Macron veio da China com vontade de ser menos dependente dos EUA - e pede o mesmo aos outros líderes europeus

CNN Portugal , HCL
9 abr 2023, 18:22

Presidente francês diz que teme o risco de os países europeus serem conduzidos para "crises que não são as suas"

Emmanuel Macron apelou aos líderes europeus para que reduzam a sua dependência dos Estados Unidos e evitem ser arrastados para um potencial conflito entre a China e os EUA relacionado com Taiwan. Numa entrevista ao jornal POLITICO concedida a bordo do avião presidencial após uma visita de estado de três dias à China, Macron sublinhou a sua teoria de "autonomia estratégica" para a Europa se tornar uma "terceira superpotência". O presidente francês advertiu também que o "grande risco" para a Europa está em ser apanhado de surpresa por "crises que não são suas". Isto numa altura em que a China enviou dezenas de aviões de guerra para Taiwan pelo segundo dia consecutivo.

Durante a sua visita, Macron passou cerca de seis horas com o presidente chinês, Xi Jinping, discutindo parcerias estratégicas, alterações climáticas, comércio e investimento. O presidente francês apelou também a uma maior cooperação militar entre a UE e independência económica em relação aos EUA. Uma ideia que o governo chinês abraçou e acolheu como exemplo.

A entrevista de Macron veio poucas horas depois de a China ter lançado grandes exercícios militares em torno de Taiwan, que a China reivindica ser seu território mas que os EUA se comprometeram a defender. Estes exercícios aconteceram após uma viagem diplomática da presidente Tsai Ing-wen a países da América Central e aos Estados Unidos, que incluiu um encontro com Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes. 

Fontes ouvidas pelo POLITICO disseram que Macron estava feliz por Pequim ter pelo menos esperado até estar fora do espaço aéreo chinês antes de Xi lançar o exercício denominado "Taiwan encirclement".

Na entrevista, o presidente francês advertiu contra a Europa ser apanhada num potencial conflito entre a China e os EUA sobre Taiwan. "A questão que os europeus precisam de responder... é do nosso interesse acelerar [uma crise] sobre Taiwan? Não. O pior seria pensar que nós, europeus, temos de nos tornar seguidores sobre este tema e tirar a nossa agenda dos EUA e de uma reação excessiva chinesa."

Macron destacou que a relação do Ocidente com a China deve ser gerida cuidadosamente e aconselhou que a escalada de tensões poderia prejudicar esta "autonomia estratégica" da Europa. O líder francês acrescentou que a estabilidade no estreito de Taiwan é de primordial importância e a ameaça do uso da força para alterar o status quo é inaceitável.

Os comentários de Macron refletem a crescente preocupação na Europa com as potenciais consequências de um conflito entre a China e os EUA. Enquanto a China continua a afirmar a sua influência na região, e perante a visita da presidente de Taiwan aos EUA, a União Europeia debate-se com a melhor forma de manter os seus interesses económicos e estratégicos, evitando ao mesmo tempo ser arrastados para um potencial conflito entre as duas superpotências mundiais.

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