opinião

Os lucros da TAP são os nossos prejuízos

21 mar 2023, 18:11

O regozijo do Governo, de muitos socialistas e da administração da TAP com os lucros da companhia aérea em 2022 começa por ser um insulto à nossa inteligência. E isto ainda é só o início. 
 
Não há nenhum motivo para celebrar. A TAP chega a resultados operacionais positivos de 65,6 milhões de euros ao fim de cinco anos a dar prejuízos, mas a pergunta que todos os contribuintes devem fazer é esta: a que custo? As respostas são múltiplas e nenhuma delas deixa de ter o Governo de António Costa como principal responsável. 
 
Sangue, suor e lágrimas. Foi assim que a companhia aérea, que nos querem convencer que é uma bandeira do país, alcançou estes resultados. 
 
O sangue dos nossos impostos. Três mil e duzentos milhões de euros foi quanto o Governo injetou na TAP, em nome do superior interesse nacional. À época, Pedro Nuno Santos, o ministro a quem António Costa entregou este presente envenenado, defendia que a falência da empresa teria um impacto gigante na economia portuguesa. Que o dinheiro que o Estado estava a injetar para salvar a TAP não era nada comparado com o dinheiro que se perderia caso a companhia aérea fechasse portas. E Pedro Nuno não estava totalmente enganado. Mas o pecado original não era esse. 
 
O pecado original remete-nos para inícios de 2016, quando o recém empossado primeiro governo da geringonça, liderado por António Costa, decidiu, por obsessão política, ideológica e de revanchismo com o governo anterior, renacionalizar a empresa. A TAP tinha de ser pública, custasse o custasse, defendeu — secundado, é preciso dizê-lo, pelo seu enfant terrible (e ainda aliado), Pedro Nuno Santos. Este foi o princípio do fim. 
 
Na altura, eram tudo rosas e a primavera estava a chegar. Portugal era um destino turístico cada vez mais apetecível, os portugueses estavam a viajar cada vez mais, porque seriam os privados — esses malvados que só pensam nos seus dividendos — a ficar com a TAP? Fingindo que outros erros políticos no passado — curiosamente, também eles resultantes de decisões de governos socialistas, como a compra da VEM no Brasil — não tinham enterrado a companhia aérea durante mais de uma década, António Costa era um primeiro-ministro sem medo. A TAP tinha de ser pública e ele ia provar que tinha razão.
 
Até à pandemia, a renacionalização da TAP pouco ou nada interferiu com os planos do primeiro-ministro, mas também pouco ou nada se resolveu. O serviço não melhorou — pelo contrário, foi piorando —, o buraco financeiro que vinha de trás continuou lá, mas os parceiros da geringonça estavam felizes da vida. O grande embate surgiu com a Covid-19, a pandemia causada pelo vírus que fechou o mundo e obrigou os aviões a ficar em terra. 
 
A TAP, como todas as companhias aéreas do mundo, parou. Mas, no caso da companhia portuguesa, a pandemia só serviu para agudizar ainda mais os problemas do passado. E, com isso, António Costa não estava a contar. 
 
Privatizar passou a estar fora de questão. Restavam três alternativas: ajudar David Neelman e Humberto Pedrosa (os acionistas privados), deixar a empresa falir ou nacionalizar por completo a TAP. A primeira opção estava fora de hipótese. Nunca na vida. Socialista que é de esquerda não ajuda privados seja no que for. Mas deixar a empresa falir era assumir a falência das opções políticas do Governo. Restava, por isso, nacionalizar tudo e deixar que os contribuintes pagassem a conta. 
 
Contratou-se uma empresa de head hunters para encontrar uma CEO e passou-se um cheque de 3.200 milhões de euros para salvar a TAP. O dinheiro, prometia o Governo, seria todo devolvido, logo que o plano de reestruturação estivesse executado. 
 
Lágrimas. Das centenas de trabalhadores que foram dispensados, do despedimento coletivo que foi levado a cabo pelo acionista Governo PS, o partido que está sempre ao lado dos trabalhadores e que não se confunde com a direita agiota. 
 
Suor. Dos que lá ficaram e tiveram de dar a cara aos clientes da TAP pela irresponsabilidade política do Governo socialista. Dos que viram salários cortados, uma empresa sem rumo e sem destino. 
 
Lá pelo meio, a TAP foi fechando rotas, ignorando o seu papel de coesão territorial, ignorando o Porto e o restante território, servindo batatas fritas pala-pala às refeições, como se de uma low cost se tratasse. Mas o plano do Governo de António Costa era infalível. A TAP haveria de regressar aos lucros. Era só uma questão de tempo. 
 
E regressou mesmo. Os princípios políticos do Governo socialista mudaram todos, entretanto. A companhia de bandeira que tinha de ser pública a todo o custo, afinal tem mesmo é de ser privatizada. O mais rápido possível, que a conta e as maroscas vão-se avolumando. Foram 500 mil euros para Alexandra Reis, mais uns BMW para os diretores da companhia e uns amigos que a CEO foi contratando, enquanto despedia trabalhadores. 
 
Pedro Nuno Santos e António Costa colocaram a ideologia na gaveta e tornaram-se pragmáticos: a TAP é para despachar. Cada um à sua maneira. Pedro Nuno saiu de cena numa tentativa de limpar o cadastro, enquanto António Costa vai usando a demissão do seu novo adversário político como bode expiatório para as suas próprias responsabilidades.
 
Mas agora a TAP deu lucro. Perdoem-me se não estou esfuziante, nem a tecer loas à administração que apresentou estes resultados. Cada cêntimo de lucro da empresa não é dinheiro dos passageiros que voaram na companhia, mas impostos pagos pelos contribuintes portugueses. Quando e se — e é um grande se — esse dinheiro voltar aos cofres do Estado, talvez possamos todos respirar de alívio. Até lá, a TAP é um dos maiores desastres políticos do Governo de António Costa. 

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