FC Porto-Sporting: quase um século de histórias de finais até esta estreia

25 jan 2019, 12:07
FC Porto-Sporting

Uma decisão de Taça da Liga inédita, mas para trás há muitas decisões entre ambos. Finais e finalíssimas. Repetidas, discutidas e marcadas pelo equilíbrio, ainda que com vantagem recente do leão. Histórias e memórias

FC Porto-Sporting é uma final da Taça da Liga inédita, um clássico que levou 12 anos para acontecer na mais jovem prova do calendário nacional. No sábado terá o dragão à procura de levantar o troféu pela primeira vez e o leão a tentar revalidar o título. Mas para trás há muitas histórias de decisões entre ambos. Finais e finalíssimas. Repetidas, discutidas e marcadas pelo equilíbrio, ainda que com vantagem recente do leão. 

Foram até hoje quatro finais da Taça de Portugal, três delas com direito a finalíssima, duas vitórias para cada um. E antes disso três finais do Campeonato de Portugal, todas ganhas pelo FC Porto. Houve ainda quatro Supertaças, duas delas a precisarem também de jogo de desempate e todas ganhas pelo Sporting.

Para a Taça da Liga houve três confrontos até hoje, dois deles a eliminar e com vantagem para o Sporting. A primeira vez foi em 2008/09, uma meia-final que jogou numa fase quente do campeonato, em fevereiro. O FC Porto, com jogo frente ao Benfica daí por poucos dias e no meio de um imbróglio de calendário na marcação da outra meia-final, entre os «encarnados» e o V. Guimarães, apresentou uma equipa de segunda linha, que viajou para Lisboa de comboio. Venceu o Sporting por 4-1. O segundo duelo de Taça da Liga foi para a fase de grupos, em 2013/14, e acabou 0-0. Depois foi o clássico da época passada, o 0-0 que o Sporting acabaria por vencer nos penáltis.

Mas isto vem muito de trás. FC Porto e Sporting já decidem finais há quase um século. Era 1922 quando se encontraram pela primeira vez para decidir o Campeonato de Portugal. Nessa primeira edição da prova original do futebol português entraram só os dois, como campeões distritais. Jogou-se a primeira mão no Campo da Constituição, com vitória do FC Porto por 2-1 (recorde aqui essa final inaugural), depois no Campo Grande e o Sporting empatou a decisão. Houve finalíssima, a primeira de uma série delas, já lá vamos. Foi no Campo do Bessa, a 18 de junho, e o FC Porto venceu por 3-1.

Desde que o Campeonato de Portugal deu lugar à Taça de Portugal, em 1938, é preciso avançar muito no tempo para voltar a encontrar nova final entre ambos. Foi já depois da Revolução e também foi preciso ir a desempate. Em junho de 1977/1978, com o FC Porto de José Maria Pedroto em festa, acabado de conquistar o título nacional, após um jejum de 19 anos, num campeonato que disputou até ao fim com o Benfica: acabaram iguais, o dragão levou a melhor na diferença de golos e o Benfica foi um segundo classificado invicto, único até hoje.

O FC Porto chegou também à final da Taça de Portugal e pela frente tinha o Sporting. No Jamor, Fernando Gomes adiantou o FC Porto aos 48 minutos, o Sporting empatou logo no minuto seguinte com um golo do brasileiro Paulo Meneses, um lance contestado pelos dragões. As coisas azedaram, no campo e nas bancadas, o jogo acabaria por ir para prolongamento mas não desempatou. A finalíssima jogou-se uma semana mais tarde, a 24 de junho, e levou a melhor o Sporting, num jogo decidido na segunda parte. Marcaram Vítor Gomes e Manuel Fernandes pelos leões e Seninho reduziu para o FC Porto a 10 minutos do fim.

1994, uma finalíssima surreal e a Supertaça em Paris

A final seguinte entre FC Porto e Sporting só aconteceu em 1994 e deu muito que falar. E sim, deu mais uma finalíssima. No banco dos dragões Bobby Robson, no outro o seu sucessor em Alvalade, Carlos Queiroz, depois de uma mudança agitada a meio da época e do título ganho pelo Benfica na sequência do célebre 6-3 em Alvalade. A final acabou 0-0, num jogo quezilento. Em campo, a finalíssima foi um jogo melhor, também decidido apenas no prolongamento. Rui Jorge, então dragão, abriu o marcador, Vujacic empatou para o Sporting e tudo acabou por decidir-se num penálti de Aloísio. 2-1 para o FC Porto e o que se seguiu só visto. Um enorme tumulto nas bancadas, pedras a voar, João Pinto a brandir a Taça para as desviar e a então ministra da educação, Manuela Ferreira Leite, a precisar de proteção.

