
Nvidia 2,694,248.0 2,483,920.0 (210,328.0) -7.8%
Apple 3,363,292.0 3,052,335.0 (310,957.0) -9.2%
Alphabet 1,924,322.1 1,847,776.1 (76,546.0) -4.0%
Microsoft 2,840,822.0 2,773,693.0 (67,129.0) -2.4%
Meta 1,479,479.7 1,346,943.9 (132,535.8) -9.0%
Amazon 2,077,260.7 1,890,741.0 (186,519.7) -9.0%
Tesla 909,502.4 859,710.7 (49,791.7) -5.5%

E foi à boleia de empresas como a Apple, tal como Nike, Amazon ou outras, que índices como o Dow Jones, o Nasdaq ou o S&P 500 tiveram dos piores dias em anos. Para os três principais índices norte-americanos foi mesmo a pior desvalorização desde 2020, quando a pandemia de covid-19 assustou tudo e todos, incluindo os mercados.

De acordo com os dados de fecho, o índice S&P 500 perdeu 275,05 pontos, numa queda de 4,85 pontos percentuais - as suas empresas somaram perdas totais de 2,4 biliões de euros -, enquanto o Dow Jones caiu 1,682,61 pontos, uma quebra de 3,98 pontos percentuais. Para o Nasdaq, que engloba as grandes tecnológicas como a Apple, o desastre andou perto de 6 pontos percentuais.

Para quem analisa o mercado é tudo mau. Porque não são apenas os impostos de forma direta, mas as consequências que podem trazer no mercado norte-americano, nomeadamente a inflação e até uma recessão, algo que agências como a Fitch ou a JP Morgan veem como cada vez mais inevitável.

Do lado europeu a coisa também está longe de andar famosa, até porque não se percebe quando ou como vai reagir a União Europeia. É por isso que, embora de forma mais comedida, as principais bolsas europeias deram grandes quedas - o DAX alemão e o CAC francês desvalorizaram acima dos 3 pontos percentuais. Surpresa, surpresa, o PSI 20 português foi o único a fechar no verde, provavelmente pela importância das empresas energéticas como a EDP ou a Greenvolt, que ficam completamente à margem das tarifas, já que a energia não foi visada por Donald Trump.

Ao nível político foi de França que veio a reação mais forte, com o presidente Emmanuel Macron a pedir mesmo que se interrompam os investimentos nos Estados Unidos. “Que mensagem seria se os maiores atores europeus investissem milhares de milhões de euros na economia americana no momento em que eles nos estão a atingir?”, questionou, sublinhando que não se pode excluir nada em termos de retaliação.

Mais comedido, também porque só lhe viu ser aplicada a taxa mínima de 10%, ficando fora do pacote de “tarifas recíprocas” que impõem 20% à União Europeia, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, disse apenas que vai fazer esforços para tentar negociar com os Estados Unidos.

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