Taça: Mafra-Marítimo, 4-2, a.p. (crónica)

Rafael Vaz , Estádio Municipal de Mafra, Mafra
15 out 2022, 17:56

Mafra, alma de primeira

Não é novo, não é de agora, mas convém sublinhar: este Mafra de Ricardo Sousa tem alma de primeira.

Depois da campanha histórica na época passada, o clube da II Liga é o primeiro ‘tomba-gigantes’ da Taça de Portugal 2022/23, depois de eliminar um Marítimo em crise – vitória por 4-2 após prolongamento – que esteve a segundos de conseguir o primeiro triunfo da temporada.

Isto, num jogo, diga-se, digno da Prova Rainha.

O Marítimo, frise-se, carregava o fardo de chegar a este desafio sem qualquer vitória nos nove duelos que havia disputado até aqui, o empate em casa do Boavista, na última jornada, podia servir de catalisador para os homens de João Henriques. Mas não serviu.

Já este Mafra, de Ricardo Sousa, está no 12.º lugar da II Liga, pelo menos neste contexto de Taça, voltou a demonstrar que tem qualidade para se bater com os grandes do futebol português. E isso foi evidente esta tarde.

Um trio que agitou

Os primeiros minutos mostraram um jogo de respeito de parte a parte, sempre muito disputado a meio-campo. No Mafra, os pés esquerdos de Mattheus Oliveira e Pité tentavam desequilibrar na zona central e entre linhas. Na frente, a irreverência de Lucas Rodrigues ia dando dores de cabeça aos defesas insulares.

No Marítimo, a mobilidade do trio da frente, composto por Bruno Xadas, Joel e André Vidigal ia fazendo estragos. Tagueu desequilibrava principalmente com o arrastar de marcação dos adversários, ao passo que Xadas e Vidigal conseguiam agitar através da capacidade técnica.

E neste colete de forças, o primeiro a ganhar vantagem foi o Marítimo.

Um minuto depois de Lucas Rodrigues obrigar Trmal a defesa apertada, os maritimistas responderam da mesma moeda, em contra-ataque, e Xadas e Vidigal cozinharam o 1-0 de Diogo Mendes, aos 22 minutos.

Os acontecimentos dentro das quatro linhas continuaram na mesma toada, e Lucas Rodrigues, quem mais, respondeu ao golo inaugural visitante. Foi em cima do intervalo, depois de o Marítimo até ter ameaçado o 2-0 – de forma tímida, é verdade – por Joel Tagueu.

Foi tudo empatado para o intervalo, e a segunda parte trouxe um jogo diferente.

Sobretudo porque o Mafra, ignorando todo e qualquer estatuto, entrou mandão em campo. Trmal, com maior ou menor dificuldade, evitou o 2-1, e do outro lado as individualidades madeirenses fizeram a diferença. No caso Xadas, que inventou o segundo golo madeirense com um grande passe e finalizou ele próprio após a defesa de Renan ao remate de Chucho.

Karma vestiu de amarelo

E este Mafra, viu-se a época passada, está habituado a estas andanças. Ricardo Sousa mexeu a partir do banco, a sua equipa cresceu e chegou ao golo do empate no último fôlego e… com o karma a dar uma ajuda.

Para contextualizar: Sonora, lançado na segunda parte por João Henriques, viu cartão amarelo aos 90+2 minutos por perder tempo numa reposição de bola. No minuto a seguir, o mesmo Sonora fez uma 

Ora, o karma vestiu de amarelo e segundos depois, Murilo, com um golo de levantar qualquer estádio, enviou o jogo para prolongamento, isto aos 90+5 minutos.

O tabuleiro havia mudado, desequilibrando-se para o lado mafrense, e não mais voltou a endireitar-se. É que o Marítimo ainda não venceu esta época, e esses são fantasmas que não podem esconder-se facilmente.

O golo da reviravolta do Mafra parecia inevitável, mas não chegou nos primeiros 15 minutos do prolongamento, mas chegou depois. A nove minutos do final, Pedro Lucas inspirou-se, não pediu licença e imprimiu o bilhete do Mafra para a quarta eliminatória da Prova Rainha, carimbado pouco depois com o bis de Murilo, aos 115 minutos, que acabou, em definitivo, com a curta caminhada do Marítimo na Taça.

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FICHA DE JOGO

Estádio Municipal de Mafra

Árbitro: Nuno Almeida

Assistentes: Pedro Felisberto e Hugo Ribeiro

4.º árbitro: Daniel Martins

MAFRA: Renan, Bura (Fati, 62m), Pedro Pacheco e João Goulat; Diga (Diogo Almeida, 78m), Mattheus Oliveira (Pedro Barcelos, 91m), Leandrinho, Léo Cordeiro e Gui Ferreira (Pedro Lucas, 73m); Lucas Rodrigues (Murilo) e Pité (Vítor Gabriel (78m).

MARÍTIMO: Trmal, Rafael Brito (João Afonso, 30m), Matheus Costa e Léo Andrade; Cláudio Winck, Beltrame (Gonçalo Cardoso, 57m), Diogo Mendes (Sonora, 73m) e Vítor Costa; Xadas (Edgar Costa, 73m), Vidigal e Joel Tagueu (Chucho, 57m).

Ao intervalo: 1-1

Marcadores: Diogo Mendes (22m), Lucas Rodrigues (43m), Xadas (60m), Murilo (90+5m), Pedro Lucas (111m) e Murilo (115m).

Disciplina: cartão amarelo a Matheus Costa (12m), Gui Ferreira (16m), Diga (65m), Edgar Costa (89m), Sonora (90+2m e 90+3m), André Vidigal (95m) e Vítor Gabriel 107m); cartão vermelho a Sonora (90+3m).

Resultado final: 4-2 (após prolongamento)

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