Vão ser cancelados 380 voos, afetando cerca de 50 mil passageiros, além de estar prevista uma perda de 8 mil milhões de euros em receitas
A TAP está a antecipar o cancelamento de vários voos entre esta quinta e sexta-feiras, assim como “alguma disrupção na operação”. O anúncio foi feito no Twitter pela própria empresa. Em causa está uma greve dos tripulantes de cabina naquilo que é a primeira paralisação dos tripulantes desde dezembro de 2014.
GREVE TRIPULANTES DE CABINA 8/9 DE DEZEMBRO
Devido à greve dos Tripulantes de Cabina, e apesar de já ter sido antecipado o cancelamento de vários voos, é expectável alguma disrupção na operação, pelo que pedimos desde já desculpa aos nossos clientes e agradecemos a compreensão.
— TAP Air Portugal (@tapairportugal) December 7, 2022
A greve, convocada pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), só foi aprovada pela assembleia daquele sindicato na passada terça-feira, mas ainda novembro ia a meio e a companhia já se estava a precaver, recomendando a alteração dos voos programados para 8 e 9 de dezembro, sem qualquer penalização.
Para os passageiros afetados, a companhia aérea recomendou a remarcação sem penalização ou alteração de tarifa, entre 28 de novembro e 19 de dezembro, quer através do call center ou das suas agências de viagens. A companhia aérea ressalva ainda em comunicado que fez "todos os esforços" para "evitar esta greve", embora não tenha sido possível “chegar a acordo com o sindicato”, citou o Jornal de Negócios.
Face ao pré aviso de greve do Pessoal de Cabina, a 8 e 9 de dezembro, a TAP informa que irá permitir que os clientes que desejem alterar as datas dos seus voos nesse período o façam sem qualquer penalização entre 28 de novembro e 19 de dezembro. pic.twitter.com/azVftGMHsR
— TAP Air Portugal (@tapairportugal) November 18, 2022
Como resultado, vão ser cancelados 380 voos, afetando cerca de 50 mil passageiros, além de estar prevista uma perda de 8 mil milhões de euros em receitas. No entanto, estão assegurados serviços mínimos, nomeadamente para as regiões autónomas, os países lusófonos e zonas com emigrantes portugueses, sendo ainda assegurados voos militares impostos por situações de segurança, emergência e do Estado, segundo um acórdão publicado esta segunda-feira.
Horas antes da votação na assembleia geral do SNPVAC, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, sublinhou que uma paralisação teria um impacto muito negativo na companhia num momento em que a TAP está a caminhar para a recuperação. No entanto, o sindicato não só manteve as greves inicialmente previstas como avançou com a marcação de pelo menos mais cinco dias de greve até 31 de janeiro de 2023.
Em declarações prestadas à agência Lusa, a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, lamentou “profundamente” a decisão do sindicato mas vincou que a empresa continua disponível para se reunir com o SNPVAC após os dois dias de greve, de modo a evitar mais disrupções. “Estamos muito tristes. Espero que nos consigamos reunir novamente depois destes dois dias [de greve] e tentar encontrar uma solução para evitar disrupções para toda a gente.”
A presidente executiva da TAP destacou ainda que a última proposta apresentada pela companhia foi ao encontro de nove das 14 exigências do sindicato, representando ainda um ganho de oito milhões de euros para os tripulantes. No entanto, para o presidente do SNPVAC, Ricardo Penarroias, os tripulantes “chegaram ao limite” com a administração da TAP, acusando-a de falta de respeito. “Não fomos nós, o sindicato, quem se retirou das negociações. Foi a empresa que unilateralmente, a dia 22 de novembro, disse que não ia negociar ou apresentar uma proposta, fazendo um ultimato a dizer que não queríamos antecipar a assembleia geral”, refere Ricardo Penarroias, presidente do SNPVAC.
O que está em causa?
Para o presidente do SNPVAC, o descontentamento surge a nível humano, social e operacional, destacando ainda a existência de tripulantes em situação de burnout. Para o líder sindical, a TAP tem uma operação semelhante a 2019, sendo que nesse ano em questão a companhia dispunha de mais 20 aviões e 1.400 tripulantes de cabine, pelo que acusa a empresa de má gestão.
Segundo comunicado do SNPVAC citado pela agência Lusa, a TAP formalizou uma proposta mas o sindicato admitiu não ter condições para a analisar no prazo estabelecido. Apesar de a empresa não abdicar de “certas posições”, a proposta foi considerada no imediato “suficiente”, disse o sindicato. Contudo, o sindicato remata que na sequência desta proposta a TAP fez um ultimato para que o SNPVAC antecipasse a auscultação dos seus associados até 22 de novembro, sob risco de a proposta não ser formalizada, algo que foi interpretado como um “braço de ferro”.
Para a companhia, o motivo desta urgência prende-se com a necessidade de “fazer algo devidamente organizado pelos nossos clientes”, pelo que “foi necessário tomar uma decisão agora”, disse a CEO da TAP, razão pela qual a companhia optou por cancelar os voos esta quinta e sexta-feiras. Desta forma, a CEO garante que a empresa “limita o impacto na medida do possível”, dado que é “proativamente” pedido aos passageiros a remarcação dos voos.
Para a CEO, a alternativa seria deixar as pessoas “desesperadas” ao “deixarmos correr as coisas” sem qualquer decisão.