Trabalhadores da TAP só sabem de bónus, prémios e indemnizações quando “calha cair um papel na máquina fotocopiadora errada”

27 abr 2023, 18:14
João Varzielas, dirigente do Sindicato dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STAMA)

Apesar de discordar da privatização, o Sindicato dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STMA) lamenta que o “desnorte” da tutela tenha levado a que se deixasse de perceber, dentro da própria TAP, como são tomadas as decisões. Falta de diálogo é um dos maiores problemas da empresa, onde os trabalhadores têm sido uns “mãos largas” face aos “desaires da gestão”. Mas são deixados elogios a Pedro Nuno

O STAMA reconheceu que a administração da TAP não disponibilizou informação essencial sobre o processo de reestruturação, cortes salariais e situação financeira. Já sobre o pagamento de bónus, prémios e indemnizações só são conhecidos pelos trabalhadores quando “lá calha cair um papel na máquina fotocopiadora errada”.

Na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, o dirigente João Varzielas criticou a pressa para o processo de privatização da companhia, considerando que é “é a maneira mais fácil de passar um passo por cima de tudo” o que aconteceu na transportadora.

“As declarações [políticas] da grandiosidade da TAP não jogam a bota com a perdigota com a pressa do que parece querer ser feito agora amiúde, não se sabe em que moldes, correndo o risco de se cometer os mesmos erros de 2015”, considerou.

Mas, apesar de não defender a privatização, o STAMA também não aprecia o modelo atual de controlo público. Para o dirigente, o “desnorte” com os sucessivos governos levou a que na TAP deixasse de se perceber quais os fluxos de comunicação e de decisão.

Questionado sobre a “ingerência política” na TAP, João Varzielas afirmou que, apesar de a negociação ter de acontecer com o conselho de administração, houve reuniões com o acionista Estado.

“O anterior ministro das Infraestruturas [Pedro Nuno Santos] foi, pela primeira vez, o único político que, sem peneiras, nos disse aquilo que ia fazer ou que era para fazer e quais os objetivos - doesse ou não doesse”, explicou.

Isto porque havia um “gap comunicacional” entre a administração da TAP e os sindicatos. A falta de encontros, argumentou, podia ter levado a “uma situação menos dolorosa do que foi este exercício”.

E houve contacto com Manuel Beja, antigo presidente do conselho de administração? “Só conhecemos o rosto de Manuel Beja nesta comissão”, respondeu.

Sobre a administração, lamentou o bloqueio nas informações necessárias para o processo de negociação. “Os trabalhadores da TAP são uns mãos largas ao longo dos anos para salvar a própria TAP dos desaires da gestão”, considerou.

E, se a administração não dialoga, o conhecimento sobre bónus, prémios e indemnizações vem dos corredores: “Temos conhecimento dos corredores. Não nos é conferido o acesso a esse tipo de documentação. De vez em quando, lá calha cair um papel na máquina fotocopiadora errada e a gente tem acesso a alguma coisa”.

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