Carlos Secretário estava em campo pelo FC Porto e recorda esse dia. «Foi uma enorme confusão no final. Eu acho que consegui ir lá acima à tribuna, mas não sei se fomos todos», diz o agora treinador do Créteil ao Maisfutebol, sem conseguir recordar exatamente o que desencadeou a confusão: «Sinceramente, não me lembro.»

«Eram outros tempos», diz Secretário: «Acontecia muita coisa. Hoje não acontece, sobretudo dentro dos estádios. Pode haver atritos, mas é diferente. Os estádios também são melhores. Isso melhorou no futebol português, há muitas outras coisas que têm de melhorar, mas há-de ser com o tempo.»

Esse jogo está aqui

E o que se passou a seguir, aqui

O filme seguiu com a Supertaça de 1994/95, marcada para o verão. Jogava-se a duas mãos e começou em Alvalade, num 0-0. Seguiu com um 2-2 no FC Porto e um desempate em aberto. Depois de muitos avanços e recuos acabou por ser marcado para abril. Em Paris, onde FC Porto e Benfica já tinham decidido a Supertaça na época anterior. Ganhou o Sporting, com bis de Sá Pinto e mais um golo de Carlos Xavier.

Secretário também esteve nessa decisão e recorda o bom ambiente no Parque dos Príncipes, apesar de na altura a mudança da Supertaça para Paris ter levantado muitas críticas. «A primeira tinha sido com o Benfica, o estádio estava cheio, foi bonito. Com o Sporting também, apesar de termos perdido. Agora que também sou emigrante, no fundo, sinto a paixão que as pessoas sentem pelo país. Por vezes vão a um jogo, mesmo não sendo adeptos dessa equipa, só por ser uma equipa portuguesa.»

2000, finalíssima para o FC Porto e depois vantagem verde e branca

Em 2000 chegou nova final da Taça de Portugal entre o Sporting, uma semana depois de se ter sagrado campeão nacional ao fim de 18 anos sem festejar o título, e o FC Porto, segundo classificado. E sim, jogaram nova finalíssima depois de um empate a um golo na final, com golos de Jardel para os «dragões» e Pedro Barbosa para os «leões». Uma semana depois, a decisão foi para o FC Porto, que venceu 2-0 com golos de Clayton e Deco.

Daí até hoje, o Sporting levou a melhor em quatro disputas de título com o FC Porto, a começar na Supertaça de 2000, que durou até meio de 2001. Foi a última edição a duas mãos e a primeira, ainda em agosto nas Antas, acabou 1-1. Só se arranjou espaço no calendário para jogar a segunda mão em janeiro. Foi um 0-0 e portanto havia outro desempate para marcar. Foi atirado para maio, em Coimbra, e decidido a favor dos «leões» num golo de Beto Acosta.

Antes daquela que foi até agora a última final entre leões e dragões ainda houve nova Supertaça. O Sporting de Paulo Bento, vencedor da Taça em 2007, venceu o FC Porto campeão, com Jesualdo Ferreira no banco, graças a um golo solitário de Marat Izmailov.

No ano seguinte houve nova final da Taça de Portugal entre FC Porto e Sporting. E houve Rodrigo Tiuí, o avançado brasileiro que saiu do banco para jogar o prolongamento, depois do 0-0 nos 90 minutos, e bisou para resolver a final.

O Sporting também levou a melhor na Supertaça seguinte, um triunfo por 2-0 com bis de outro herói improvável, Yannick Djaló, naquela que foi a última decisão entre águias e dragões com um troféu em jogo.

Passaram mais de 10 anos e cá estão eles. Mais uma final, mas ao fim de todo este tempo com algo de novo em jogo. Ainda e sempre.

(Artigo originalmente publicado às 23:50 de 24-01-2019)

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